Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, maio 26, 2006

A FORÇA DE LULA por Denis Rosenfield


BLOG CASAGRANDE


Os resultados das pesquisas Datafolha e Sensus/CNT atestam a força da candidatura Lula, com condições, inclusive, de vencer as eleições em primeiro turno. Se não houver um terceiro candidato competitivo, com a polarização entre PT de um lado e PSDB/PFL de outro, pode a decisão não necessitar de um eventual segundo turno. Há, ainda, evidentemente, todo o período da propaganda eleitoral gratuita em que a candidatura Alckmin pode efetivamente se viabilizar. Por enquanto, porém, façamos uma análise da correlação de forças atual, ressaltando as razões do desempenho do Presidente da República. Vejamos:

1. Lula conseguiu descolar a sua imagem da do PT. Segundo uma pesquisa do IBOPE, apenas 14% dos eleitores brasileiros o vincula à corrupção estabelecida por seu governo e por seu partido. Depois de tudo o que aconteceu, inclusive com a denúncia apresentada pelo Procurador-Geral da República, o presidente tem conseguido passar incólume. Acrescente-se, ainda, o erro das oposições, em particular do PSDB, que, no início desse processo, criou uma blindagem para Lula, pretendendo sangrá-lo, lentamente, até o fim. A hemorragia estancou!

2. o PT, habilidosamente, procurou trazer todos os partidos para um mesmo mar de lama, como se todos fossem iguais na corrupção. Ao abandonar a bandeira da ética na política, ele terminou por diluir a sua própria corrupção, sistemática, partidária e leninista, na da corrupção própria da história brasileira, como se, assim, ele estivesse, de certa maneira, desculpado. Ao se desacreditar, desacreditando todos os partidos, ele criou condições para que Lula conseguisse tomar medidas de cunho populista, tanto do ponto de vista da melhoria das condições de vida da população brasileira, quanto de tipo propriamente demagógico;

3. dentre as medidas de cunho populista, ressalte-se o bolsa-família, que criou uma clientela política específica, a dos beneficiários dessa ajuda de tipo assistencialista. O bolsa-família atinge hoje em torno de 11 milhões de famílias. Calculando 3 votantes em cada uma delas, alcança-se a cifra de 33 milhões de eleitores. Mesmo que todos não votem em Lula, o seu ponto de partida eleitoral é suficientemente consistente;

4. embora Lula e o PT tenham sido sempre contra o Plano Real, eles são hoje os seus maiores beneficiários, pois uma economia não inflacionária mantém o poder de compra da população. Considerando que o salário mínimo tem sido reajustado acima da inflação, a situação social dos mais desfavorecidos tem melhorado realmente, conferindo ao Presidente a paternidade dessa melhoria;

5. para esse setor da população, constituído das classes C, D e E, a sua condição efetivamente melhorou, criando nelas uma disposição de ver o Presidente como uma espécie de pai na tradição populista. Embora todos os partidos sejam corruptos, diriam eles, pelo menos esse governo pôs algo mais em nossa barriga;

6. Lula, com o avião que porta o seu nome, não cessa de viajar por todos os rincões desse país, num nível de exposição de candidato-não-candidato, que entra em contato estreito com as classes que o estão sustentando. Sua presença o torna familiar ao conjunto da população, graças a todo um sistema midiático e de publicidade que tem se mostrado extremamente eficaz;

7. o seu discurso, de bravatas ou “quase-lógico” segundo as circunstâncias, está produzindo efeitos junto a essas classes mais desfavorecidas que, por seu baixo nível educacional, “compreendem” as metáforas futebolísticas, tão próximas do seu cotidiano. Para leitores de jornal, que não mais suportam esse tipo de discurso, a imagem de Lula se degrada, mas para a imensa maioria dos eleitores desse país, ela se fortalece;

8. Lula é um líder de tipo carismático que sabe, intuitivamente, suscitar a adesão das massas, provocando emoções que são canalizadas politicamente. Ele é propriamente um demagogo, um mestre no uso das palavras, capaz de produzir efeitos retóricos em seus interlocutores. Politicamente, ele tem se revelado extremamente ardiloso em atribuir as mazelas da situação social brasileira às “elites”, como se ele mesmo não fizesse parte das “elites” e não fosse ele o governante-mor dessa república. O seu discurso é paradoxalmente o de um oposicionista, que procura sistematicamente se isentar das responsabilidades de governar, como se esses 3 anos e meio de seu mandato só pudessem ser contabilizados naquilo que ele chama de “nunca antes”. À força da repetição, esse discurso, junto a essas classes C, D e E, tem pegado.


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