Entrevista:O Estado inteligente

sábado, maio 27, 2006

CELSO MING Falha dos bancos centrais (1)

Falha dos bancos centrais (1)

ming@estado.com.br

Banco central existe para defender o valor da moeda. Como o câncer de
qualquer moeda é a inflação, segue-se que o objetivo mais importante
de qualquer banco central é atacar implacavelmente a inflação. Ou
seja, os bancos centrais devem perseguir a estabilidade de preços.

A novidade é que se consolida a percepção entre os especialistas de
que o ataque à inflação pelos grandes bancos centrais está produzindo
enormes bolhas financeiras, que, mais dia menos dia, estouram e nesse
movimento produzem destruição de riqueza. Pior que isso, desembocam em
inflação, justamente o que os bancos centrais pretendiam evitar.

O principal estudo nesse sentido foi publicado em abril no site do
Bank for International Settlements (BIS), com sede na cidade de
Basiléia, Suíça. Foi apresentado pelo seu economista-chefe, William R.
White. Nesta semana, o trabalho foi muito festejado por dois dos mais
competentes analistas econômicos internacionais: Stephen Roach, do
Morgan Stanley, e Martin Wolf, do jornal Financial Times. (O paper de
White, Is price stability enough?, em inglês e acessível ao longo de
18 páginas, pode ser obtido no endereço eletrônico
www.bis.org/publ/work205.pdf.) Não deixa de ser sugestivo que
políticas consagradas dos bancos centrais comecem a ser questionadas
por gente do próprio BIS, que deve funcionar como banco central dos
bancos centrais.

O problema decorre em parte da própria noção de inflação. Ninguém mais
discorda de que a inflação é um fenômeno preponderantemente monetário.
As pessoas comuns imaginam que inflação acontece "quando as coisas
aumentam de preço". Acham, portanto, que é a própria variação dos
preços. Mais pertinente é dizer que inflação é dinheiro perdendo valor
(principalmente em conseqüência das emissões de moeda que o governo
usa para pagar despesas públicas). Tanto é dinheiro perdendo valor
que, em tempos de inflação, é preciso de cada vez mais dinheiro para
comprar a mesma coisa.

Há uma pá de razões pelas quais a inflação deve ser combatida. Uma
delas é a de que, a longo prazo, não há crescimento econômico
sustentável sem controle da inflação. Para isso, o banco central usa a
válvula que regula o volume de dinheiro na economia. Se entende que é
preciso combater a inflação, retira dinheiro e os juros (o preço do
dinheiro) sobem porque essa mercadoria escasseou. Se entende que a
inflação está dominada, injeta dinheiro na economia e os juros caem. É
assim que funciona.

Um dos problemas que vêm aparecendo nesse mecanismo decorre de como a
inflação é medida. Em geral toma-se o custo de vida, ou seja, o cestão
de mercadorias e serviços adquiridos pela média da população. No longo
prazo, observa White, importa pouco como a inflação é medida porque a
evolução dos índices tende a convergir. Mas a curto prazo isso pode
trazer problemas.

É que estão em movimento fatos novos impressionantes que vêm
concorrendo para a redução da inflação: o uso intensivo da Tecnologia
da Informação, o barateamento dos computadores, o forte crescimento do
comércio exterior e a incorporação ao mercado de trabalho de
mão-de-obra baratíssima, o que derrubou os preços dos produtos
asiáticos.

(Continua amanhã.)

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