Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, maio 25, 2006

Dora Kramer - Polarização perdida

 


O Estado de S. Paulo
25/5/2006

No governo há campanha sem candidato, na oposição há candidato, mas falta a campanha

Governo e oposição reagiram à pesquisa CNT/Sensus que confirma o favoritismo do presidente Luiz Inácio da Silva e corrobora a queda de Geraldo Alckmin, já registrada em consulta anterior ao eleitorado de São Paulo, dentro dos limites dos respectivos papéis.

O ministro Tarso Genro fazendo de conta que os números não autorizam comemorações e o PSDB simulando indiferença aos resultados negativos, posando de confiante no crescimento do candidato quando o horário eleitoral de rádio e televisão vier.

No tocante ao cenário real, a prudência do ministro soa um tanto artificial - visto que os números são ótimos para quem protagonizou a crise que o governo protagonizou -, mesmo ele tendo razão de manter de público o freio do entusiasmo devidamente engatilhado.

Não foi uma nem foram duas as vezes em que o PT comemorou o "fim da crise" e a resolução de seus problemas antes do tempo, exagerou no foguetório e sofreu duplamente com a força da recidiva.

Daí o caldo de galinha servido pelo ministro Tarso Genro, embora o presidente Lula vá logo se encarregar de substituí-lo por um bom prato de pimenta malagueta em seus próximos discursos.

Já a aparente frieza da oposição esconde, não a decepção com os números da pesquisa, pois as más notícias já circulavam. Mascara a evidente gravidade da situação: o PSDB tem candidato, mas não tem campanha.

O inverso do que ocorre no governo, onde a campanha segue desenfreada o seu destino enquanto o candidato retarda o anúncio oficial para fugir aos impedimentos da lei.

Por mais que a pesquisa não traduza necessariamente o resultado das urnas nem reflita uma situação imutável, os dados são péssimos para a oposição.

O PSDB não apenas reduziu seu capital eleitoral à metade do registrado antes da escolha de Alckmin, como enveredou por uma trajetória descendente. À exceção dos índices de rejeição que, em um mês, cresceram 7 pontos porcentuais.

É claro que tudo pode mudar, é óbvio que não está fora de cogitação a hipótese de a aliança PSDB/PFL vir a operar o milagre da transformação do desencanto em votos, nem de longe é impossível Lula tropeçar nos obstáculos que o cercam.

Tudo pode acontecer no futuro, mas, no presente, o panorama é desolador para a oposição.

Não só a campanha inexiste, como o que existe da parte dos oposicionistas são só lamúrias, trocas de desaforos, jogos internos de pressão, a disseminação da idéia - de produção endógena - de que jogaram a toalha e o patrocínio de fatos ora negativos, ora irrelevantes.

Em dois meses a oposição perdeu a dianteira política e a condição objetiva de igualdade competitiva.

Para quem considerava fundamental polarizar com Lula de ponta a ponta, do começo ao fim da campanha, convenhamos, não contabilizar o quadro como altamente desfavorável é querer enxergar as luzes e as sombras do mundo pelas frestas das peneiras.

O ruim para o PSDB e o PFL não é nem o candidato Geraldo Alckmin ter 18% contra 40% do adversário presidente, porque terreno tanto se perde quanto se recupera.

O problema é o comportamento abúlico e de certa forma indiferente àquela ampla parcela do eleitorado que não quer votar no presidente, mas não encontra respaldo na força política antagônica, na qual até gostaria de depositar suas expectativas, mas não tem sido estimulada a isso nem convencida de que existem motivos para tal.

Equilíbrio de contas

De um lado, o PT pede ao TSE que estabeleça um limite de gastos para os partidos nas campanhas eleitorais; de outro, o presidente Lula pede alteração da lei que limita os gastos do governo em períodos de campanha.

Tradução do raciocínio: as finanças do PT, parcas depois dos escândalos, devem ser protegidas de ocasional desigualdade nas doações feitas aos outros partidos, mas os cofres públicos devem jorrar em abundância no período pré-eleitoral, para compensar.

Nas Gerais

A convenção do PSDB para confirmar - ou não - a candidatura de Alckmin a presidente será mesmo em Minas Gerais, como foi a de Fernando Henrique em 1994. FH lançou-se candidato em Contagem, Alckmin será oficializado em Belo Horizonte, no Parque de Exposições da Gameleira.

O PSDB pensou em fazer a convenção em algum Estado do Nordeste, mas Aécio Neves reivindicou e ganhou o direito de ser o anfitrião.

Há quem duvide, mas consta que depois disso o governador de Minas Gerais entrará firme na campanha presidencial do partido.

Antipatia

O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati, não priva de simpatia na direção do PFL. A relação atritosa dos tempos de governo Fernando Henrique permanece e recrudesce agora na campanha de Geraldo Alckmin.

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