O Estado de S. Paulo |
26/5/2006 |
O mercado financeiro devolveu ontem quase tudo o que tomou na véspera. Mas ninguém se iluda, quem embarca em montanha-russa tem de estar preparado para muito frio na barriga. Depois do tombo vem nova subida do carrinho que despenca outra vez e assim sucessivamente até a parada final. As últimas turbulências ensinam que ainda não há clareza sobre o tipo da correção em curso. Os desequilíbrios da economia mundial estão razoavelmente bem diagnosticados e sabe-se que esta é situação insustentável a longo prazo. Falta descobrir se o ajuste será suave ou brusco, se o preço a ser pago é certa redução do crescimento ou se o mundo se precipitará numa forte recessão, como a ocorrida nos anos 80. Mostram, também, que as autoridades internacionais encarregadas de garantir segurança estão vacilantes. O mundo está de olho no Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Seu presidente, Ben Bernanke, no momento, não sabe se tem de tratar a inflação com mão pesada ou se deve pegar leve. Em princípio, inflação deve ser tratada com dureza e os mercados cobram isso. Mas, se Bernanke se inspirar em Paul Volcker, o xerifão do Fed no período turbulento de 1979 a 1987, e aumentar os juros implacavelmente, vão dizer que, em pleno noviciado (ele assumiu no final de janeiro), quer se mostrar mais católico do que o papa. Se for complacente, como Alan Greenspan foi com as três grandes crises com que se deparou, vão dizer que Bernanke não é Greenspan e que, para enfrentar a bandidagem, é preciso atirar primeiro e perguntar depois. Para complicar, cresce no mundo a percepção de que, para execução da política monetária, banco central não pode olhar apenas o custo de vida. Tem de atentar para o comportamento dos ativos mais importantes (imóveis, ações, commodities, títulos de países emergentes, etc.). Mas esse é assunto para outro comentário. Por ora basta considerar que muita coisa importante poderá mudar se os bancos centrais adotarem novos critérios para redefinição dos juros. Do ponto de vista da economia brasileira, há lições a aprender. Uma delas é a de que boa parte das conquistas não está consolidada. Deve-se às condições muito favoráveis da economia mundial. Se vier a temida aterrissagem brusca, a corrida para o dólar deverá relançar as cotações, o encarecimento dos importados poderá derrubar a estabilidade e os juros terão tudo para voltar a subir. Enfim, nada ainda garante o crescimento sustentado. Outra lição decorre da anterior. O principal problema da economia brasileira é o desequilíbrio fiscal (governo gastando demais), que puxa a dívida e aumenta a despesa com juros. A única forma segura de baixar os juros e garantir crescimento firme é reforçar a austeridade e a responsabilidade fiscal. A blindagem da economia aos choques depende disso. Diante de tantos solavancos, qual deve ser a atitude mais correta do pequeno aplicador? O que dá para dizer é que, se fosse fácil prever, não haveria crise. Mas, uma vez iniciada a corrida para a porta de saída, é bom não ficar mexendo demais porque o aplicador terá muito a perder, tanto na ida como na volta. É esperar pela virada para só rever as posições, se for o caso, quando retornar a calmaria. |
Entrevista:O Estado inteligente
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