Na edição de ontem, esta coluna iniciou comentário sobre o debate internacional suscitado em plena crise global sobre a função dos bancos centrais. A principal afirmação do economista-chefe do Bank for International Settlements (BIS), William R. White, é a de que os grandes bancos centrais podem estar concorrendo para acirrar a crise, em vez de acabar com ela.
O estrago provocado pela inflação pode ser causado também pela deflação, que é a baixa sistemática de preços. Basta mencionar dois problemas: o adiamento das compras, no pressuposto de que a mercadoria ficará mais barata lá na frente, tende a desembocar em recessão e queda da arrecadação (aumento do déficit público). É por essas e outras que os bancos centrais fogem da deflação.
Uma das conseqüências desse entendimento é a de que, nas economias avançadas, uma inflação de 2% ao ano é considerada saudável. Entre outubro de 2001 e março de 2005, a inflação permaneceu entre 2% e 3% ao ano. Como o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) queria evitar tanto a inflação como a deflação, manteve nesse período os juros em níveis reais negativos (abaixo da inflação). Com fartura de dinheiro e de crédito, começaram a surgir as bolhas: disparada das bolsas; especulação imobiliária; aplicações em commodities e corrida aos títulos de países emergentes.
Uma das características das bolhas é sua auto-alimentação. O sujeito pega dinheiro no banco para comprar ações; as ações se valorizam porque muita gente faz a mesma coisa e a valorização das ações serve de garantia para nova tomada de empréstimos e, portanto, para a compra de mais ações. Substitua ações por qualquer outro ativo; a lógica é a mesma.
O que White está dizendo é que esses ativos não figuram no cestão do custo de vida. Se disparam os preços das commodities metálicas ou dos imóveis, isso é captado apenas marginalmente. Assim, o crédito abundante e barato comandado pelas políticas de juros não leva em conta o encarecimento desses "artigos" e, portanto, pode concorrer para a formação dessas bolhas, que um dia estouram e produzem um grande número de vítimas. Na semana passada, aparentemente assistimos a um ensaio de um estouro de bolha. Como o tratamento das bolhas não é parte inerente das políticas monetárias convencionais, alguns presidentes de banco central têm preferido atacá-las com discursos. A tal "exuberância irracional" inventada por Greenspan foi um jeito de advertir que a corrida exacerbada às ações poderia produzir um desastre.
Ocorre que nem sempre à frente de um banco central se pode contar com um gigante em credibilidade como foi Greenspan. Segue-se - e isso é o que está sugerido no artigo de White - que, na execução da política monetária, não basta os bancos centrais ficarem de olho na inflação. É necessário que levem em conta as bolhas e as corridas irracionais.
As coisas não terminam aí. É preciso saber como pode ser feito na prática. Como a principal causa de inflação brasileira continua sendo o déficit público, cabe perguntar também até que ponto o Banco Central do Brasil deve continuar de fora quando a turma da gastança ganha força no miolo do comando da política econômica e põe em risco a estabilidade.
Entrevista:O Estado inteligente
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domingo, maio 28, 2006
Falha dos bancos centrais (2)Celso Ming
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