Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, maio 30, 2006

Dois países




EDITORIAL
O Globo
30/5/2006

Há uma indiscutível crise em torno de algumas instituições vitais. Prova disso é a reação quase unânime expressa por leitores de jornais em concordância com a resposta debochada do advogado Sérgio Wesley ao ser agredido verbalmente quando compareceu na semana passada à CPI do Tráfico de Armas. Por dizer que havia aprendido a ser malandro no convívio com parlamentares, o advogado de criminosos paulistas recebeu ordem de prisão, mas caiu nas graças de parte da opinião pública. Para muita gente ficou em segundo plano o crime que Wesley cometeu quando ajudou a subornar um funcionário da Câmara dos Deputados para ter acesso a depoimentos reservados à CPI que interessavam à sua clientela de marginais.
Os dias de terror vividos pelo Estado de São Paulo, por sua vez, vieram a reforçar o descrédito crescente que há em algumas regiões do país quanto à possibilidade de o poder público conter o crime. A crise de segurança pública paulista colocou em questão elos frágeis nesse embate vital para a sociedade: o sistema penitenciário, as leis e o Poder Judiciário.

Com justificadas razões, há um clima quase generalizado de desconfiança em governos, política, justiça. Mas também existem no noticiário sinais de avanços que precisam ser ressaltados.

No mesmo dia do incidente com o advogado no Congresso, quinta-feira da semana passada, e enquanto ainda se desdobrava a crise paulista, o Ministério Público de São Paulo conseguiu repatriar pouco mais de um milhão de dólares depositados em contas ilegais no exterior pelo ex-prefeito Celso Pitta. O dinheiro, garante o MP, originou-se de propinas cobradas a empreiteiras no tempo de Pitta e Paulo Maluf na administração paulistana.

Na sexta, a Justiça decretou a prisão do ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira, acusado de desviar obras de arte sob a sua guarda e arrestadas no processo de falência, tudo indica fraudulenta, do Banco Santos. Também aqui há sinais de que parte do Poder Judiciário, com todos os problemas, funciona.

Há dois países em conflito: o da corrupção e do patrimonialismo e um outro, onde o MP age e a Justiça não se atemoriza diante de ricos e poderosos. Quanto à vida política, o eleitor pode ajudar, saneando-a nas urnas de outubro.

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