Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, maio 31, 2006

Coleção de erros




EDITORIAL
O Globo
31/5/2006

Num encontro dias atrás na Casa Branca, o presidente George W. Bush e o primeiro-ministro Tony Blair reconheceram de público, pela primeira vez, erros e deslizes cometidos por americanos e ingleses na guerra do Iraque.

Caracteristicamente, porém, quanto maiores as dificuldades internas que enfrentam, mais os dois aliados transatlânticos se apegam à ação militar no Afeganistão como exemplo de êxito total da ação conjunta de EUA e Grã-Bretanha no combate ao terror.

É uma avaliação tendenciosa e profissionalmente otimista: a explosão de violência das últimas semanas na capital e em outras áreas indica que a situação está fugindo ao controle do governo central e das forças internacionais comandadas pelos EUA.

Os talibãs e seus aliados da Al-Qaeda resistem furiosamente no Sul, em sua contra-ofensiva para retomar o poder. As lutas intertribais que devastaram o país continuam, agravadas pelas brigas entre os cartéis de produtores e traficantes de drogas. E, apesar das eleições que levaram Hamid Karzai à presidência, a vida institucional ainda é precária.

De modo geral, o povo reclama da morosidade da reconstrução. Do alto padrão de vida dos estrangeiros em Cabul, que contrasta com a miséria nativa. E, especificamente, da truculência dos soldados americanos: seja ao volante ou pilotando aviões em ataques a bases rebeldes, eles demonstram absoluto desprezo pela vida de civis inocentes.

O primeiro e mais evidente erro da dupla Bush-Blair, segundo especialistas, foi a própria intervenção no Iraque, iniciada antes que a vitória contra os talibãs e a Al-Qaeda se consolidasse no Afeganistão. Outro grave equívoco foi ocupar com estardalhaço a capital, e permitir que os talibãs se reagrupassem nas províncias meridionais.

Um simples acidente de trânsito no início da semana, quando um caminhão do Exército americano bateu em 12 veículos numa rua movimentada de Cabul, provocou os mais violentos tumultos desde a queda dos talibãs em 2001, trazendo à tona o forte sentimento antiamericano, e antiocidental, que fervilha sob a calma aparente. Incidentes como esse mostram um país mais perto da anarquia do que da estabilidade e da paz.

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