Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, fevereiro 20, 2007

Nossas elites são as grandes responsáveis pelo retrocesso que vivemos no Brasil

por Augusto de Franco

Quem fizer uma pesquisa nos órgãos estatais perguntando a opinião de seus colaboradores sobre Chávez, sobre a democracia, sobre as instituições do Estado de direito (e sobre outros tópicos de menor importância para as nossas elites míopes, que só se preocupam com o seu ganho imediato) se surpreenderá com o resultado. Constatará a existência, numa proporção inimaginável, de consciências colonizadas pelas idéias autocráticas da velha esquerda. Não acreditam? Tirem a prova!

Não, não adianta conversar com o presidente, os ministros, os deputados e os senadores petistas – profissionais da dissimulação – para desfazer a má impressão. Conversar com esses atores é algo mais ou menos assim como o "me engana que eu gosto". Há um processo de hegemonização em curso que dificilmente será revertido com a troca de poder em 2011 (se de fato essa troca ocorrer...) ou em 2015 (o mais provável, a julgar pelas circunstâncias atuais).

O aparelhamento da administração federal promovido pelo PT é um fato. Mas não é o fato mais grave. Mais grave é a ocupação – física e ideológica – que atualmente ocorre (na verdade, que nunca parou de se processar) nas empresas estatais em conexão direta com os sindicatos e outros órgãos corporativos ligados à CUT. É um verdadeiro exército. São agentes que compõem as bases desse Estado-paralelo criado pelo 'PT-no-governo'. Trata-se de um esquema poderosíssimo, como jamais possuiu algum presidente da República.

E isso acontece porquanto as oposições são tão tíbias quanto tolas: acreditam na conversa dos articuladores políticos do lulopetismo e acham que tudo é sempre a mesma coisa. Não é.

E isso acontece porque as nossas elites são alheias à política e preferem acreditar que sempre vão continuar onde estão, independentemente do governo de turno. Não vão.

Temos que tirar o chapéu: o lulopetismo é muito esperto. Agrada o financismo, para financiar o esquerdismo. Se apóia nas mazelas do velho sistema político para sabotar por dentro as instituições. Mimetiza as formas tradicionais de corrupção política para poder introduzir sua inédita 'corrupção de Estado'.

Quem vai parar essa escalada? Como vamos desbaratar esses poderosos contingentes? Como vamos dar um basta nesse processo de tomada do poder no Brasil (não me refiro ao processo eleitoral, de ascensão ao governo, mas ao processo de tomada de poder mesmo, que vem sendo feito subterraneamente pelo petismo que não se vê)?

Sim, o maior perigo não é o petismo que se vê e sim o que não se vê. Enquanto nossos parlamentares oposicionistas e a imprensa ficam acreditando no jogo de cena que ocorre nas casas legislativas e nas atividades de marketing do Palácio (quase todas são isso mesmo), um outro jogo está sendo jogado. O lulopetismo avança, sem competidor, no Banco do Brasil, na Caixa, no BNDES, na Petrobrás, nos Fundos de Pensão e em numerosos outros órgãos, empresas e entidades, em cujo funcionamento não prestamos atenção.

É. Eles estão se enraizando. Eles estão convictos de que o jogo democrático-formal é apenas "para inglês ver" (e tiram dessa convicção todas as conseqüências). Mas, enquanto isso, nossos liberais ficam emitindo interjeições próprias de uma visão de democracia do século 19, imaginando que assim sensibilizarão alguém no Brasil nesta altura do campeonato. Vão continuar falando para as paredes.

Os liberais estão fora do jogo. A menos que queiram jogar o jogo do governo, como figurantes descartáveis de uma peça cujo sentido lhes escapa. Os pragmáticos estão dentro do jogo somente porquanto o lulopetismo ainda não atingiu aquele nível de "acumulação de forças" a partir do qual os descartará também. E, por último, os críticos de mentalidade estatista vão ser capturados, um a um: até mesmo Cristovam Buarque, que sabe do que se trata, foi neutralizado. E o caso de Jefferson Peres é emblemático. Acho desnecessário falar dos social-democratas, pois já vimos a que levou a sua postura vacilante, leniente, conivente e colaboracionista.

Embora pareça um pouco antipática a observação, não consigo entender como nossos agentes políticos possam ser tão desprovidos de inteligência.

Mas o problema mesmo está em nossas elites como um todo (políticas, econômicas, culturais), que imaginaram que poderiam jogar o jogo do lulopetismo sem nenhuma preparação para tanto. Essas sim, são as grandes responsáveis pelo retrocesso que está ocorrendo no Brasil e que vai se aprofundar e se ampliar nos próximos anos.

Publicado em 20/02/2007

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