21.02, 11h30 |
Correio Braziliense O prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, acredita que o PFL deve aproveitar a refundação como Partido Democrata (o novo nome será ratificado na Convenção Nacional no dia 28 de março) para marcar sua independência eleitoral dos tucanos. Para o prefeito, ao contrário das últimas eleições, quando indicou o vice na chapa presidencial do PSDB, o novo PD deve ter uma chapa puro-sangue em 2010. “Do ponto de vista político, PFL e PSDB são partidos próximos. Mas não podemos estar mais juntos do ponto de vista eleitoral”, sustenta o prefeito, lastreado como uma das principais lideranças com voto dentro do partido. Com a longevidade de quem soma três mandatos (ou quatro, se contabilizarmos o de seu ex-aliado Luiz Paulo Conde) e se reelegeu em primeiro turno com 1,7 milhão de votos, César Maia afirma que a única união da oposição deve ser em torno de causas comuns no Congresso — o que, aliás, anda difícil. Para o prefeito, a oposição está totalmente sem rumo, como ficou demonstrado na eleição para a presidência da Câmara. “A oposição não está menos desorientada do que o governo porque ela só pode se orientar se o próprio governo tiver algum tipo de orientação. Ela tem que saber que navio atacar, mas não sabe”, constata. Nesta entrevista ao Correio, César Maia analisa o passado e o futuro do seu partido e fala das lições das urnas. Nas últimas eleições, o PFL só elegeu o governador do Distrito Federal e sua bancada encolheu dos 84 deputados federais eleitos em 2002 para 65 em 2006 (sem descontar as dissidências posteriores). O único incremento ocorreu no Senado, onde elegeu mais três senadores, somando hoje 17, já excluída a senadora Roseana Sarney, que deixou o partido depois de eleita. Novo PFL O caminho do PFL é se reconhecer como sucessor do PSD (Partido Social Democrático, extinto em 1965) e buscar afirmar novas gerações a partir desta matriz, caminhando para o centro político. E produzir uma descontinuidade em relação às raízes políticas que viveu no regime autoritário, como dissidente do PDS. O partido hoje acompanha a trajetória do PP (Partido Popular) da Espanha, do ponto de vista da metodologia, que é caminhar ao centro. O PFL cumpriu um ciclo fundamental no processo de democratização do Brasil, que foi um longo processo que começa com o acesso da oposição à TV em 1974, com o fim da censura em 1975, passou pela Lei de Anistia, pela eleição para governadores, para municípios de segurança nacional e capitais, pela Constituição de 1988 e pela eleição para presidente em 1989. Quinze anos depois, caiu o presidente, as instituições funcionaram, assumiu o vice. A eleição do presidente Fernando Henrique Cardoso estabeleceu consensos fundamentais na democracia. Aí veio o Lula, que imaginou estar abrindo um ciclo novo, mas na verdade está fechando o ciclo da redemocratização. A democracia brasileira mostrou que qualquer força política que concorde com as regras do jogo pode ter poder. O PT foi eleito e o mundo não acabou. O PFL quer ser um ator relevante nesse novo ciclo, agora como Partido Democrata. Afinal, não poderíamos continuar como um partido da Frente. A perda da eleição de 2002 foi muito importante, porque permitiu essa depuração rápida, a perda de 20 deputados que só trabalhavam na cooptação. Em 2004, avançamos na discussão programática e hoje sentimos, como já disse o (senador Jorge) Bornhausen, que não há como no Terceiro Mundo ter um programa liberal, ele não combina com um país nessas condições. Chegou o momento de ter um partido político programático, com um consenso básico estabelecido. Perda da Bahia O PFL, para valer, só sofreu um grande impacto, que foi na Bahia. Acontece, ninguém consegue governar um estado a vida inteira, num certo momento perde. A população quer trocar em busca de novidades, de renovação. Aqui no Rio mesmo já são quatro governos meus, contando o governo Conde, que foi uma mera extensão. Como o eleitor vê a continuidade nossa no governo depois de 16 anos? Vamos ver nas urnas. Mas esses ciclos de esgotamento são absolutamente naturais. Adesismo no Brasil Os partidos políticos no Brasil se tornam proporcionalmente muito mais fortes quando estão no governo, sejam os municípios, estados ou o governo federal. O PFL encolheu, e isso é absolutamente normal. O PSDB também, fez a mesma bancada do PFL. Se o PT não estivesse no poder, não teria 84 deputados, não passaria de 60. No Brasil, não existem partidos orgânicos, com capilaridade. Estar ou não no governo vai alterar sempre o tamanho da bancada. Oposição perdida Imagine um governo reeleito há três meses e meio e que não consegue construir um ministério. Um governo onde o presidente tem uma base parlamentar grande, mas mal consegue ganhar uma eleição para presidente da Câmara. Nós temos um governo sem projetos, que tem como âncora aquilo que é consensual no mundo todo, que são as políticas de estabilização monetária e de responsabilidade fiscal. Com isso, nem o governo sabe para onde vai, nem o Congresso sabe para onde vai. Num regime presidencialista vertical como o brasileiro, se o governo não sabe para onde vai, a oposição também não sabe para onde atira. E essa eleição para presidente da Câmara mostrou isso muito bem. A oposição não está menos desorientada do que o governo porque ela só pode se orientar se o próprio governo tiver algum tipo de orientação. Ela tem que saber que navio atacar, não sabe. PFL e PSDB No nosso sistema multipartidário, o partido que é mais próximo a você do ponto de vista político não pode ser o mais próximo do ponto de vista eleitoral. Porque um come o outro. Se o PFL tivesse eleito 130 deputados, o PSDB não tinha eleito ninguém. Se o PSDB tivesse eleito 130, o PFL não teria eleito ninguém. Do ponto de vista político, são partidos próximos que têm que atuar em conjunto na oposição. Têm que trabalhar politicamente prioridades no Congresso. Mas na eleição não podem estar juntos, porque um vai inibir o crescimento do outro, como aconteceu agora, com os dois iguaizinhos, com 65 ou 66 deputados, ficando com 60 depois de perder alguns parlamentares para o governo. Essa dialética tem que ser trabalhada com muita responsabilidade. Não podemos mais estar juntos do ponto de vista eleitoral. E temos muito que estar juntos do ponto de vista político. Eleições em 2010 Em 2010, necessariamente teremos candidatos próprios. Principalmente, porque não teremos um candidato de grande destaque. Cada partido terá a convicção de poder chegar ao segundo turno. A força de cada um será determinada por uma votação expressiva no primeiro turno e, quem não passar, será uma peça vital para um ou outro candidato. PT em 2010 Tudo vai depender do Lula. Ele é expansivo, se espalha muito. Essas lideranças que têm um corte basicamente populista inibem o surgimento de outras lideranças no seu próprio partido. Com o (Leonel) Brizola foi assim, no PDT. Ali debaixo era muito difícil surgirem nomes com destaque porque a ocupação de espaço por parte de uma liderança dessas é tão grande que ninguém consegue passar por aquelas asas. Ou o Lula tem consciência disso, abaixa a asa e deixa subir um nome. Ou, o que é muito mais provável, não tem essa consciência e o PT vai ter um candidato para começar a pesquisa com 10% a 12%, como todos os demais partidos. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, fevereiro 21, 2007
César Maia: “PFL cada dia mais longe dos tucanos”
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