Entrevista:O Estado inteligente

domingo, fevereiro 25, 2007

DANUZA LEÃO De mal a pior


Os criminosos adultos recrutam os adolescentes e passam a eles a função de cometer os crimes

DEPOIS DO horror que aconteceu nas vésperas do Carnaval, parecia que iríamos ter alguns dias não de esquecimento, mas de trégua, mas não; na noite de segunda-feira, segundo o jornal "O Globo", um empresário chinês foi assaltado e baleado por três adolescentes; um fugiu. A primeira notícia, publicada na terça-feira, dizia que os dois presos tinham 11 e 12 anos; no dia seguinte, que tinham 12 e 13. Ora, 11 e 12, ou 12 e 13, são pré-adolescentes; são meninos, crianças. Como tiveram acesso a essa arma? E como, nas suas mentes ainda infantis, planejaram assaltar e atirar para roubar um carro?
Com essa lei que protege os menores de 18 anos, os assaltos e violências serão, cada vez mais, cometidos por eles. Bons profissionais do crime, maiores de idade, ensinarão a eles como fazer, pois crianças dessa idade não têm condições de descolar uma arma, nem sabem como assaltar um adulto. O normal seria estarem jogando bolinhas de gude, e não assaltando e atirando. Tudo indica que estamos passando para outra fase; os criminosos adultos recrutam os adolescentes e passam a eles a função de cometer os crimes. Não é em vão que, quando se cruza um grupo de crianças de camisetona e descalças numa rua qualquer, se tem mais medo do que de um bando de adultos com cara de assaltantes. As coisas estão mudando.
Os adolescentes não têm medo; além da excitação da aventura, de brincar de bandidos, já têm uma vida tão infeliz que a idéia de passar alguns anos numa fundação "do bem-estar do menor" não lhes causa o menor medo. Vão comer tão mal quanto, dormir tão mal quanto, e conviver com outros adolescentes que também cometeram crimes; na hora do recreio cada um vai contar seus malfeitos, o que será, para eles, um assunto palpitante. Hora do recreio? E por acaso eles têm aulas? As últimas declarações de Lula sobre a diminuição da maioridade penal só fazem estimular os jovens a se tornarem criminosos.
Não se sabe de quem ter mais medo, se do ladrão, se das crianças ou se da polícia; aliás, não vamos esquecer que vários policiais suspeitos de pertencerem a organizações criminosas foram eleitos deputados nas últimas eleições. Investigações levam anos para serem concluídas, e quando isso acontece, o que é raro, ninguém vai para a cadeia. Alguém conhece algum graúdo, fora o juiz Lalau, que esteja preso (prisão domiciliar, bem entendido)? E onde anda seu cúmplice Luiz Estevão, que teve a prisão decretada há poucos meses e nunca mais se falou do assunto? Os jornais não podem acompanhar os casos; não há espaço para isso, já que a cada dia aparecem novos escândalos.
O que impede uma pessoa de cometer um crime é o medo de ir para a cadeia. Mas quem dá um golpe (como o dos Correios) sabe que dificilmente vai ser apanhado, e mesmo denunciado pela imprensa sempre terá amigos poderosos prontos a ajudar, e tudo vai ficar por isso mesmo. Houve um tempo em que eu acreditei na frase "o crime não compensa", mas hoje tenho minhas dúvidas. Os maiores ladrões estão aí na boa, "armando", e os que perderam parte de seu patrimônio -seu banco, por exemplo- estão esperando pacientemente, passeando de lancha, sabendo que vão acabar recebendo uma indenização (quem tem bons advogados não precisa nem de Deus).
Eu não sei o que fazer, mas os políticos, já que se candidataram para melhorar o país, esses têm a obrigação de fazer qualquer coisa, antes que o caldo entorne. Porque a população continua crescendo numa velocidade espantosa, e em controle de natalidade ninguém fala.

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