Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, maio 26, 2006

Miriam Leitão on line - O pacote agrícola está errado

26.5.2006
 O terceiro pacote agrícola do ano não resolve o problema e vai bater no seu, no meu, no nosso bolso. E é um enorme retrocesso. O Brasil nos últimos anos vinha modernizando a sua agricultura e fazendo com que ela dependesse menos do estado. Nessa crise agrícola, os produtores fizeram o mesmo de sempre: foram a Brasília pressionar e tiveram sucesso.

Desse enorme pacote, de R$ 60 bilhões, uma parte é dinheiro velho reempacotado como dizem os produtores. Ou seja, dinheiro para o financiamento da safra que todo ano é oferecido aos produtores com taxas mais baixas. Outra parte é dinheiro novo oferecido agora para cobrir prejuízo dos produtores.

Há uma crise na agricultura, mas ela não atinge todas as culturas. Há áreas que vão muito bem, ganhando dinheiro como nunca. O preço do açúcar no mercado internacional nos últimos doze meses aumentou 90%. Só para citar um exemplo. Há setores que enfrentaram problemas como secas e enchentes, perdas de safra, e esses merecem socorro. Há setores que reclamam -como grande parte da soja- apenas porque o câmbio está baixo.

A soja teve anos de vacas gordíssimas. Anos em que teve a vantagem do câmbio alto e do preço altíssimo da commodity no mercado internacional. Os sojicultores são, em geral, grandes produtores. A pergunta é: por que eles mesmos não fizeram algum tipo de poupança e seguro para tempos difíceis que sempre ocorrem na agricultura?

Uma parte do pacote é alongamento por quatro anos do pagamento da dívida dos produtores de soja. O ministro da Fazenda me disse que isso não tem custo nenhum. Tem sim. Subsídio é dinheiro, é gasto. Esses empréstimos têm juro subsidiado. O governo pega dinheiro no mercado a 15,75% e o Banco do Brasil empresta ao grande produtor por 8%. Depois quem cobre a diferença é o Tesouro. Tem um custo só em emprestar. Alongar então, aumenta o custo.

No mundo inteiro, governos subsidiam a agricultura, mas o Brasil tem a agricultura mais competitiva do mundo e o governo tem outras prioridades. Joio e trigo deveriam estar separados. O produtor pequeno que realmente precisa de ajuda é uma coisa, outra é o grande que quer jogar para o governo o prejuízo, mas ficou com todo o lucro quando os preços estavam bons. O governo está indenizando os produtores de grãos porque o câmbio está baixo e isso é uma insensatez.

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