Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Turistas queima o filme do Brasil

Nativos inquietos

Turistas só não é mais tolo do que
os protestos contra ele


Isabela Boscov

Divulgação
Os estrangeiros de Turistas: eles têm medo, e nós também

Um pequeno grupo de mochileiros americanos, ingleses etc. descobre uma praia paradisíaca no litoral brasileiro, onde a água é azul, a caipirinha é farta e as mulheres são desinibidas. É claro que, na manhã seguinte, eles acordam sem dinheiro e sem passaporte, e que o rapaz que se dispõe a ajudá-los na verdade os está conduzindo para uma armadilha: uma casa no meio da mata, onde, com um mínimo de anestesia, eles terão fígado e rins arrancados por traficantes de órgãos (cujo objetivo, esse sim dos mais improváveis, é doá-los a hospitais públicos cariocas). Turistas (Estados Unidos, 2006), desde sexta-feira em cartaz no país, tenta pegar carona no sucesso do terror O Albergue, segundo o qual toda a Eslováquia vivia de fornecer turistas para a prática de tortura. Turistas é, aliás, tão ruim quanto O Albergue. Só não é mais estúpido do que os protestos, vindos de várias instâncias entre o Oiapoque e o Chuí, de que ele mancha a chamada "imagem do Brasil lá fora". Como se um filmeco é que estivesse moldando essa imagem, e não as pavorosas contribuições da bandidagem e da classe política brasileiras aos noticiários – e como, também, se se pudesse exigir que um estrangeiro distinga o plausível do implausível depois de ler manchetes sobre passageiros de ônibus incendiados vivos e crianças destroçadas. No momento em que o país se tornar mais razoável, provavelmente deixará também de ser objeto da fantasia de produtores de quinta categoria – ou não. Mas, mesmo que ninguém "lá fora" note a mudança, "aqui dentro" se poderá respirar com algum alívio. Que é o que de fato importa.

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