O Globo |
30/5/2006 |
Tem as digitais do governador mineiro, Aécio Neves, do PSDB, a provável confirmação de José Alencar como vice na chapa de reeleição de Lula. Com impressionantes 70% de intenção de votos nas pesquisas eleitorais, o governador de Minas caminha para a reeleição como um dos principais atores da campanha eleitoral para presidente, manipulando bem as negociações políticas não apenas no seu lado como interferindo diretamente na campanha de Lula, a quem serve de ponte de interlocução em meio a uma disputa que pode vir a ser sangrenta. Aécio atua nesse jogo político como um dos principais líderes tucanos e como um objeto de desejo não exatamente do PT, mas do presidente Lula, que já reiterou diversas vezes, inclusive para o próprio, que Aécio pode vir a ser uma alternativa como seu sucessor após um segundo mandato. O fato de Aécio ter uma aprovação espetacular em seu estado, o segundo maior colégio eleitoral do país, e não transferir essa popularidade para os candidatos a presidente do PSDB, faz com que seja acusado de não se empenhar nas campanhas, com vistas a não ter concorrentes em 2010 dentro do partido. De fato, em 2002 Aécio foi eleito no primeiro turno com 57,7% dos votos, enquanto o candidato de seu partido na ocasião, José Serra, ficou com parcos 22%. Ganhou Lula, com 53% dos votos mineiros. Este ano, o cenário se repete, com a agravante de que Aécio ampliou sua popularidade, chegando a 70% das intenções de votos. Já Geraldo Alckmin aparece com 17% nas pesquisas, enquanto Lula está com 49%. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ao ser perguntado sobre uma aparente falta de empenho dos principais líderes tucanos em relação à candidatura de Alckmin, tem dito que transferir votos é muito difícil: "O candidato é que tem que dizer a que veio", afirma. Aécio assumiu como tarefa sua organizar em Belo Horizonte a convenção partidária que oficializará a candidatura de Geraldo Alckmin, no dia 11 de junho, como maneira de dissipar desconfianças de que não esteja se empenhando. Mas nos bastidores está atuando até mesmo para influenciar na chapa de Lula à Presidência. É verdade que faz isso em benefício próprio, mas é verdade também que tem proximidade política para fazê-lo. Com o PSB tendo fechado acordo para compor a coligação de Lula, o candidato a vice mais provável seria o ex-ministro Ciro Gomes. Tanto porque Lula gostaria de se ver livre de José Alencar quanto porque gosta muito do estilo agressivo de Ciro Gomes e queria tê-lo a seu lado enquanto posa de "Lulinha, paz e amor". A escolha de Ciro, porém, o transformaria automaticamente em candidato à sucessão de Lula na Presidência em 2010, o que se choca com as pretensões de Aécio, e também com as do PT, que ainda sonha em ter seu próprio candidato. Preterido por Ciro, o vice José Alencar teria que se deslocar para tentar a única vaga de senador que estará em disputa, o que desarrumaria a armação política que Aécio havia montado no estado, com o ex-presidente Itamar Franco como candidato a senador pelo PMDB, com o apoio informal tanto do PSDB quanto do PT. Se essa equação fosse desfeita, todo um arranjo político mineiro estaria ameaçado, e a campanha poderia tomar um rumo diferente. Ao mesmo tempo, o governador Aécio Neves, do alto de sua popularidade, está disposto a impor aos políticos mineiros uma solução heterodoxa para sua própria chapa, o ex-ministro do Supremo Carlos Velloso, o que está provocando pequenos terremotos na política mineira. A disputa pela vaga de vice de Aécio ganhou importância devido ao fato de que ele quase certamente deixará o governo de Minas antes do fim do segundo mandato para se candidatar. O vice ficará no cargo de governador por oito meses e será automaticamente candidato à reeleição. O atual vice é Clésio Andrade, presidente da Confederação Nacional de Transportes, que foi sócio do lobista Marcos Valério e já não desfruta da afinidade política de Aécio para pleitear continuar no cargo. Escolhendo como seu vice o ex-ministro do Supremo Carlos Velloso, Aécio está apenas seguindo uma onda recente na política brasileira. Diante do desgaste da classe política, o Poder Judiciário está sendo visto como um bom celeiro de candidatos com credibilidade pública. Também o presidente Lula gostaria de ter como seu companheiro de chapa o ex-presidente do Supremo Nelson Jobim, que se filiou ao PMDB de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e permanece como a principal alternativa de candidato a vice-presidente caso o PMDB aprove uma coligação formal com o PT, o que parece impossível de acontecer. Outros ministros às voltas com campanhas eleitorais são o ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça, Edson Vidigal, candidato a governador do Maranhão; e o ex-ministro do Supremo Mauricio Correia, que é candidato do PMDB ao Senado e já aspirou a ser candidato ao governo do Distrito Federal, ou até mesmo a presidente da República. Essa "politização" dos tribunais superiores, ao contrário de dar credibilidade à política, pode se transformar em mais um fator de sua desmoralização. Com exceção de Carlos Veloso, todos os outros foram políticos escolhidos para os tribunais superiores sobretudo por seus vínculos políticos com os governos que os indicou. Todos foram acusados em algum momento de politizarem suas decisões no exercício do cargo, e todos voltaram a se filiar a partidos políticos imediatamente depois de se aposentarem dos tribunais superiores onde atuavam. Os juízes têm um prazo maior para deixarem os cargos e se filiar a partidos políticos — a chamada "Lei Pertence", aprovada em 1998 quando o ministro Sepúlveda Pertence, ainda hoje atuando no Supremo, foi cogitado para disputar a Presidência da República. O correto seria que se submetessem a uma "quarentena", como já fazem os funcionários públicos com cargos no Executivo. |
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