Entrevista:O Estado inteligente

sábado, fevereiro 24, 2007

Irã A nova corrida nuclear

A ameaça nuclear dos aiatolás

Bomba do Irã dá início à nova corrida
por armamentos atômicos


Denise Dweck

Reuters
O populista Ahmadinejad: "O Irã não vai recuar um passo em seu programa nuclear"


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Em dia: Irã

Dois dias antes do Natal, o Conselho de Segurança das Nações Unidas deu o prazo de sessenta dias para o Irã atender a três exigências: paralisar seu programa de enriquecimento de urânio, interromper os projetos de água pesada e começar a cooperar com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). O prazo venceu na quarta-feira passada e a resposta iraniana foi renovar o desafio: em lugar de congelar, o Irã acelerou o programa nuclear, de acordo com o relatório da AIEA. Mais 326 centrífugas para enriquecimento de urânio foram instaladas nos subterrâneos da fábrica de Natanz, elevando o total em funcionamento para 700. Quando estiver completamente equipada, Natanz terá 3.000 centrífugas e produzirá material suficiente para montar uma bomba nuclear por ano. A ambição dos aiatolás é chegar a 54.000 centrífugas. Com tantas máquinas, o Irã teria o necessário para montar vinte bombas nucleares por ano.

A idéia de um arsenal nuclear nas mãos do presidente Mahmoud Ahmadinejad é assustadora. Uma combinação de fanático religioso e populista, o presidente iraniano não parece ser do tipo que hesitaria em apertar o gatilho nuclear. Como a comunidade internacional deve reagir à intransigência iraniana? Os Estados Unidos e seus aliados europeus anunciaram a intenção de recorrer à ONU com uma proposta de novas sanções internacionais. Um passo diplomático óbvio, mas fútil. "O Irã não vai recuar um só passo em seu projeto nuclear", garantiu Ahmadinejad na semana passada. Mesmo dispondo do urânio, é complicado construir um artefato nuclear operacional. Técnicos pessimistas acreditam que os aiatolás possam testar a primeira bomba dentro de três anos. Os israelenses estimam a demora em seis anos. É para breve, portanto.

Anthony Devlin/AP

Andrew Medichini/AFP
Blair em fim de mandato: menos ingleses no Iraque Romano Prodi, da Itália: apoio aos EUA derrotado no Parlamento

Teerã sustenta que seus esforços nucleares são pacíficos. Oficialmente, o urânio será enriquecido a apenas 5%, potência suficiente para acionar usinas geradoras de energia elétrica, mas bem abaixo dos 90% exigidos para armar uma bomba. Mas a tecnologia empregada em ambos os casos é a mesma e o programa nuclear iraniano é suspeito desde o início. Sua existência foi mantida em segredo durante dezoito anos, até ser denunciada por dissidentes em 2002. Pela retórica do presidente iraniano, um alvo prioritário de ataque nuclear poderia ser Israel – ele já disse que basta uma bomba para varrer o Estado judeu do mapa. Os israelenses, porém, são difíceis de derrotar. Têm seu próprio arsenal nuclear e iriam retaliar de modo arrasador. Os pequenos países do Golfo Pérsico estão convencidos de que estarão entre os primeiros alvos de um ataque iraniano e se preparam para isso. "Eles temem a expansão da ideologia iraniana de revolução islâmica e por isso estão atrás de armamentos e tecnologia para enfrentá-la", diz o americano Ilan Berman, especialista em segurança regional do Conselho Americano de Política Externa, em Washington.

Geralmente discretos em assuntos militares, os países do Golfo estão se armando às claras. A Arábia Saudita, o Kuwait, Omã e os Emirados Árabes Unidos devem gastar 60 bilhões de dólares em armas só neste ano. Em setembro, o Egito anunciou planos de adquirir três reatores para retomar um programa de energia nuclear estagnado desde os anos 60. A Arábia Saudita pode entrar de sócia no projeto egípcio e estuda seu próprio programa nuclear. A força por trás da corrida por armas convencionais e nucleares está na divisão étnica e política no Oriente Médio. O Irã é um país persa e xiita, com ambições de hegemonia na região. O Egito e a Arábia Saudita são árabes e sunitas, ramo majoritário do Islã. "Esses países não querem cair para o terceiro lugar na linha de poder da região, depois de Israel, que já tem a bomba, e do Irã", diz o americano Sammy Salama, analista de Oriente Médio do Centro para Estudos de Não-Proliferação, de Monterey, na Califórnia.

A facilidade com que os aiatolás estão se preparando para entrar no clube das potências nucleares é um golpe fatal no tratado contra a proliferação nuclear que funcionou bem durante a Guerra Fria. De uma hora para outra, a Índia, o Paquistão e até a Coréia do Norte, país que nem sequer consegue alimentar seus habitantes, exibem arsenais atômicos. A bomba iraniana iria escancarar as portas da proliferação – sobretudo porque parte da tecnologia pode ser comprada no mercado negro. Dessa forma, os aiatolás colocam um novo fio num emaranhado de dimensões globais. Os americanos podem perfeitamente atacar as instalações nucleares iranianas e acabar com a ameaça no nascedouro – o envio recente de uma segunda frota para a região do Golfo Pérsico reforça a idéia de que os planos de ataque estão prontos. É duvidoso, contudo, que Washington tenha ânimo para uma empreitada militar dessa magnitude antes de se livrar da encrenca no Iraque e no Afeganistão.

Outra complicação seria encontrar aliados para uma nova guerra no Oriente Médio. Por falta de opção, os países árabes do Golfo Pérsico iriam ajudar. Os russos criariam problemas. No momento, estão furiosos porque os americanos querem instalar sistemas antimíssil na Polônia e na República Checa (oficialmente para defender a Europa dos mísseis iranianos). Moscou acha que é uma provocação e ameaça apontar mísseis nucleares para a Europa, numa reedição requentada da Guerra Fria. Na semana passada, o primeiro-ministro inglês Tony Blair, que deixa o cargo em breve, anunciou planos para retirar 1.600 dos 7.100 soldados ingleses no Iraque. É uma tentativa de deixar um legado mais do agrado do eleitorado. Na quarta-feira passada, o primeiro-ministro italiano Romano Prodi renunciou depois de ver sua política externa ser derrotada no Parlamento. Dois pontos estavam em discussão: as tropas italianas no Afeganistão e a ampliação da base militar americana em Vicenza, no norte da Itália. De Vicenza podem partir ataques aéreos contra o Oriente Médio. Alguns deputados são contra a política americana, outros temem atrair ataques terroristas islâmicos para a Itália. O inimigo comum de americanos e europeus deveria ser o Irã e o fanatismo islâmico – mas a guerra no Iraque acabou virando muita coisa de cabeça para baixo.

Acharam as armas químicas no Iraque

Ali Jasim/Reuters
Atentado com gás: nova arma do terror

Não é exatamente o que os Estados Unidos procuravam quando invadiram o Iraque, em 2003. Mas, afinal, encontraram armas químicas no país. Nada a ver com o arsenal sofisticado citado nas justificativas para depor Saddam Hussein. São armas rudimentares, improvisadas pelas milícias empenhadas em massacrar membros de etnias rivais e atacar as tropas americanas. Na semana passada, os Estados Unidos descobriram, na cidade de Karma, a 40 quilômetros de Bagdá, uma fábrica clandestina de armas químicas e carros-bomba em que havia cilindros de cloro e tanques de gás propano. No último mês, houve três atentados com caminhões carregados de gás cloro, matando 23 civis e deixando mais de 200 feridos ou envenenados. O gás cloro é extremamente tóxico e foi usado pelas tropas alemãs contra os ingleses na I Guerra Mundial. Irrita a pele e os olhos e, se inalado em alta concentração, causa queimaduras internas e pode matar. Os autores dos atentados têm utilizado o gás de uma forma pouco eficiente. Eles queimam a maior parte do cloro. Para matar mais gente, bastaria que abrissem as latas e deixassem que o gás se espalhasse com o vento. Os insurgentes estão mudando suas táticas, mas a estratégia continua a mesma. "Eles não querem apenas matar. Eles querem difundir o medo na sociedade iraquiana", diz Wayne White, ex-vice-diretor do Escritório de Inteligência do Oriente Médio do Departamento de Estado americano. Segundo White, o gás cloro é fácil de fabricar, mas difícil de difundir numa forma que seja altamente letal. O efeito psicológico de difundir o pânico, porém, é o mesmo.

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