O Estado de S. Paulo |
27/2/2007 |
Assim como se fosse a coisa mais natural do mundo, o presidente Luiz Inácio da Silva ontem em seu programa de rádio - Café com o Presidente - acabou incorporando o troca-troca entre partidos ao cardápio dos desvios de conduta política considerados aceitáveis sob a ótica petista de governar. Ao justificar o atraso na reforma ministerial, Lula corroborou a tão condenada (e condenável) prática do troca-troca e deu a ela nova denominação. Passa a se chamar 'processo de alinhamento entre partidos'. Repete, guardadas as proporções da legalidade entre as questões, o gestual de dois anos atrás, quando o uso de caixa 2 nas campanhas eleitorais, rebatizado de 'recursos não-contabilizados', foi usado numa entrevista do presidente em Paris para justificar os negócios do PT com o condutor do valerioduto. Conforme disse o presidente em seu programa, é preciso aguardar o fim do 'processo de alinhamento' para, então, dar início à montagem da equipe do segundo mandato. Ao ser questionado sobre a relação de causa a efeito entre a reforma e a escolha do novo presidente do PMDB, Lula argumentou o seguinte: 'Este não é o problema. O problema é que os partidos estão num processo de alinhamento. Eu vejo: tal partido tinha 40, passou para 46, tal partido para 48, tal partido tinha 65, passou para 60. Ou seja, ainda não terminou esse movimento dentro dos partidos, o que me dará muito mais tranqüilidade na montagem do governo.' Quer dizer, o problema não é um partido ter sido eleito com 40 e, três meses depois, passar para 46, ou sair das urnas com 65 e daqui a pouco ter 60. A questão principal, na visão do presidente, é a conclusão da obra mediante a qual ele terá 'muito mais tranqüilidade' para montar o governo. Por essa visão, quando isso acontecer, a pátria estará salva e o cenário bastante nítido para que se possa fazer a divisão da Esplanada dos Ministérios e adjacências sem perigo de errar no equilíbrio da distribuição. A tese surpreende ao ser exposta por alguém que defende com tanto ardor a reforma política - 'prioritária', segundo o discurso de posse -, a respeito da qual se há um ponto de consenso é justamente o da necessidade urgente de estabelecer algum mecanismo de fidelidade partidária a fim de assegurar o respeito à vontade do eleitor na urna, fortalecer os partidos e dar um mínimo de organização ao sistema político. Do presidente, o balizador das questões da República, esperava-se uma posição politicamente mais educativa. O que se ouviu foi a aceitação do troca-troca como pré-requisito indispensável à montagem do governo. Discretamente O presidente do PMDB, deputado Michel Temer, acha injusta a avaliação feita aqui de que seu partido deixou de lado a agenda de compromissos apresentada no ano passado ao governo para se preocupar apenas com os cargos a serem ocupados no ministério. Segundo Temer, a pauta está sendo tocada, mas 'com discrição', como convém 'a quem quer agir e não produzir fatos políticos'. Para demonstrar, o deputado envia um relatório de atividades. 1. Reforma tributária: o ex-governador Germano Rigotto foi indicado o interlocutor para tratar com o Palácio do Planalto do assunto. 2. Reforma política: está na pauta do próximo programa de TV do PMDB, que tem se 'movimentado' no Congresso para pôr a reforma em votação. O texto contestado por Temer não diz que o partido não 'pensa' ou não 'conversa' sobre a agenda proposta. Aponta que não reage a posições conflitantes do governo com o proposto nem dá aos compromissos da agenda o destaque conferido aos cargos. 3. Crescimento de 5% : O presidente do PMDB cita o PAC e considera que o partido foi 'um dos principais móveis' de seu lançamento. A referência não foi ao PAC, mas à exigência do crescimento de 5%, cujo arquivamento por parte do governo não provocou reação do PMDB. 4. Contenção de gastos: 'O que está no PAC não é gasto derivado apenas de recursos públicos.' O reparo foi ao fato de o partido aceitar a posição do presidente Lula contrária à redução de despesas. Nada a ver com o PAC. 5. Renegociação da dívida dos Estados: 'Temos ouvido nossos governadores e no Conselho Político já levantamos essa questão.' Conversar é bom, mas a decisão do governo, claramente contra, não é contraditada pelo PMDB. 6. Fortalecimento da Federação: 'Toda atuação do partido é no sentido de fortalecê-la.' O texto não afirma o contrário, apenas aponta o item como inócuo, visto que enfraquecer a Federação não está nos planos de ninguém. 7. Conselho Político: 'Foi criado como propusemos; já se verificaram três reuniões com debate e oportunidade de sugestões.' Aqui Michel Temer tem razão ao corrigir de dois para três o número de encontros já realizados. Quanto ao conteúdo dos 'debates' e 'sugestões', continua inédito, sob o manto da mais absoluta discrição. |
Entrevista:O Estado inteligente
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