O Globo |
28/2/2007 |
Se a queda da bolsa de Shangai, levando de roldão as bolsas mundiais, não significar mesmo, como todos os especialistas estão dizendo, o início de uma crise financeira globalizada, uma nova crise asiática como a iniciada em outubro de 1997 - quando os chamados tigres asiáticos (primeiro os "tigrinhos" Tailândia, Malásia, Indonésia e Filipinas, logo em seguida os "tigres" Coréia do Sul e Hong Kong) sofreram freqüentes quedas nas suas Bolsas de Valores, crise financeira essa que atingiu especialmente o Brasil, com a Bolsa de Valores de São Paulo caindo 14,9% no dia 27 de outubro -, podemos continuar brincando de onde está Wally para montar o Ministério do segundo mandato do presidente Lula. A parte mais interessante dessa heterodoxa montagem ministerial a que se dedica o presidente Lula é a tentativa de encaixar o sanitarista José Gomes Temporão no Ministério da Saúde. Se o presidente está tão impressionado com sua capacidade de gestão que insiste em tê-lo em sua equipe, por que não fecha questão e o coloca em sua cota pessoal, sem necessitar de apoio político? Não há nenhuma razão para que o presidente não tenha em sua equipe uma pessoa que considere tão imprescindível. O deputado Henrique Eduardo Alves, que lidera o movimento dentro do PMDB contra a nomeação de Temporão, já demonstrou que não tem discernimento para impor suas vontades, nem para liderar movimentos políticos. Assim como acha normal pagar por reportagens a seu favor no seu próprio jornal, e ainda exibe os recibos, também acha normal tratar o Ministério da Saúde como simples barganha política. O presidente já tomou posse há quase dois meses, já foi eleito há mais de quatro meses, e ninguém sabe quem fica ou quem entra neste segundo Ministério. Descobrir por que o presidente demora tanto a se decidir pode significar decifrar um enigma que ameaça nos devorar a todos nesses próximos quatro anos. Entre as diversas hipóteses, duas são as mais prováveis. O presidente estaria empenhado em denunciar publicamente a maneira nada séria como os partidos políticos tratam as questões de Estado. De fato, Lula parece estar dedicado a desmoralizar os partidos políticos, expondo-os à execração pública pela maneira absolutamente inescrupulosa com que se jogam à disputa de cargos, sem projetos, sem ambições que não sejam as mais rasteiras e imediatistas, sem se darem ao respeito. Enquanto isso, o presidente apareceria para o grande público como empenhado em fazer um Ministério "técnico", querendo nomear um grande gestor para a Saúde, tentando evitar que a ambição política do PT use o Ministério para fortalecer a candidatura de Marta Suplicy não para ser a boa ministra das Cidades ou da Educação, mas a presidente da República na sucessão de Lula. Mas há uma segunda hipótese: o presidente simplesmente não sabe decidir. À medida que o tempo vai passando sem uma definição, Lula pode dar a impressão de fraqueza, de não saber o que realmente quer deste segundo mandato. A cada dia que muda de opinião, pode dar a sensação de estar tentando contornar problemas com os partidos, mas pode também deixar a impressão de que não consegue se impor aos aliados, sendo manipulado por eles. Onde já se viu um partido político dizer que não abre mão de determinado cargo, como se tivesse direitos hereditários a ele? Se pelo menos houvesse um programa em processo de implantação desde o primeiro governo, seria o caso de o partido lamentar não poder prosseguir com o trabalho, e até mesmo pressionar com números e dados para mostrar que a mudança seria prejudicial ao país neste ou naquele setor. Mas não se vê nada disso. Todos estão de olho nas grossas verbas previstas no PAC para saneamento e construção civil, não exatamente pelo bem que poderão causar ao desenvolvimento, mas pelos votos que poderão trazer a este ou aquele partido, tanto quanto na parceria com as empreiteiras das grandes obras, que financiam as campanhas políticas. Mas será que temos mesmo tempo para perder nessa politicagem? Quem é mais confiável, o ex-presidente do Fed americano Alan Greenspan, que vê sinais de recessão na economia dos Estados Unidos, ou o nosso ministro da Fazenda, Guido Mantega, que garante que as turbulências são passageiras? Pode ser síndrome de presidente do Banco Central, mas o início de pânico deu fôlego a Henrique Meirelles, que aproveitou a crise na bolsa chinesa para advertir que toda cautela é pouca, mesmo quando parece inacabável o céu de brigadeiro da economia mundial. Um país que, de potencial expoente da economia internacional, se transforma no lanterninha moral do crescimento econômico (ou alguém tem orgulho de termos crescido mais que o Haiti pelo segundo ano consecutivo, ou com a perspectiva de que este ano passaremos também o Paraguai?) precisaria pelo menos de mais pressa nas suas decisões para recuperar o tempo perdido, enquanto o período de vacas magras, inevitável, não chega. Se é que já não chegou. A mulher do ministro da Cultura, Flora Gil, depois de ter seu carro blindado alvejado 16 vezes numa tentativa de assalto ano passado no Rio, disse que aquilo poderia ter acontecido em qualquer lugar do mundo. A ministra Ellen Grace, presidente do Supremo Tribunal Federal, depois de assaltada na Linha Vermelha, no Rio de Janeiro, juntamente com o vice-presidente Gilmar Mendes, disse que assaltos acontecem. A mulher do ministro da Fazenda, a psicanalista Eliane Mantega, depois de ter ficado seqüestrada com o marido e filhos por três horas, disse que os bandidos foram "supergentis". O ministro demorou 12 horas para comunicar o crime. Que país é esse? |
Entrevista:O Estado inteligente
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