O capixaba Acioli Pariz Júnior acreditava que,
na Inglaterra, poderia viver livremente sua opção
sexual. Acabou assassinado de forma brutal
Juliana Linhares
Fotos arquivo pessoal |
Fotos tiradas da página de Acioli Pariz Júnior no Orkut, com imagens de sua vida na Europa, iniciada depois do Carnaval de 2005: o provável assassino já havia sido condenado por outro assassinato |
Em 2005, o desempregado capixaba Acioli Pariz Júnior, de 29 anos, cumpriu um roteiro comum entre brasileiros de classe média sem perspectivas profissionais: deixou o país para tentar a vida no exterior. No caso de Acioli, o destino escolhido foi Londres, na Inglaterra, onde ele passou a trabalhar ilegalmente como segurança de uma academia de ginástica. Ao decidir morar em uma capital européia, Acioli tinha também outro sonho: viver livremente sua opção sexual. Morador de Jaguaré, uma minúscula cidade do interior do Espírito Santo com 21.000 habitantes, em 2003 o jovem havia rompido um noivado. O motivo: a noiva descobrira que ele mantinha relações homossexuais. Sentindo-se discriminado, apesar do apoio de sua família, Acioli resolveu deixar a cidade e partir para a capital inglesa. No último dia 14, a temporada londrina terminou de maneira trágica. O brasileiro foi encontrado morto em um quarto do Westminster House Hotel, em Ebury Street, região central de Londres. Seu corpo apresentava sinais de espancamento, duas perfurações no abdômen e golpes na cabeça. Depois de uma semana de investigações, o Metropolitan Police Service (Met) prendeu e indiciou o inglês Roderick George McDonald, de 51 anos, pela morte de Acioli. Câmeras de estabelecimentos comerciais situados na mesma rua do hotel captaram cenas do brasileiro e de McDonald caminhando juntos na noite da terça-feira 13, dia anterior ao crime, em direção ao Westminster.
Parentes de Acioli disseram a VEJA que, segundo informações fornecidas pela polícia, foi o inglês quem preencheu a ficha de entrada no hotel. A polícia londrina também revelou que McDonald é um foragido da Justiça. Em 1993, ele havia sido condenado à prisão perpétua pelo estrangulamento de sua então mulher, mas escapou da prisão em 2005. Informações divulgadas pela imprensa britânica dão conta de que o inglês seria bissexual e teria assassinado a mulher porque ela se recusou a manter relações com um de seus parceiros. Em entrevista a VEJA, Cristiano Pariz, primo de Acioli, disse que o brasileiro se relacionava com homens e mulheres e que, em dezembro, lhe enviou um e-mail contando estar namorando um "homem mais velho". "Não tenho certeza se é o sujeito preso, mas pode ser", diz Pariz. Um amigo de Acioli, que pede para não ser identificado, contou a VEJA que McDonald e o brasileiro haviam vivido um breve romance, e que o inglês o perseguia atrás de reconciliação.
Quase um ano depois de chegar a Londres, Acioli mudou-se para Blackpool, cidade litorânea ao norte da capital inglesa, para trabalhar em um parque de diversões. Foi lá que teria conhecido McDonald. Havia dois meses, o brasileiro voltara para Londres. "Esta é a minha terra. Aqui, posso ser eu mesmo", escreveu para um amigo brasileiro que também mora na cidade. Acioli passou a dividir uma casa com outros conterrâneos, no bairro de Camden, e arrumou um emprego de caseiro. Tatuou na barriga a palavra amor, em japonês, e planejava visitar a família, depois do Carnaval. Seu projeto foi interrompido com uma brutalidade que chocou até mesmo a polícia.