"Como todo mundo está cansado de saber, o funcionalismo público sempre representou uma parte importante do apoio político e eleitoral do PT e do presidente Lula.
A sindicalização acelerada que aconteceu na máquina pública também contribuiu para fortalecer os laços entre a burocracia e o PT.
A tal ponto chegaram esses laços, que em certo momento a CUT contava com mais de 60% de funcionários públicos entre seus mais altos dirigentes.
Nunca é demais lembrar que o atual presidente da central sindical, João Felício, era funcionário público.
Em todas as eleições que Lula disputou, constituíam-se nos mais variados órgãos da administração pública grupos de trabalho que municiavam o candidato com importantes informações sobre inúmeros aspectos da vida brasileira.
Dados sobre economia, saúde, transporte, educação, distribuição de renda etc.
Não foi diferente nas eleições de 2002.
Mas o funcionalismo não foi muito bem tratado durante o governo Lula. Primeiro, a reforma da Previdência do setor público cortou benefícios, tentou corrigir abusos, enfim, desagradou profundamente ao setor.
Em seguida, o funcionalismo público não foi brindado com nenhum aumento salarial decente. Nos três anos de governo Lula, o que se viu foram greves e mais greves no setor público, todas reivindicando aumento de salário.
Mas a lei determina que o Poder Executivo conceda aumento salarial ao funcionalismo uma vez por ano.
O que fez o governo Lula em 2005? Declarou que não tinha dinheiro, mas como precisava cumprir a lei, deu um aumento de 0,1% para o funcionalismo civil. Isto mesmo: 0,1%!
O funcionalismo considerou um deboche.
Mas 2006 é ano de eleição, e o presidente Lula não pode dispensar os votos deste importante exército eleitoral.
Afinal, o funcionalismo público é, e sempre foi, Lula.
Por isso, o presidente se reuniu ontem com os presidentes dos outros dois poderes da República, para tratar do assunto.
E, como sempre acontece nesta República, foi prometido um plano de cargos e salários, foi prometida a valorização do servidor público, foi prometida a criação de uma carreira única no serviço público federal.
E, também como sempre acontece nesta República, foi criado um grupo de trabalho para estudar o assunto.
Com a velocidade com que as coisas se resolvem no governo Lula, pode-se especular que este grupo de trabalho apresentará suas propostas depois da eleição.
Quando Lula já tiver garantido os votos de seus mais fiéis eleitores, os funcionários públicos."