A reportagem de capa da “Economist” é sobre o fim do papel moeda. Ele vem sendo substituído por dinheiro eletrônico, cartões, transferências virtuais há longo tempo. No Brasil, tudo isso começou a ser possível após a reforma monetária bem sucedida do Plano Real. Hoje há mais cartões que gente no Brasil e nos últimos cinco anos as transações com eles aumentaram 200%.
Isso dá uma noção de como são velhas as coisas que estão acontecendo nos vizinhos. Na Venezuela, o presidente Hugo Chávez vai trocar três zeros da moeda, está controlando preços, ameaçando intervenção e estatização de supermercados e frigoríficos: fósseis do tempo do descontrole inflacionário na América Latina.
Igualmente jurássico foi o momento vivido na Argentina semanas atrás.
Durante uma tarde inteira não se sabia que número seria autorizado a sair do instituto de pesquisa de preços oficial: a presidente do órgão tinha sido demitida, os funcionários estavam rebelados, o número 2,1% para a inflação de janeiro circulava como verdadeiro, mas o governo não liberava o número oficial. Quando liberou era quase a metade do que oficiosamente se conhecida: 1,1%. E o país está há quatro anos com tarifas sob controle e a lista dos preços vigiados ou congelados se amplia.
Enquanto isso, no Brasil, o partido do governo comemorou seu aniversário concentrando esforços em atacar o Banco Central. Há críticas procedentes ao BC mas o fato é que o Brasil parece mais com o mundo de hoje do que nossos vizinhos venezuelanos e argentinos.
Aqui, a divulgação do índice de cada mês não gera expectativa e é preciso que os jornalistas de economia digam se ficou acima ou abaixo das previsões de mercado.
O Copom, que tanta raiva provoca às vezes, é inspirado no FOMC americano, em que diretores do banco central se reúnem, discutem a conjuntura, cruzam todos os dados e depois tomam sua decisão, mais tarde divulgam a ata. É uma instituição dos novos tempos, mas tem muito que aperfeiçoar seu sistema de apuração de dados e de transparência.
Nos Estados Unidos por exemplo as autoridades monetárias estaduais fazem parte desse conselho e todos os votos são div u l g a d o s .
Não há um paralelismo possível, nessa idéia de ter autoridades monetárias estaduais como o que tem lá, mas esses relatórios regionais ajudam a dar uma visão mais plural do momento econômico de um país com ciclos econômicos diferenciados.
No Brasil, os indicadores são pouco abrangentes, portanto dados mais acurados de cada região ajudariam melhor a visão da conjuntura .
Nos últimos três anos, por exemplo, houve recessão no Sul e houve um fenômeno atípico no Nordeste: as vendas aumentaram, mas a produção cresceu pouco. As várias temperaturas do Brasil não são vistas pelo Copom, mas seus efeitos foram vistos nas divisões do voto durante as eleições pesidenciais .
Nos Estados Unidos se divulga o voto de cada diretor.
Isso ajuda a entender as divergências de pontos de vista. Nessa área monetária vale o oposto da lei Delúbio Soares: “transparência de menos é burrice”, porque o ideal é criar mais confiança na autoridade monetária ampliando a transparência das decisões.
As idéias que surgem de vez em quando, entre conhecidos grupos de lobbies, ou de alas do PT são pré-históricas. Defende-se de vez em quando que haja trabalhadores e empresários no Copom. Isso faria dele uma nova versão do velho Conselho Monetário Nacional na época em que empresários de diversas áreas participavam da reunião que decidia se o Estado deveria dar ou não subsídio, perdoar ou não dívidas, emitir mais ou menos.
Aquele CMN, de quem tantos jurássicos sentem falta, era o sindicato da coalizão inflacionária.
Os bancos centrais são criticados no mundo inteiro, mas até agora tudo o que se conseguiu de melhor é dar a eles autonomia, meta e penalidades. Caso não cumpram a meta, os diretores vão para casa. As escolhas devem ser técnicas e eles devem cumprir regras de afastamento de negócios particulares quando entram, e quarentenas quando saem e devem ter mandato sem coincidência com o mandato presidencial.
O que a “Economist” está falando é do fim da era do papel-moeda, mas não do fim do dinheiro evidentemente.
Ele continuará regulando as transações financeiras, mas agora a um custo cada vez menor, porque a emissão de papel e de moedas custa muito d i n h e i ro .
O Brasil começou a encerrar em 1994 com o Plano Real um período que vitimou os pobres, tumultuou a economia e viciou os empresários.
Cortamos vários zeros, fizemos várias experiências, inúmeros vezes apareceram idéias supostamente salvadoras como controlar preços, ou como pactos entre empresários e trabalhadores. Nada deu certo. O começo do futuro foi o Plano Real feito no governo Itamar Franco, pela equipe que só Fernando Henrique conseguiria levar para o governo e após a abertura feita no governo Collor. Mas o que aprendemos depois com os sempre repetidos ensinamentos de Pedro Malan: a estabilidade é um processo.
Uma etapa do processo foi a manutenção dos pressupostos da política econômica no governo Lula. A tarefa ainda está inconclusa e o Brasil ainda não é um país normal. Mas uma coisa sabemos: conhecemos os caminhos tentados agora pela Venezuela e Argentina.
Já sabemos que não vão dar em nada.
Entrevista:O Estado inteligente
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