Chega de encenação |
Artigob - |
Folha de S. Paulo |
30/5/2006 |
O TERROR do crime organizado sob o qual vivem faz tempo todas as comunidades populares em São Paulo se abateu sobre o resto da cidade. E escancarou o mau funcionamento das instituições do Estado democrático. Continuamos com o entulho da estrutura da segurança pública da ditadura militar, com a divisão no interior das polícias e a militarização do policiamento ostensivo. O Congresso Nacional há 17 anos não tem vontade ou não encontra tempo para reformar as polícias. A questão da segurança pública é complexa demais para ser lidada de forma amadora por polícias civis ineficientes e uma corporação militarizada, com todos os tiques do regime autoritário. Adorável a desculpa do comandante-geral da PM para a inação diante das ameaças dos criminosos na véspera: "Não fizemos o alerta via rádio antes para evitar pânico e tumulto entre os policiais". Isto é, esperou-se os ataques contra as vidas de civis e de policiais para dar o alerta geral! E o governo foi incapaz de articular toda a força policial sob um comando único de emergência. Há toneladas de estudos com dados oficiais que demonstram que a maior parte dos policiais militares são abatidos durante o "bico" (serviço extra), e não em serviço, e que maioria das mortes pela polícia em São Paulo, alegadamente "resistência seguida de morte", são execuções sumárias, com tiros nas costas ou na cabeça. Pois foi exatamente o que ocorreu depois dos ataques criminosos contra a população e policiais: alguns PMs desandaram a matar a torto e a direito. E, piada maior, o governo nada divulgou, para "preservar as famílias" (melhor seria se não tivessem executado seus familiares) ou não "comprometer investigações". E, como na ditadura, a Secretaria de Segurança Pública recolheu os laudos de necropsia do IML. Pela trapalhada da secretaria e da PM reina a confusão geral: dos supostos 123 mortos pela polícia, alegadamente 79 seriam ligados ao PCC, dos quais 49 teriam ficha criminal (logo, abatíveis). Desses 79, 62 teriam morrido após ataques do PCC (quando, como, onde?), e 17, em "ações preventivas" (depois dos ataques das quadrilhas?). Parece que algum médium invocou os serviços do dr. Shibata, aquele que dava laudos maquiados na ditadura. A política de segurança de São Paulo, inerme diante do crime organizado, descolada da sociedade, fundada num discurso triunfalista e na força (entre as democracias no mundo, São Paulo é a cidade onde a polícia mais mata civis, um por dia, o que não está mais na moda nas melhores polícias), precisa mudar. Essa pirotecnia policial é impotente diante da quadrilhas e arriscada para a vida dos policiais: debelar o crime organizado requer inteligência, a da informação e a do cérebro, infiltração nas quadrilhas e paciência, e não a força burra das balas. Talvez falhamos em lidar com as questões da segurança apoiando o partido político, o líder político, o governo que permitisse dar forma ao que pensava a sociedade civil. Avançamos, mas muito pouco, e a situação continua desoladora. Faz poucos dias, numa reunião em Grenoble, na França (abalada por crises semelhantes à de São Paulo), se discutia se não seria a hora de uma "democracia de interação" entre sociedade civil e sociedade política, entre crítica social e projetos de reformas. Promover reuniões em que operadores das instituições, ONGs e universitários pudessem trabalhar juntos. Algo que permitisse passar de um discurso público de protesto, impotente, ou de respostas estereotipadas para uma abordagem mais fundada na transformação efetiva das coisas. Seja como for, está na hora de os parlamentares fazerem a reforma das polícias e varrer sua estrutura gagá. O Judiciário precisa ter linha dura e prioridade na luta contra o crime organizado e a corrupção policial, e, no sistema penitenciário, acompanhar a execução das penas (a maioria dos juízes tem horror a visitar cadeias). Ao governo federal cabe a liderança das reformas paradas. Não nos imobilizemos sob o terror dos criminosos. Devemos exigir uma repressão eficiente ao crime organizado e uma investigação competente. Chega de encenação para a galera. Na democracia, ao contrário dos cômodos tempos da ditadura militar, tudo deve ser feito às claras. |
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
terça-feira, maio 30, 2006
Chega de encenação PAULO SÉRGIO PINHEIRO
Arquivo do blog
-
▼
2006
(6085)
-
▼
maio
(558)
- Villas-Bôas Corrêa Lula no país das maravilhas
- DORA KRAMER Uma boa e doce vida
- Cultura cívica de papelão Luiz Weis
- José Nêumanne A gala dos tucanos no baile dos peti...
- Investimentos externos brasileiros
- Coleção de erros
- Gabeira e Renan batem boca sobre sanguessugas
- Míriam Leitão - Tempos piores
- Merval Pereira - Dois modelos
- Luís Nassif - O homem errado
- Jânio de Freitas - Serviços e desserviços
- Fernando Rodrigues - O vice de Lula
- Clóvis Rossi - Aconchego
- Celso Ming - Reforço da cautela
- Carlos Heitor Cony - Mentiras institucionais
- Lucia Hippolito na CBN:O voto dos funcionários púb...
- Primeira Leitura : Reclamando e andando Por Lilia...
- Miriam Leitão on line - Ministro da agricultura cu...
- A demissão de Furukawa
- A reeleição de Uribe
- Brasil cresce menos que concorrentes
- Chega de encenação PAULO SÉRGIO PINHEIRO
- Democracia Ali Kamel
- Dois países
- Estrangeiros reavaliam planos para AL
- Arnaldo Jabor - A herança de FH vai reeleger o Lula
- Carlos Heitor Cony - O futuro de Lula
- Clóvis Rossi - O trambique desce redondo
- Luís Nassif - A gestão na área social
- Valdo Cruz - Não se anule
- Celso Ming - A Petrobrás acorda a tempo
- Dora Kramer - A musa dos descontentes
- Luiz Garcia - A imprensa menos livre
- Merval Pereira - O fator Aécio
- Míriam Leitão - Juros e PIB
- Lucia Hippolito na CBN Reforma na Constituição
- Touraine, Castañeda e o Virundum Por Reinaldo Azevedo
- Fernando Gabeira Os bandidos na mesa do café
- Miriam Leitão on line -Semana tera juros em queda ...
- Mortos e vivos - Denis Lerrer Rosenfield
- Duas crises, dois atraso - Carlos Alberto Sardenberg
- Chantagem política Paulo Guedes
- Chantagem política Paulo Guedes
- O REAL -Ex-cabo eleitoral de FHC, real vai ajudar ...
- Fernando Rodrigues - Uma lei pró-PT
- Lucia Hippolito na CBN:Um passo à frente e dois atrás
- Inevitável fim do fôlego RICARDO AMORIM
- AUGUSTO NUNES SETE DIAS JB
- AUGUSTO NUNES SETE DIAS
- AUGUSTO NUNES CPI LANÇA CANDIDATO DO PCC
- A gregos e troianos Mailson da Nóbrega
- Bernanke se corrige e aceita 2% de inflação Albert...
- Os desacertos de Mantega Suely Caldas
- Falha dos bancos centrais (2)Celso Ming
- Embate de personalidades Dora Kramer
- Um alerta para o Itamaraty
- O pára-quedista e o alpinista Gaudêncio Torquato
- A crise é de autoridade
- Oposição sem rumo
- Falta horizonte
- CLÓVIS ROSSI O tiroteio continua
- VALDO CRUZ Guerra e paz
- CARLOS HEITOR CONY Aparecer para crescer
- JANIO DE FREITAS Picadinho (sem gosto)
- RUBENS RICUPERO Crise mundial: ameaça ou oportunid...
- LUÍS NASSIF O MoMA e o Masp
- FERREIRA GULLAR Papo brabo
- Como ganhamos a Copa de 58JOÃO UBALDO RIBEIRO
- Merval Pereira
- Miriam Leitão Fim da semana
- Lula e a Revolução Francesa Por Reinaldo Azevedo
- Uma eleição sem espaço para o populismo
- MILLÔR
- Lya Luft Vamos fazer de conta
- VEJA Entrevista: José Manuel Durão Barroso
- André Petry Eles não passarão
- Diogo Mainardi Gabeira para presidente
- Roberto Pompeu de Toledo Seleção brasileira de est...
- Lula se torna o guardião da política econômica
- Márcio Thomaz Bastos abafa todas
- Cresce o poder de compra dos mais pobres
- A bancada de José Dirceu
- TSE corta o custo das campanhas
- Duda fez e continua fazendo
- CELSO MING Falha dos bancos centrais (1)
- Crise do gás - momento de reflexão Opinião Josef B...
- DORA KRAMER De rotos e esfarrapados
- Um déficit explosivo
- As razões do favoritismo
- Moral em concordata Mauro Chaves
- CARLOS HEITOR CONY Os palhaços
- GESNER OLIVEIRAEconomia contra o crime
- Delírio ideológico
- Merval Pereira De pernas para o ar
- Zuenir Ventura Contra o crime virtual
- Miriam Leitão O senhor tolere
- Lucas Mendes Idolatria americana (idolatria e geog...
- A FORÇA DE LULA por Denis Rosenfield
- Adeus, hexa Guilherme Fiuza
- Agosto Por Liliana Pinheiro
-
▼
maio
(558)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA