O Globo |
28/2/2007 |
Pode-se baixar até mesmo a maioridade penal dos fetos, mas é o caso de se pensar para que serve a maioridade dos adultos do andar de cima. Às 23h30m da terça-feira de carnaval, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, estava numa chácara de Ibiúna, nas cercanias de São Paulo, quando a casa foi invadida por três bandidos. Dominaram os donos da casa, quatro casais convidados com seus filhos e os empregados da casa. Como não encontraram dinheiro, exigiram que o dono da casa, o empresário Victor Garcia Sandri, arrumasse cerca de R$20 mil. Sandri foi com um dos bandidos a São Paulo, conseguiu o ervanário e regressou a Ibiúna cinco horas depois. Os assaltantes foram embora. O empresário disse que deu queixa à polícia numa delegacia que não sabe direito onde fica. Até a tarde de segunda-feira, não havia BO com seu nome em qualquer delegacia dos 645 municípios de São Paulo. Mantega tem ao seu alcance a proteção da Polícia Federal. Preferiu ligar para o governador de São Paulo, prerrogativa dos detentores do babilaque "sabe-quem-está-telefonando?" Fez isso doze horas depois do episódio. Sandri disse que não poderia reconhecer os bandidos porque eles estavam encapuzados. Mesmo se sabendo que aquela era a última noite de carnaval, é improvável que um sujeito encapuzado rodasse no banco do carona durante três horas por São Paulo sem que alguém achasse a cena esquisita. Três dias depois do delito, a mulher do ministro, Eliane Berger Mantega, disse à repórter Soraya Aggege que não queria fazer "reconhecimento de ninguém". Mais: "Os caras foram supergentis, só queriam dinheiro." É razoável que pessoas submetidas a situações violentas fiquem desorientadas. É compreensível que não procurem a polícia, por medo de uma vingança dos bandidos. Essa é a atitude de 25% das vítimas em São Paulo. (Tudo gente que não tem o telefone de José Serra.) Mantega é ministro da Fazenda e está obrigado a se comportar como autoridade pública. Deveria ter pedido ao anfitrião que notificasse imediatamente a polícia. Bastava discar 181. O ministro poderia ter chamado prontamente a central telefônica do Planalto, para que ela o ligasse com a Polícia Federal. Esses eram os caminhos institucionais, capazes de levar à rápida captura dos bandidos. Doze horas depois, a sorte se passa para o lado dos delinqüentes. Coisas estranhas acontecem aos hierarcas em situações inesperadas. São tocados por algum demônio que converte o imprevisto em impotência. Nos anos 60, um cidadão entrou no gabinete do ministro da Educação, Pedro Aleixo, e disse que ia matá-lo. Conversaram e contou o motivo: o ministro trabalhava até tarde, retinha sua mulher no serviço e, por isso, ela o traía com outro. Pedro Aleixo explicou-lhe que não havia razão para tanto. Tendo-o convencido, levou-o à porta. Não chamou o guarda. O cidadão matou a mulher. Um ano antes, o chefe da Casa Civil, Luís Viana Filho, ia em seu carro oficial pela Rua Santa Luzia. Atropelou um ancião. Formado um grupo de curiosos, o doutor disse ao motorista que cuidasse do caso, deu meia-volta e foi a pé para o Senadinho, a um quarteirão de distância. Horas depois, Luís Viana soube que o atropelado (morto) era o médico Maurício de Medeiros, seu colega na Academia Brasileira de Letras. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, fevereiro 28, 2007
Élio Gaspari - O reflexo de Mantega demorou doze horas
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