O ministro Roberto Rodrigues disse que a agricultura precisa de políticas anticíclicas de proteção, como um seguro rural, papéis para servirem de garantia ao produtor, mas que, no Brasil, nada disso dá certo por causa dos juros altos.
- Enquanto não caírem os juros, os custos financeiros, não será possível ter qualquer política estruturante – disse-me o ministro.
Ele também culpou o monopólio de resseguros no Brasil pela dificuldade de montar um sistema permanente de hedge (garantia) ao produtor que evite os pacotes de emergência como o que foi divulgado na semana passada.
Tivemos uma longa conversa em que ele rebateu as críticas que fiz aqui no site ao pacote agrícola e defendeu os agricultores que receberam várias formas de ajuda do governo e ainda dizem que não é o suficiente. Aqui vão as idéias dele:
Uma das medidas que ele diz que tem tentado desenhar desde o começo do governo, para ser garantia permanente do setor, são os CPR- Certificados do Produtor Rural.
- São para serem lançados e negociados em bolsa e usados como hedge, mas, com a taxa de juros que vige no país desde o começo do governo, eles não decolaram.
O seguro rural foi lançado em 2003, regulamentado em 2004 e o primeiro recurso saiu em 2005.
- No ano passado, os recursos para isso foram uma mixaria; R$ 10 milhões. Neste ano, aumentaram para R$ 46 milhões, mas, para que isso funcione, é preciso que haja a quebra do monopólio do resseguro no Brasil. Seguro rural depende de resseguro, de empresas internacionais dispostas a tomar esse risco.
O ministro disse que está empenhado em políticas que protejam os produtores rurais dos ciclos naturais da agricultura, de altas e baixas. Garantiu que o país está vivendo a pior crise da agricultura no passado recente.
- É uma crise dramática. É inédito ter um conjunto tão grande de fatores negativos. Os produtores perderam em 2004-2005 e 2006 algo como R$ 30 bilhões. Não existe tampa para esse buraco.
Ele reconhece que, nos anos anteriores, os produtores ganharam com preços em alta recorde no mercado internacional e dólar em alta. Admite também que alguns setores, como o sucro-alcooleiro, estão com excelentes preços no mercado internacional. Concorda que o ideal seria que houvesse fórmulas permanentes de resolver a crise, mas argumenta que as melhores formas de superar de maneira mais permanente os problemas da agricultura esbarram em fatores como juros e monopólio do resseguro.
O que piorou a situação, segundo Roberto Rodrigues, foram as coincidência. Muita coisa ruim aconteceu ao mesmo tempo desde 2004, após um período de alta recorde dos preços de soja, algodão, milho, trigo e arroz. Subiram os preços dos insumos e eles foram comprados a um dólar mais alto. Houve quebra do produção no sul por causa da seca e, só no ano passado, deixaram de ser colhidos 19 milhões de toneladaas. Os custos do transporte aumentaram por causa do petróleo. A gripe aviária derrubou os preços da carne de frango e reduziu a demanda internacional.
Entrevista:O Estado inteligente
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