Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Celso Ming - Nova pressão sobre o câmbio




O Estado de S. Paulo
27/2/2007

Um equívoco não se torna verdade apenas porque seja muitas vezes repetido.

Um desses equívocos tantas vezes repetido é o de que bastaria que o Banco Central derrubasse corajosamente os juros para que o dólar deixasse de derrapar no câmbio interno.

É verdade que a derrubada dos juros ajudaria, se não a reverter a valorização do real, ao menos a reduzir a velocidade com que ocorre. Mas há muita confusão sobre isso.

Convém ter clareza sobre o fato de que ainda são os exportadores que estão derrubando o dólar. Apesar do crescimento das importações, o superávit comercial deste ano não deverá ser muito diferente dos US$ 46,1 bilhões obtidos no ano passado e isso deixa enorme sobra de dólares no câmbio interno. Mas a exuberância exportadora já não explica tudo. Até há algumas semanas, era irrelevante a entrada líquida de moeda estrangeira pela Conta de Capitais, razão pela qual não fazia sentido dizer que os dólares afluíam para aproveitar a diferença entre juros internos e externos (arbitragem). Isso não significa que não houvesse arbitragem ou que ela não fosse importante. Significa apenas que, apesar dela, o fluxo financeiro não era relevante para definir a cotação do dólar. Podia-se até afirmar que mais importante era o fato de que a saída de capitais já não é tão forte como há alguns anos - porque os capitais preferem permanecer aqui para tirar proveito dos juros internos mais altos.

Afora isso, desde janeiro, o afluxo de capitais está mais denso e os dólares vêm, sim, para aproveitar a diferença de juros. Mas - atenção - isso nada tem a ver com especulação nem com o nível dos juros básicos (Selic).

A maior parte desses capitais são empréstimos de prazo mais ou menos longo, feitos por empresas ou instituições nacionais, para financiar capital de giro ou projetos de investimento. Vêm porque os juros são baixos, em torno de 7% ao ano, mais baixos do que os quase 30% ao ano cobrados, em média, pelos bancos locais.

Essas contratações de empréstimo eram evitadas porque o tomador temia o risco cambial. Esse risco implicava endividar-se em dólares, converter esses dólares em reais às cotações relativamente baixas e ter de enfrentar eventual desvalorização cambial que, na hora de pagar a dívida, renderia menos dólares por reais. Reservas perto dos US$ 100 bilhões e risco cada vez menor de desvalorização do real diante do dólar vêm, assim, encorajando os tomadores brasileiros a endividar-se em dólares.

E a entrada muito mais forte desses capitais aumentou a pressão do capital financeiro sobre o câmbio interno cujas cotações não são mais fixadas quase tão-somente pelo saldo comercial.

Só que - mais uma vez atenção - não seria a redução mais forte da Selic que reduziria esse afluxo. E isso por uma única razão: porque os juros com que os bancos brasileiros trabalham nas operações de financiamento para pessoas jurídicas são muito mais altos, em razão do enorme spread (diferença entre custo de captação e de aplicação) dos bancos, o que vem puxando os juros anuais para 26% ao ano, como ontem divulgou o Banco Central.

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