editorial |
O Estado de S. Paulo |
28/2/2007 |
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva - não há como evitar a expressão - é dose. Ele não consegue formar o Gabinete do segundo mandato porque, logo depois da reeleição, prometeu um Ministério para a ex-prefeita Marta Suplicy, descobriu tardiamente que não tinha onde encaixá-la sem criar problemas para o seu governo, enquanto o PT encampava a sua indicação; porque não sabe como contemplar o PMDB dos senadores Renan Calheiros e José Sarney sem magoar o PMDB do deputado Michel Temer, enquanto espera que o partido o substitua no comando pelo seu preferido Nelson Jobim; porque precisa dar uma vaga ao PDT, o mais novo membro da ampla coalizão lulista de 11 legendas, mas o pedetista que tem em mente não é o pedetista que os pedetistas querem ver ministro; porque, se dependesse dele, não haveria reforma ministerial, mas isso é impensável para os sôfregos partidos da base expandida; porque lhe falta aptidão para negociar, mesmo a partir da mais privilegiada das posições políticas concebíveis no presidencialismo; porque lhe falta aquela liderança que não advém exclusivamente das ruas e das urnas e que, diferentemente do que possa imaginar, não é sinônimo de popularidade; porque, em suma, tem horror a tomar decisões quando as decisões têm custo diferente de zero. Mas não é nem por tudo isso que o presidente é dose. O termo se aplica em razão do seu comportamento no mais arrastado processo do gênero de que se tem notícia na história republicana. E a tônica desse comportamento é o absoluto pouco-caso com a credulidade, o discernimento e a paciência da opinião pública. Lula diz hoje uma coisa, amanhã outra, trata de espalhar versões sobre o que pretende apenas para mandar desmenti-las na primeira oportunidade, alardeia que o governo funciona que é uma beleza, quando até o mais distraído dos contínuos da Esplanada sabe que a administração parou à espera do que trará o dia seguinte, ou a semana seguinte, ou o mês seguinte. E, de volta ao velho estilo, ele culpa os outros pelo nó que mantém atado, cultivando o pensamento mágico de que o tempo se incumbirá de desfazê-lo. No mensalão, a culpa foi dos traidores que Lula não se deu ao trabalho de identificar; no dossiê Vedoin, culpados foram os aloprados do comitê central de sua campanha; agora, as nomeações não se consumam porque esses políticos ficam entrando e saindo dos partidos, deixando-o sem saber, pobre dele, com quantas divisões ficará cada qual no Congresso e, portanto, que pedaço do butim cada qual fará por merecer. Assim como quis acondicionar em algodão e celofane as evidências de caixa 2 no PT, falando em "recursos não contabilizados", agora, em vez do chulo troca-troca com que o público em geral se refere ao ir-e-vir dos deputados, Lula cunhou a elegante e eticamente neutra expressão "processo de alinhamento" partidário. Só quando terminar "esse movimento dentro dos partidos políticos", disse Lula no seu programa Café com o Presidente, terá "mais tranqüilidade para definir a montagem do governo". É dose dupla. Primeiro, porque o autodenominado paladino da moralização dos costumes políticos - mediante uma reforma que, entre outras novidades, coibiria a infidelidade partidária - trata dessa patologia do sistema como se fosse a coisa mais natural e menos reprovável do mundo. Segundo e pior ainda, porque sugere que não tem nada com isso. O Globo de ontem informava, porém, que "o Planalto tem estimulado o crescimento de algumas legendas aliadas, principalmente o PR (ex-PL)". O novo partido do vice José Alencar elegeu 25 deputados. Está com 33. Pretende chegar a 45. "O governo pensa também em vitaminar o PAN, que só elegeu 1 deputado, já está com 5 e pode ganhar o reforço do ministro Walfrido Mares Guia." Descontados o eufemismo e o cinismo, o "processo de alinhamento" é uma desculpa esfarrapada para a incapacidade presidencial de escolher o seu time. Em comparação com a esbórnia no seu primeiro governo, o processo é café pequeno. Até a denúncia do mensalão, mais de 100 dos 513 deputados foram incentivados a mudar de legenda. Agora, as trocas são da ordem de 20. Muito pouco para travar a definição de um Gabinete. Mas desde quando os fatos impediram Lula de dizer o que quer? |
Entrevista:O Estado inteligente
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