O Estado de S. Paulo |
23/2/2007 |
A coluna de ontem iniciou a análise da proposta de uso das reservas externas no investimento em infra-estrutura no País ou lá fora. As reservas brasileiras estão chegando aos US$ 100 bilhões (quarta-feira já estavam em US$ 97,7 bilhões) e equivalem a mais de um ano de importações. Por que manter tanto dinheiro parado no Banco Central se o que o País mais precisa é investimento em infra-estrutura, um dos grandes gargalos do crescimento econômico? Não é emprestando a juros baixos para os Estados Unidos que o País vai sair do buraco. Além de tudo, a aplicação de reservas externas em ativos em dólares corre risco de desvalorização. Todos sabemos que a economia americana está desequilibrada. Há dois megadéficits engolfando seu sistema produtivo: o das contas externas (da ordem de US$ 763,6 bilhões por ano) e o do orçamento (que no ano passado foi de US$ 248,2 bilhões). Uma das formas esperadas de ajuste é a desvalorização da moeda americana em relação às demais. Uma desvalorização do dólar de 30% transformaria em fumaça perto de 65% do superávit comercial do Brasil formado ao longo de um ano e incorporado às reservas. Enfim, até por medida de segurança, principal função das reservas, seria bom diversificar a aplicação desses recursos. É verdade que países emergentes, como China, Cingapura e até um país rico, a Noruega, têm aplicado reservas em investimentos no exterior, que, em última análise, se tornam alavanca do seu crescimento. A China do presidente Hu Jintao está comprando poços de petróleo em Angola, vai jogar US$ 7 bilhões na malha ferroviária da Nigéria, US$ 3 bilhões na rede elétrica da Indonésia e se prontificou a incorporar mineradoras ao redor do mundo, para assegurar matéria-prima para seu desenvolvimento futuro. A Venezuela tem comprado títulos do Tesouro argentino, que financiam desenvolvimento. O problema aí é de segurança. Mais dia menos dia, esses governos poderiam encampar os ativos estrangeiros, como fizeram Evo Morales na Bolívia e Hugo Chávez na Venezuela. Assim, o investimento em infra-estrutura no exterior correria riscos. Não se pode dizer que o Brasil não tenha aplicado suas reservas em algo que não sejam ativos de países ricos. O Banco Central e o Tesouro vêm recomprando dívida externa, o que não deixa de ser uma forma saudável de aplicação de reservas. Por que não aprofundar esse processo? Uma das dificuldades é separar a reserva que desempenha o papel de seguro contra crise do excesso de reserva. Em princípio, a partir do momento em que o País adotou o câmbio flutuante, o ajuste sempre se faria pelo preço da moeda estrangeira e não mais pela pilha de ativos de alta liquidez. Mas entre as novas funções das reservas brasileiras está a de apressar o reconhecimento pelas agências de classificação de risco de que a dívida nacional adquiriu grau de investimento (alto nível de segurança). Tudo se passa no Banco Central como se o nível das reservas brasileiras ainda estivesse longe do ideal. Por isso ainda não há o tal “excesso de reservas” a ser aplicado em projetos de infra-estrutura. (Amanhã tem mais.)
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Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, fevereiro 23, 2007
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