Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, maio 30, 2006

Estrangeiros reavaliam planos para AL




Artigo - RICHARD LAPPER DO "FINANCIAL TIMES"
Folha de S. Paulo
30/5/2006

Medidas nacionalistas na Bolívia, na Argentina, na Venezuela e no Equador abalam confiança de investidor externo na região

Apesar de melhora no Brasil, país perde atratividade por causa de burocracia, impostos, legislação trabalhista e real forte

Sergio Gabrielli não via muitas nuvens no horizonte quando lhe perguntaram, em fevereiro, quais eram as perspectivas de sua empresa na Bolívia.
O presidente da Petrobras acreditava, então, que a vitória de Evo Morales na eleição presidencial boliviana havia criado uma "visão de estabilidade".
Mas, poucos meses depois, a Petrobras se viu expropriada, a mais recente e surpreendente vítima na série de medidas nacionalistas tomadas contra investidores estrangeiros.
Na Bolívia, as britânicas BG e BP, a francesa Total e a espanhola Repsol, que investiram bilhões de dólares no país nos últimos dez, sofreram destino semelhante. A Occidental Petroleum, da Califórnia, teve suas propriedades no Equador apreendidas pelo governo após disputa contratual. Na Argentina, o conglomerado francês Suez passou momentos difíceis neste ano, depois que o governo decidiu tomar dela o controle da Aguas de Argentina.
A sensibilidade que começa a se desenvolver com relação à região vem fazendo com que os investidores reavaliem seus compromissos. "Onde existe qualquer risco de que as coisas vão pelo caminho da Bolívia os investimentos estão suspensos", disse Stephen Donehoo, que assessora investidores para a Kissinger McLarty, nos EUA.
De muitas maneiras, é uma tendência surpreendente. As economias latino-americanas estão mais estáveis agora do que em qualquer momento dos últimos 30 anos. Na maioria dos países, a inflação está na casa do dígito único, e a demanda da China e economias asiáticas em crescimento vêm reforçando os atrativos das matérias-primas como cobre e minério de ferro, das quais a América Latina possui reservas abundantes.
Em parte por isso, os níveis de investimento estrangeiro vinham se recuperando nos dois últimos anos, após queda associada às crises financeiras do começo da década.
Se examinados de maneira mais minuciosa, os números mostram acentuadas disparidades entre o sul da região e o México, o Chile e os países da bacia do Caribe, que estão integrados de maneira mais próxima aos EUA pelo comércio, migrações e segurança, de outro.
Enquanto o investimento no México subia a US$ 17,8 bilhões em 2005, quase 50% acima do nível no final dos anos 90, os influxos para a economia brasileira chegaram a apenas US$ 15,1 bilhões no ano passado, queda superior a 30%. A Argentina atraiu US$ 4,7 bilhões no ano passado, menos de metade da média registrada há dez anos.
"O ambiente se deteriorou de maneira significativa", apontou Helena Hessel, analista da agência de classificação de crédito Standard & Poor's, de Nova York, em estudo deste mês.
O governo brasileiro de centro-esquerda é mais hospitaleiro, mas não relaxou as restrições burocráticas e os onerosos impostos e normas trabalhistas do país. A acentuada valorização do real diante do dólar agravou as dificuldades ao tornar mais elevados os custos operacionais.

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