Vinhos, viagens e restaurantes reforçam imagem elitista dos tucanos
O PSDB até tem o direito de achar que o deputado Alberto Goldman, também tucano, não agiu como um companheiro leal ao fazer críticas públicas às andanças folgazãs e às exorbitâncias verbais da cúpula do partido.
Mas o partido estará se iludindo se acreditar de verdade que Goldman, como disse o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, fez "declarações absurdas" a respeito da impropriedade nas ironias e principalmente da inadequação de os dirigentes tucanos se exibirem constantemente em situações de lazer ligeiro enquanto na campanha presidencial grassa o desânimo e a desorganização.
No auge da disputa interna entre José Serra e Geraldo Alckmin pela indicação à candidatura a presidente, Tasso Jereissati, Aécio Neves e Fernando Henrique Cardoso foram fotografados bebendo vinhos caros em restaurante de luxo.
Depois, enquanto o crime organizado anarquizava São Paulo e feria o discurso da competência administrativa de Alckmin, os três passeavam em Nova York.
Convenhamos, não são as melhores imagens a serem patrocinadas por dirigentes de um partido envolvido numa luta política em que sua principal tarefa é conquistar votos no eleitorado mais popular.
Não que se imagine que a cúpula tucana vá ganhar apoio popular dando-se ao desfrute marqueteiro de freqüentar botequins e simular pobreza. Políticos em geral - incluindo os do PT - fazem reuniões em restaurantes, aproveitando almoços e jantares para conversar.
Mas no caso do PSDB não faria mal ao partido prestar um pouco de atenção às críticas do deputado Goldman que, embora não tenham sido feitas em tom amigável, se bem aproveitadas e interpretadas podem funcionar como um providencial "quem avisa amigo é".
Em campanha eleitoral, imagem é quase tudo. Basta ver o que tem feito ao desempenho de Geraldo Alckmin a ausência de um perfil bem definido com feição clara de alternativa.
Se, no pano de fundo, os companheiros de jornada ainda aparecem na fotografia como personagens fellinianos em atuação de Os Boas-Vidas em sua Doce Vida, aí mesmo é que fica difícil pretender desvendar os mistérios contidos na identificação de Luiz Inácio da Silva com o povo comum.
Volta volver
Dois ministros, o da Justiça e o da Agricultura, já informaram ao presidente Lula que, em caso de reeleição, não voltariam a integrar a equipe ministerial.
Márcio Thomaz Bastos e Roberto Rodrigues têm convicção na vitória de Lula, mas acham que já deram sua cota ao País. Bastos ainda gostaria de colaborar com o governo, funcionando como uma espécie de conselheiro informal.
Não se recusaria também - ao contrário - a participar da indicação de seu eventual sucessor. Tem até candidatos, embora guarde em sigilo os nomes. A razão alegada por Thomaz Bastos é o desejo de retomar a vida "normal" em São Paulo, pois, embora goste do cotidiano profissional em Brasília, acha a rotina pessoal maçante.
Roberto Rodrigues pretende se dedicar a atividades acadêmicas e já tem até um convite para passar uns tempos em Nova York, na Universidade de Columbia.
Briga antiga
Os desaforos trocados pelo senador Antonio Carlos Magalhães e o governador Cláudio Lembo - este um "burro" na opinião daquele e aquele um "senhor de engenho" na visão deste - não são fruto de briga nova.
Os dois ficaram de lados opostos na escolha do vice de Alckmin no PFL, mas em 2004 já haviam se estranhado bravamente quando Lembo apoiou a candidatura de José Serra à Prefeitura de São Paulo e ACM queria que o pefelê apoiasse Paulo Maluf.
Três tempos
Disciplina e paciência deveriam ser as palavras de ordem a conduzir a campanha de Alckmin, dizem experientes especialistas em comunicação política.
Exatamente os dois atributos que mais têm faltado aos parceiros da aliança PSDB-PFL.
Sem ordem e calma os oposicionistas dificultam a execução das três fases que, segundo os analistas, devem ser cumpridas para Alckmin ter chance de chegar ao segundo turno: conquistar a simpatia do eleitor, ser ouvido por ele e, finalmente, percebido como possibilidade presidencial.
Rima rica
A pronúncia "Álckmin" não combina com as toadas com que a militância tucana tem recebido o candidato em outros Estados, principalmente do Nordeste.
Observadores atentos apontam a impossibilidade de combinar o acento paulistano com os versos "Ô Alckmin, cadê você, eu vim aqui só pra te ver" e "Um, dois, três, quatro, cinco, mil, é Alckmin pra presidente do Brasil".
A rima só sai se o Geraldo em questão for chamado de "Alckmín". Daí, há conselheiros do tucanato sugerindo a rápida adoção do acento na última sílaba.