Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Democracia Avon Guilherme Fiuza

Democracia Avon

Vai mudar o cálculo do PIB pelo IBGE. Ótimo. Esse PIB aí, coitado, está caindo de maduro. O país real passa ao largo dele, e ainda dá adeuzinho.

O problema é que a mudança será feita pelo governo Lula. Não que o governo Lula seja incapaz. Está aí a manutenção da estabilidade econômica e, especialmente, da estabilidade política para chancelar o presidente.

O problema é que, como se sabe, o governo Lula quer controlar a informação. Não se conforma em não interferir no que o Brasil pensa do Brasil.

Desde o José Dirceu que “falava por cima” com a imprensa, até o Tarso Genro da “conspiração da mídia burguesa contra o governo popular”, passando pelas tentativas de expulsão do correspondente do “New York Times” e de enquadrar a Radiobrás porque falou do mensalão. Sem falar na tentativa de golpe no próprio IBGE, quando se tentou adestrar os dados segundo a conveniência política das autoridades.

O novo pacote de mudança metodológica, como revelou Miriam Leitão, inclui um novo cálculo dos índices de inflação, que estariam sendo “superestimados”. Era só o que faltava. Vão “descobrir” que a inflação foi menor que a divulgada (as escolas, os supermercados e a gasolina devem ser de outro planeta). E com a inflação menor, o PIB vai aparecer maior, porque terá menos desconto da elevação dos preços.

Caiu a ficha. Deve ser esse o tal plano de aceleração do crescimento.

Se na cabeça do estado-maior de Lula informação é algo que precisa ser domesticado, com os preços não é muito diferente. Desde o primeiro dia do primeiro mandato, o presidente tratou de desautorizar as agências reguladoras – e assistiu-se a coisas incríveis, como Dilma Roussef manipulando leilão de energia para jogar a tarifa para baixo.

Agora o preço do gás será o que o companheiro cocalero Evo quer. Durante a campanha eleitoral, o governo brasileiro jurou que não cederia ao populista boliviano. Cedeu às vésperas do carnaval. Garante que o aumento não vai ser repassado ao consumidor. Claro que não. O Estado absorve, depois repassa ao contribuinte – que é um ser muito mais fácil de enganar.

O lastro para todas essas manobras de intervenção em pontos sensíveis da sociedade, como informação e preços, está numa instituição que, cada vez mais, parece pairar acima de todas as outras: Luiz Inácio da Silva.

Aos pouquinhos, o PT e o núcleo do governo vão avançando sobre as demais instituições, montados no mito irresistível de Lula, o pobre que chegou lá. O próximo front é o Banco Central, guardião da estabilidade monetária que reelegeu o presidente, mas agora, pela primeira vez, alvo de comentários de Lula parecidos com aqueles dirigidos lá atrás às agências reguladoras.

O resumo é: há independência demais, o presidente precisa estar mais próximo das decisões. Aguardem as mudanças na diretoria do BC.

Assim caminha o Brasil. Aos poucos, parece que apenas duas entidades estão a salvo do derretimento das geleiras institucionais: Lula e o povo. E o PT já está tomando as providências para alcançar logo esse Brasil bipolar.

Está prontinha para discussão no congresso do partido, em julho, a medida – proposta pelo campo majoritário – que dá ao presidente da República o poder de convocar plebiscitos sem autorização específica do Congresso Nacional. Hugo Chávez – aquele que aniquilou o legislativo venezuelano e ameaça estatizar os supermercados para impedir a oscilação de preços – está, mais do que nunca, em alta por aqui.

Se a criptonita plebiscitária passar, isso não deixará de ser um final feliz para o Brasil. Lula e o povo enfim sós. Já era tempo de eliminar os intermediários dessa relação tão bonita.

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