O Estado de S. Paulo |
28/2/2007 |
O presidente da República tem uma maneira direta de querer, mas tem um jeito totalmente transverso de não querer. Dependesse só da vontade dele, não houvesse nenhuma outra circunstância em jogo, Luiz Inácio da Silva iria navegando a bordo do PAC, dos discursos, de uma carta de intenções aqui, outra ali, de uma laboração internacional acolá e estava assim muito bem resolvido o problema sob sua ótica do que seja governar, sem precisar mexer com essa história de reforma ministerial. Premido pelas promessas, porém, tangido pela expectativa dos que o apoiaram e não pensam como ele, que a reeleição se deveu única e exclusivamente à performance do candidato, precisa fazer o que não quer, embatucado exatamente nos transtornos dos dois partidos cujos apoios seriam a solução para todos os seus problemas de sustentação parlamentar. Abstraindo o desejo do presidente, reside no PT e no PMDB a razão do atraso da reforma. São 'só' duas questões, mas, por essenciais, paralisam todo o resto à espera de Lula - autonomeado articulador político do governo - se decidir a chamar cada qual separadamente para dizer como é que a banda deve tocar e pôr as coisas (no caso, os ministros) em seus devidos lugares. O presidente não se abre totalmente, mas deixa sentimentos e impressões transparecerem nas conversas preliminares da reforma com os partidos. Lula quer o PMDB todo com ele, mas nutre um bem-querer mais acentuado à ala que esteve governista desde antes da primeira hora. Deve obrigações político-eleitorais àquela que levou quatro anos para aderir, faz de tudo para disfarçar, mas não digere com conforto as companhias. Longe, dele, porém, a idéia de deixar patente a preferência. Com isso, vai dando tempo ao tempo, na esperança de que as coisas se resolvam por si, que os preferidos prevaleçam sobre os menos queridos e a sorte lhe seja madrinha, produzindo algum acontecimento gerador da solução por conta da lei da gravidade. No PT, o nó leva o nome de Marta e sobrenome Suplicy. Na reunião que teve com o PSB logo depois do carnaval, e que acabou rendendo polêmica e desmentidos, o presidente Lula tomou a iniciativa de pôr na roda o nome da ex-prefeita, falando das dificuldades para 'encaixá-la' no ministério sem que tivesse sido perguntado a respeito. Os presentes estranharam, mas a interpretação corrente entre os participantes foi a de que Lula tocou no assunto sabendo que os comentários iriam dali direto para os jornais. Só erraram no tempo, porque os relatos não esperaram o dia seguinte; foram na mesma hora para a internet. Sobre o que se divulgou daquele encontro de quase três horas de duração, nada estava sob embargo. Lula não pediu reserva para as considerações feitas sobre Marta e deixou consignado nos termos em que expôs sua contrariedade - amenizados pelos interlocutores que reproduziram a conversa à imprensa - que acha a ex-prefeita um foco potencial de problemas. Maior dentro do que fora do ministério. Marta Suplicy seria, na avaliação de quem ouviu, um alvo vistoso para a oposição. Antes, o presidente havia tentado resolver a questão impondo a preliminar da impossibilidade de seus ministros disputarem eleições em 2008. Era um jeito - ao seu modo tortuoso - de contornar o obstáculo, mas Marta aceitou a condição e devolveu a bola a Lula. Nenhum sigilo foi solicitado também a respeito da intenção de postergar a reforma para depois da escolha do novo presidente do PMDB. Lula autorizou os interlocutores a dizerem que as mudanças na equipe esperariam mais um pouco. Mais especificamente até ele 'sentir firmeza' no PMDB. E por 'firmeza' entenda-se a troca de presidente do partido, de Michel Temer por Nelson Jobim. E por que o presidente não diz isso com todas as letras às alas em conflito? Porque acha que, se não assumir posição, não desagrada a ninguém. Como fez na disputa pela presidência da Câmara. Noves fora Uma pesquisa de opinião em poder do Palácio do Planalto aponta interesse zero da maioria dos consultados em relação ao assunto. Na segunda-feira, em seu programa de rádio, o presidente da República informou que é nenhum o prejuízo do governo sem a reforma. 'Pelo contrário', disse. Quer dizer, aflitos mesmo, só os partidos integrantes da coalizão programática, que não vêem a hora de contribuir com suas idéias e projetos para o bem de todos e a felicidade geral da Nação. O exemplo Difícil saber o que é pior: o ministro da Fazenda, Guido Mantega, desconhecer o dever de comunicar um crime à polícia ou fazê-lo 12 horas depois diretamente ao governador do Estado onde foi cometido o delito. Conferiu dianteira aos bandidos e se pôs acima da coletividade que presta queixa nas delegacias e não tem como resolver sua descrença na ação da polícia recorrendo a autoridades acessíveis por obra do exercício circunstancial de um alto cargo público. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, fevereiro 28, 2007
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