O Globo |
26/5/2006 |
Problemas sociais e políticos têm raízes nem sempre visíveis ou óbvias. Sem admitir sua existência e investigá-las costuma ser bastante complicado restaurar algo parecido com a normalidade. No caso da violência urbana, um desses fatores está na geografia. Em São Paulo, as comunidades miseráveis não estão fisicamente entranhadas no mundo da classe média e dos ricos. Aqui, um assaltante pode atacar sua vítima no coração luxuoso de Ipanema e estar a dez minutos dos becos impenetráveis de uma favela. A rota de fuga de quem fizer o mesmo na Avenida Paulista é bastante mais complicada. Mas a gravidade do problema em São Paulo, por aparecer menos na mídia destinada às classes A e B, não há de ser menor por isso. Só mais disfarçada. Principalmente se os governos locais se beneficiam com essa ilusão. A recente explosão de violência urbana, se acontecesse no Rio, seria, claro, tão traumática como o que aconteceu em São Paulo. Com uma diferença: lá, as autoridades podem tentar minimizar e disfarçar. E não há mais significativo exemplo disso do que o comportamento do governo estadual em relação à identificação do número e da folha corrida das pessoas mortas na reação policial à onda de violência iniciada pela blitzkrieg de bandidos contra policiais (e quem mais estivesse no caminho), que, por sua vez, teve como estopim a acertada decisão de isolar a cúpula da bandidagem organizada em penitenciárias de máxima segurança e mínimos privilégios. (Registre-se, como ponto a favor dos paulistas na nossa especialmente ridícula rivalidade, que isolamento semelhante seria impossível acontecer aqui, com nossos estabelecimentos de segurança mínima — ou nenhuma). A demora na identificação das vítimas da desforra dos policiais paulistas sugere a morte de inocentes e a possibilidade de que bandidos tenham sido executados quando poderiam ser presos. Acabou saindo uma lista com 110 nomes (que hoje já pode ser outra). Seriam 79 bandidos envolvidos na blitz determinada pelo chefão Marcola; dezessete, abatidos em circunstâncias oficialmente definidas como "preventivas" (gente demais para ser baleada "preventivamente", seja isso o que signifique em policialês). Sobrariam 31 flagrados em outros crimes. Não é possível garantir que seja uma relação manipulada. Mas não cheira bem. Claro, a transferência de Marcola e seus lugares-tenentes para um estabelecimento de máxima segurança era necessária. O primeiro erro oficial surgiu com a negociação, negada, mas bastante provável, para o fim da matança de policiais. Há também a novela (de mau roteiro) dos televisores para os bandidões internados em estabelecimentos de segurança máxima verem a Copa do Mundo. Ainda que a concessão nada tenha a ver com a crise, uma coisa é certa: conversar com esse tipo de criminoso, mesmo que nada se conceda, representa a aceitação oficial de seu poder e de sua liderança. Aumenta a sua autoridade no submundo. Tudo isso é triste demais, e seria vergonhoso para os cariocas sentirem algum prazer na desmoralização dos organismos paulistas de segurança. Como dizem os assaltantes a suas vítimas, perdemos. Todos perdemos. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, maio 26, 2006
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