" 'As empresas aéreas estão falindo, milhares de trabalhadores perdem seus empregos e o nosso país perde cada vez mais capacidade competitiva. Até quando, senhor presidente?'
A pergunta foi feita por Lula. Há seis anos"
Neste texto, o leitor terá contato com o relato do que se passou em duas datas diferentes, com intervalo de quase seis anos entre uma e outra. Adiante:
7 de janeiro de 2002 – Nessa data, quando nem era candidato oficial à Presidência, Lula publicou um artigo no jornal Gazeta Mercantil cujo título era "Morte anunciada do transporte aéreo".
No texto, referindo-se à então recente paralisação da TransBrasil, Lula diagnosticava que "a crise da aviação brasileira" estava atingindo "um estágio terminal". Depois de dizer que "o transporte aéreo é reconhecidamente um setor estratégico, principalmente para um país como o Brasil", Lula contava que Estados Unidos, França, Itália, Espanha e Portugal vinham trabalhando para que seus sistemas aéreos ganhassem em "eficiência para movimentar pessoas, produtos e serviços".
Em seguida, voltando à situação do Brasil, Lula dizia no mesmo artigo que a reestruturação que as companhias aéreas promoviam na época não estava resolvendo o problema – e previa que a "tendência é de o setor continuar afundando". Lula se indagava: "O que é preciso para que o nosso país tenha um transporte aéreo eficiente?". O articulista dizia que as empresas brasileiras precisavam ter condições semelhantes às das americanas, que compravam combustível mais barato, tinham mais acesso a capital de giro, pagavam menos impostos.
Lula encerrava o artigo fazendo uma crítica ao governo de Fernando Henrique. Dizia que no ano anterior, em 2001, o tucano mandara um projeto para o Congresso prevendo a criação de uma tal Agência Nacional de Aviação Civil, que atenderia pela sigla Anac. Contava que, ao analisarem o tema, os parlamentares decidiram introduzir mudanças no projeto original. "E o que fez o governo FHC?", indagava Lula, para responder: "No dia da votação, de forma autoritária, simplesmente retirou o projeto, encerrando a discussão". Lula lamentava que a criação da Anac fora abortada.
Seu artigo terminava assim: "As empresas aéreas nacionais estão falindo, milhares de trabalhadores continuam perdendo seus empregos, divisas estrangeiras deixam de entrar no Brasil e o nosso país perde cada vez mais capacidade competitiva. Até quando, senhor presidente?".
Conclusão: o artigo era uma avaliação mais voltada para a crise das empresas aéreas do que do setor como um todo. Mas quem leu o texto na época, mesmo supondo que fora escrito por um assessor, certamente pensou que Lula tinha alguma intimidade com o assunto.
2 de agosto de 2007 – Nessa data, já entrando na segunda metade do seu quinto ano no governo, Lula reuniu seu conselho político e disse que desconhecia a extensão da crise aérea. Disse que nunca lhe mostraram claramente a gravidade da situação. Para provar sua completa ignorância sobre o tema, disse que nunca o assunto fora mencionado nas cinco eleições presidenciais que disputou.
Conclusão: quem foi informado dessas declarações de Lula certamente pensou, caso tenha acreditado nelas, que o presidente jamais teve a mínima intimidade com o assunto.
O que terá acontecido entre 7 de janeiro de 2002 e 2 de agosto de 2007?