Folha de S. Paulo |
25/5/2006 |
A economia mundial passa pelo mesmo processo do começo do século 20, uma série infindável de crises O JOGO de juros-câmbio não tem a racionalidade que procuram lhe imputar, ao assegurar que os "fundamentos" da economia são suficientes para impedir maiores volatilidades. Quando se entra em processo continuado de apreciação do real, a reação do investidor é a seguinte: 1) Suponha um investidor que traga US$ 10 milhões com o câmbio a R$ 2,40. Em reais, serão R$ 24 milhões. 2) Nos EUA, ele receberia uma remuneração de 5,5% ao ano. Ao final de 12 meses, seu saldo seria de US$ 10,55 milhões. No Brasil, a remuneração da Selic seria de 15,5%. Ao final de 12 meses, teria um saldo de R$ 27,6 milhões. 3) O lucro dependerá do movimento do câmbio. Se o câmbio continuar em R$ 2,40, o ganho do investimento no Brasil será 9% superior ao americano. 4) Se o real se apreciar 10%, o ganho do investidor americano seria de 21,1% sobre a aplicação nos EUA. É essa expectativa que produz um aumento do fluxo de dólares para o país assim que se delineia um quadro de apreciação da moeda, sem que o governo intervenha. Ao mesmo tempo, a apreciação do real faz com que um número maior de empresas deixe de fazer "hedge" cambial (operações de defesa contra a desvalorização do real). Há um aumento na oferta em dólares, uma redução na demanda, e o resultado é mais desvalorização do dólar e apreciação do real. O limite para essa apreciação é dado pelos efeitos do câmbio sobre a atividade produtiva e por movimentos externos de alta dos juros. Vamos ver, agora, o movimento inverso, de desvalorização do câmbio. 1) O investidor traz US$ 10 milhões com o dólar a R$ 2,10, o que corresponde a R$ 21 milhões. 2) Ao final de 12 meses, o investimento, nos EUA, estaria em US$ 10,55 milhões; no Brasil, em R$ 24,15 milhões. Se o real se desvalorizar em 15% e o dólar for a R$ 2,41, na hora de converter em dólares, o investidor terá os exatos US$ 10 milhões que trouxe. E registrará uma perda de 5,21% em relação à aplicação nos EUA. 3) Bancos que estavam vendidos em dólar (isto é, vendiam para entrega futura confiando em que iria continuar caindo) mudam a mão e passam a ficar "comprados" (isto é, apostando na alta). Aí, entram os efeitos colaterais desses movimentos. Os grandes "players" mundiais atuam em diversos mercados. Quando ficam a descoberto (sem ter a mercadoria para entregar) no mercado de dólar, por exemplo, são obrigados a desfazer de posição em outros mercados para cobrir o prejuízo. Cria-se um efeito cascata, uma cadeia de transmissão que vai atingindo sucessivamente diversos mercados. Em geral, o processo pára quando os diversos ativos ou ficam caros demais (levando à venda deles) ou baratos demais (levando à compra). A economia mundial passa pelo mesmo processo do começo do século 20, uma série infindável de crises que só se resolve com o crack de 29 e com a crise de 1933. O problema é que não dá para ter certeza se o próximo soluço trará a crise final do modelo ou se deixará para o próximo. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, maio 25, 2006
Luís Nassif - Aguardando o próximo soluço
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