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quarta-feira, maio 31, 2006
Villas-Bôas Corrêa Lula no país das maravilhas
31.05.2006 | Antes que seja tarde demais, quero recuperar a surpresa e o enlevo que me embalaram na viagem pelo país das maravilhas criado pelo genial marqueteiro da campanha do presidente-candidato Lula e que botou num chinelo os truques do expelido Duda Mendonça no último programa do PT, pendurado no privilégio do horário gratuito de propaganda dos partidos, pago com a punga no nosso bolso.
Mas, se o Duda brilhava pela imaginação, com chispas inesquecíveis – como a da imagem de centenas de mulheres grávidas, caminhando na praia na direção na câmera para anunciar a chegada do futuro, da milionária campanha de Lula que resgatou a amargura de três derrotas com a vitória que deságua na tentativa do bis – o seu ainda anônimo sucessor na reta da celebridade recria um país mágico, que raspa na tapeação de apagar o lado ruim, o feio, os fracassos para mostrar o Brasil do mais delirante otimismo, a estufar o peito na cadência à frente do grupo dos grandes do mundo.
É de cair o queixo, de arregalar os bugalhos que se negam a acreditar no que estão vendo. E não se pode falar em falsificação de imagens ou dos números que desfilam na parada dos êxitos miraculosos dos três anos e meio do primeiro mandato.
No balé dos índices das estatísticas oficiais, os nove milhões que matam a fome crônica da miséria com a distribuição das cestas básicas no abre-alas do oba-oba, misturam em frenética velocidade os flagrantes de crianças com a pele colada nos ossos, olhos fundos da anemia, catando no lixo a podridão da única refeição possível com a pobreza assistida pela fartura da oferta dos gêneros essenciais para a mesa dos eleitos pela plena assistência do governo.
Apenas o aperitivo na meia hora de deslumbramento com a revelação do país prometido e realizado. Obras nunca feitas pelos governos de notória incompetência agora constróem a estrutura do novo modelo de primeiro mundo. Portos, ferrovias, rodovias tecem o emaranhado da comunicação entre as fontes produtoras e consumidoras, com o largo atendimento das necessidades das exportações.
E, por toda parte, o mesmo cenário da ventura de um povo feliz, confiante no governo atento à perfeita assistência da saúde, no vigor do pleno atendimento sem filas nos postos e hospitais públicos.
A rede escolar recruta alunos em todos os graus para as vagas que sobram em estabelecimentos modelares, que humilham os brizolões criados pela genialidade de Darcy Ribeiro, no governo do falecido ex-aliado, governador Leonel Brizola.
Tão ou mais fantástico do que o passeio pela ficção fornecida como realidade é o que fica esquecido sem que se perceba. Jamais falta no repertório clássico dos circos o mágico que encerra no caixote de madeira o pobre-diabo condenado a morrer trespassado pelas espadas enfiadas nas brechas da madeira. Quando aberta a caixa, dele não há sinal. Sumiu, virou fumaça, para reaparecer, lampeiro e serelepe, no meio do público.
Mas, isso é pura tapeação do eterno feitiço dos picadeiros. O marqueteiro do Lula apagou – como quem deleta a frase torta – do largo panorama da paisagem brasileira renovada pelo presidente que pede o seu voto as manchas que pareciam indeléveis do recorde absoluto de escândalos da corrupção: nem uma palavra ou imagem das CPIs que furaram o saco podre do mensalão e do caixa dois e que foram denunciados pelo procurador geral da República como trampas de uma quadrilha que operou pelos esconsos do Palácio do Planalto. Nada sobre a sucessão de rebeliões nos presídios de São Paulo e de outros estados ou sobre a vergonha das penitenciárias e cadeias transformadas em jaulas onde se amontoam seres humanos expulsos da sociedade.
A acreditar no marqueteiro desconhecido, não há buracos nas estradas nem pontes desmoronadas ou fechadas, com filas de caminhões e veículos parados durante dias e semanas. Nas cidades policiadas, limpas, organizadas, a população desfruta o alto padrão de vida que o resto do mundo inveja.
No programa do PT não se falou na crise de corrupção que derrubou lideranças e rachou a legenda com a saída dos que fundaram o PSOL e acabam de lançar a candidatura da senadora Heloísa Helena à sucessão de Lula.
Os decaídos foram misericordiosamente esquecido no vale onde perambulam como almas penadas o ex-todo poderoso Antônio Palocci; o que já foi virtual presidente em exercício, José Dirceu; o falante que perdeu a língua José Genoino e mais o bando dos duendes de segunda classe confundidos com os delúbios, os marcoaurélios e o bloco petista dos escorraçados dos cargos públicos.
O presidente-candidato que olha mas não vê, que nada sabe do que não quer saber, deve estar orgulhoso do marqueteiro que seguiu o modelo de comunicação do governo que pede o voto de gratidão do povo pelo muito que recebeu em três anos e meio de fartura, segurança e plena felicidade, "como este país jamais teve".
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