artigo |
O Estado de S. Paulo |
26/5/2006 |
*Dionísio Dias Carneiro, professor do Departamento de Economia da PUC-Rio, é diretor do Instituto de Estudos de Política Econômica (Iepe/CDG) Os mercados financeiros sofreram, nos últimos dias, mais um episódio de movimentos bruscos de preços, daqueles capazes de causar não apenas grande redistribuição de riqueza financeira, mas também uma substancial destruição de riqueza. Em parte, esses movimentos decorrem da correção de exageros nos investimentos reais, estimulados por projeções insustentáveis de crescimento mundial, de preços de commodities e de custos de financiamento. Em parte, os movimentos corretivos resultam da descoberta de que, afinal, a Ben Bernanke pode faltar a experiência de Alan Greenspan como banqueiro central mundial, apesar de seu preparo acadêmico e experiência de governo. Tais movimentos costumam ser agravados pelo redirecionamento das posições dos agentes e gestores de carteiras, a partir de análise mais realista dos fatores de sustentação da liquidez. As discussões acerca das causas mais importantes por trás desses movimentos bruscos de preços continuarão a existir no futuro. A cada episódio, os especialistas conseguem entender aspectos novos das operações financeiras, mecanismos de propagação pelos mercados cambiais e pelos mercados de renda fixa em todo o mundo. No calor dos movimentos bruscos, identifico quatro perguntas interessantes para as perspectivas de curto e de longo prazo da economia brasileira. A primeira, natural às vésperas de uma reunião do Copom, é: o que o Banco Central deveria fazer diante de um movimento desses? Talvez a maioria dos analistas aponte, pelas mais diversas razões, a interrupção da queda dos juros, diante das novas incertezas. Confesso que a única razão para alterar a queda dos juros, que identifico, seja a projeção de inflação acima da meta para os próximos 12 a 18 meses. A depreciação que já ocorreu terá efeito primário pequeno sobre a inflação dos próximos trimestres, portanto, só mesmo se projetarmos efeitos secundários importantes, por conta de repasses, seriam justificados juros acima daquilo que os mercados já sinalizam para horizontes mais longos. Na realidade, há evidência de que o coeficiente de repasse já diminuiu muito, como fruto da estratégia de metas. Deve o Banco Central intervir no mercado de câmbio? Vendas de reservas podem servir como "quebra-molas" nos momentos em que as velocidades de depreciação sejam identificadas como geradoras de turbulência desnecessária. Essa possibilidade deve ser mantida, mas não creio que, diante do grau de apreciação anterior e das manifestações de desconforto do governo quanto à taxa de câmbio real que se vinha definindo, deva haver intervenção direta capaz de sinalizar taxas desejadas. Isso pode estar mais difícil de se fazer depois das estripulias verbais do ministro da Fazenda, para não falar do seu senso de timing, pois, em pleno processo de depreciação, falava em mecanismos para depreciar mais. Finalmente, deve o Banco Central falar mais para acalmar os agentes? Se o ministro da Fazenda, ao contrário de todos os seus antecessores, não falasse tão compulsivamente em câmbio e juros, a resposta seria sim. No caso atual economizar embaraços e conflitos é mais recomendável, especialmente porque o Tesouro está fazendo o que pode para impedir a reversão do alongamento da dívida pública. Reafirmar a flutuação cambial nunca é demais. A segunda pergunta é: estamos mesmo preparados para enfrentar a fúria dos ventos? A resposta depende, evidentemente, da força do vendaval. Não creio que estejamos diante do grande cataclismo mundial, de modo que, para a turbulência que enxergo, a resposta é sim. A terceira pergunta é: a liberalização anunciada é para valer? Este será um bom teste para a coerência da Fazenda. Finalmente, a pergunta mais perigosa é: terá valido a pena ser "bem-comportado"? Esta pergunta merece um artigo à parte. No ambiente atual, os países mais bem-comportados, por terem atraído investidores externos na esteira do excesso de liquidez mundial e se haverem beneficiado dos exageros, talvez sofram movimentos de preços de ativos e câmbio mais pronunciados. O que preocupa é a deterioração da governança associada aos conflitos abertos pela Fazenda, sinalizando uma piora de política para um eventual Lula II. Isso, sim, pode converter uma turbulência de curto prazo num reposicionamento dos investidores de longo prazo para longe do risco brasileiro. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, maio 26, 2006
Mudanças de ventos, o que (não) fazer? - Dionísio Dias Carneiro
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