Entrevista:O Estado inteligente

sábado, fevereiro 24, 2007

Sonho e morte de um brasileiro em Londres


O capixaba Acioli Pariz Júnior acreditava que,
na Inglaterra, poderia viver livremente sua opção
sexual. Acabou assassinado de forma brutal


Juliana Linhares

Fotos arquivo pessoal
Fotos tiradas da página de Acioli Pariz Júnior no Orkut, com imagens de sua vida na Europa, iniciada depois do Carnaval de 2005: o provável assassino já havia sido condenado por outro assassinato

Em 2005, o desempregado capixaba Acioli Pariz Júnior, de 29 anos, cumpriu um roteiro comum entre brasileiros de classe média sem perspectivas profissionais: deixou o país para tentar a vida no exterior. No caso de Acioli, o destino escolhido foi Londres, na Inglaterra, onde ele passou a trabalhar ilegalmente como segurança de uma academia de ginástica. Ao decidir morar em uma capital européia, Acioli tinha também outro sonho: viver livremente sua opção sexual. Morador de Jaguaré, uma minúscula cidade do interior do Espírito Santo com 21.000 habitantes, em 2003 o jovem havia rompido um noivado. O motivo: a noiva descobrira que ele mantinha relações homossexuais. Sentindo-se discriminado, apesar do apoio de sua família, Acioli resolveu deixar a cidade e partir para a capital inglesa. No último dia 14, a temporada londrina terminou de maneira trágica. O brasileiro foi encontrado morto em um quarto do Westminster House Hotel, em Ebury Street, região central de Londres. Seu corpo apresentava sinais de espancamento, duas perfurações no abdômen e golpes na cabeça. Depois de uma semana de investigações, o Metropolitan Police Service (Met) prendeu e indiciou o inglês Roderick George McDonald, de 51 anos, pela morte de Acioli. Câmeras de estabelecimentos comerciais situados na mesma rua do hotel captaram cenas do brasileiro e de McDonald caminhando juntos na noite da terça-feira 13, dia anterior ao crime, em direção ao Westminster.

Parentes de Acioli disseram a VEJA que, segundo informações fornecidas pela polícia, foi o inglês quem preencheu a ficha de entrada no hotel. A polícia londrina também revelou que McDonald é um foragido da Justiça. Em 1993, ele havia sido condenado à prisão perpétua pelo estrangulamento de sua então mulher, mas escapou da prisão em 2005. Informações divulgadas pela imprensa britânica dão conta de que o inglês seria bissexual e teria assassinado a mulher porque ela se recusou a manter relações com um de seus parceiros. Em entrevista a VEJA, Cristiano Pariz, primo de Acioli, disse que o brasileiro se relacionava com homens e mulheres e que, em dezembro, lhe enviou um e-mail contando estar namorando um "homem mais velho". "Não tenho certeza se é o sujeito preso, mas pode ser", diz Pariz. Um amigo de Acioli, que pede para não ser identificado, contou a VEJA que McDonald e o brasileiro haviam vivido um breve romance, e que o inglês o perseguia atrás de reconciliação.

Quase um ano depois de chegar a Londres, Acioli mudou-se para Blackpool, cidade litorânea ao norte da capital inglesa, para trabalhar em um parque de diversões. Foi lá que teria conhecido McDonald. Havia dois meses, o brasileiro voltara para Londres. "Esta é a minha terra. Aqui, posso ser eu mesmo", escreveu para um amigo brasileiro que também mora na cidade. Acioli passou a dividir uma casa com outros conterrâneos, no bairro de Camden, e arrumou um emprego de caseiro. Tatuou na barriga a palavra amor, em japonês, e planejava visitar a família, depois do Carnaval. Seu projeto foi interrompido com uma brutalidade que chocou até mesmo a polícia.

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