O IBGE divulgou, vocês viram, o índice de crescimento do ano passado: 2,9%. Ele passará por uma revisão, submetido a uma nova metodologia, mas é por aí. Antes que avance com alguma outra consideração, quero relembrar o conteúdo de duas notas aqui publicadas já faz tempo: Trecho de uma nota deste blog de 30 de agosto: Nos primeiros quatro anos (1995-1998), a média de crescimento do governo FHC foi de 2,57% (4,22%, 2,66%, 3,27% e 0,13%); no segundo (1999-2002), de 2,09% (0,79%, 4,36%, 1,31% e 1,93%). Houve apagão em 2001 e Lulão em 2002. O petista vive os melhores quatro anos da economia mundial do pós-guerra. As exportações, no período, dobraram de tamanho; o risco país, de fato, despencou — as taxas reais de juros, no entanto, continuam estratosféricas. Trecho de uma nota desta blog de 8 de novembro A economista Cristiane Quartaroli, do banco Santander, também revisará as projeções para 2006. Atualmente, a previsão do banco aponta uma expansão de 3,1% para o PIB. 'Devemos mudar o número para um nível abaixo de 3%', afirmou. Mauricio Oreng, economista da Itaú Corretora, deve revisar sua atual projeção de 3,4%, para algo próximo de 3,2%. O ABN Amro Asset Management reduziu a estimativa de crescimento de 3% para 2,9%.” (...) Estando certo o ABN, os números do espetáculo do crescimento petista serão os seguintes: 2003 – 0,5% 2004 – 4,9% 2005 – 2,3% 2006 – 2,9% Média: 2,65% De volta aos dias de hoje Enquanto eu redigia aquela nota de 8 de novembro, faltando menos de dois meses para terminar o ano, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, jurava que o país cresceria 4%. Enquanto eu redigia aquela nota de agosto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, faltando menos de quatro meses para encerrar o ano, jurava que o país cresceria 5% — “ozeconomistas” afinados com o governo eram menos otimistas: apostavam em 3,6%... Pesquisem para ver. Acho uma certa facilidade retórica esse negócio de dizer: “Ah, só crescemos mais do que o Haiti”, embora, é fato, só tenhamos crescido mais do que o Haiti... Na contabilidade geral, entram números mágicos como o crescimento de 12,5% de Cuba e de 10% da Venezuela. Esta, por causa do petróleo, e aquela, do conjunto da obra, apontam para números que não podem ser levados a sério. Acho que o ponto não é esse. O que interessa é saber como o Brasil está se aproveitando do ciclo de expansão da economia mundial — em suma, interessa saber se estamos ganhando terreno ou cedendo. Há muito tempo o Brasil cresce menos do que o mundo: na década de 90, perdemos de 2,7% a 3,4%. No ano passado, 2,9% a 5,1%. O resumo da ópera é o seguinte: a média de crescimento do governo Lula é igual à do governo FHC, mas, na comparação com o mundo, o país cresce bem menos. E isso tudo sem crise nenhuma. A sacudidela no mercado chinês, como aqui se disse, é um ajuste passageiro, nada que aponte para o caos. Mas foi uma evidência de que a economia deve desacelerar um pouco. O mesmo deve acontecer com os Estados Unidos. Há uma boa chance de que o melhor da festa já tenha passado. Estêvão Kopschitz, economista do Ipea, falou à Folha On Line: “O que impede um crescimento maior não é a conjuntura, mas fatores estruturais. É o baixo nível de investimento há muito anos. Nem investimento público nem ambiente favorável para o investimento privado, além de uma carga tributária causada pelo aumento das despesas do governo." Alegorias Pode ser que o Brasil esteja condenado ao baixo crescimento em razão, sei lá eu, de uma determinação climática, geográfica, étnica — algo a ver com o homem cordial ou a formação do patrimonialismo brasileiro. Cada um escolha a sua variante determinista. Não descarto que alguém culpe os mamelucos, os cafuzos, o consumo deficiente de vitaminas dos senhores de engenho... É verdade, gente: Dona Zelite comia mal no Brasil colonial. Virá daí algum déficit insanável? Não sei. Mas o que sei? A gente pode determinar amanhã: ou se fazem as reformas tributária, previdenciária e política, ou jamais sairemos do buraco. Então tá. Você pode ler O Príncipe, de Maquiavel, e se convencer de que os atos da vontade estão submetidos a alguma condições objetivas, num equilíbrio delicado entre a Fortuna e a Virtude. E você pode resolver contrariar O Pequeno Príncipe — qualquer livro no país já faz diferença — e pedir ao povo que se lance ao mar para se salvar. Se ele não topar, é porque é irremediavelmente atrasado. Certo. Também achei que fui alegórico demais. Sintetizo: não adianta estabelecer como pré-condições para um crescimento robusto o que se sabe, de antemão, que não será realizado. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, fevereiro 28, 2007
O PIB e alguma alegoria Por Reinaldo Azevedo
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