Entrevista:O Estado inteligente

domingo, fevereiro 25, 2007

DORA KRAMER Contrato de gaveta

Agora que o PMDB resolveu adaptar a escolha de seu novo presidente ao roteiro da reforma ministerial, sobrepondo o apreço aos cargos à independência partidária, é de todo conveniente perguntar aonde, afinal de contas, foi parar aquela agenda mínima de compromissos apresentada pelo partido ao presidente Luiz Inácio da Silva três meses atrás, como “prova” de que o PMDB aderia por inteiro não por razões fisiológicas, mas por amor à causa.

Em novembro, poucos dias depois de definida a reeleição de Lula, o presidente do partido, Michel Temer, já na condição de ex-oposicionista convertido, levou ao Palácio do Planalto uma pauta de sete pontos com os quais o governo deveria se comprometer, sob pena de não ter o apoio de todos os pemedebistas.

Temer queria com o gesto repudiar de público a pecha - “inaceitável” - de fisiológico e mostrar que a adesão era uma questão de doutrina. Com toda solenidade firmou-se o compromisso, a data foi batizada de “histórica” e hoje está de novo o PMDB esforçando-se para manter a pose até saírem os cargos prometidos. Sobre a agenda mínima, nem de ínfima pode ser chamada.

Aliás, dela não se falou mais desde aquele dia “histórico”. O primeiro item, as reformas política e tributária. Quando o ministro Tarso Genro anunciou a suspensão dos trabalhos em relação à reforma política, o PMDB não deu um pio.

Depois, quando retomou a questão e avisou que a reforma vai, sim, ao Congresso, o partido não entrou na discussão.Tanto que a proposta será uma compilação de sugestões da Ordem dos Advogados, do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e da Associação dos Magistrados do Brasil. O PMDB não cobrou participação.

O segundo item era a exigência do crescimento econômico de 5%. O governo abandonou o índice e o PMDB não reclamou, muito menos ameaçou deixar a dita coalizão por causa disso.

O terceiro ponto exigia a manutenção dos gastos correntes em níveis inferiores ao crescimento do PIB. De lá para cá, o presidente em pessoa rechaçou qualquer possibilidade de contenção de despesas. Ao contrário, disse que vai gastar. O PMDB também ficou quieto.

A respeito do quarto ponto - consolidação das atuais políticas de transferência de renda - não houve recuo nem divergência. Até porque se trata de uma política do PT, peça-chave para a preservação do poder de Lula, e o PMDB não tem nada a ver com isso.

Em quinto lugar na lista das exigências, os pemedebistas incluíram a renegociação das dívidas dos Estados. Assunto já devidamente encerrado e enterrado pela área econômica sem que o PMDB esboçasse um esgar de contrariedade.

Em sexto constava um monumento à generalidade - “fortalecimento da Federação”-, contra o qual o PMDB não terá oportunidade de se insurgir, visto que o enfraquecimento da Federação não consta entre as prioridades do Planalto.

Finalmente, o partido pedia a criação de um conselho político onde os partidos poderiam debater, sugerir e acompanhar as ações do governo.

Até agora houve duas reuniões do conselho, uma para o presidente Lula discursar sobre a necessidade de união da base em torno dos interesses do governo e outra para apresentar, depois de pronto, o Programa de Aceleração do Crescimento. Discussão, sugestão e acompanhamento ficaram para uma outra hora, que o PMDB não parece ter pressa para marcar.

E por que o PMDB não cuida dos compromissos que ele mesmo apresentou como essenciais à sua participação no governo? Porque a agenda mínima era só uma figuração.

Ensaio

Pode ser mero balão ou pode também traduzir um ensaio real do governador José Serra em direção à revogação do acordo firmado com o PFL para apoiar a candidatura de Gilberto Kassab à Prefeitura de São Paulo em 2008.

Seja como for, fato é que no Palácio dos Bandeirantes já se ouve falar a sério no nome de Andréa Matarazzo - secretário municipal das Subprefeituras - para a disputa do cargo pelo PSDB.

O pré-requisito é que Geraldo Alckmin não queira concorrer e prefira se guardar para a sucessão de Serra no governo do Estado. Se ele quiser, até seus adversários dentro do partido acham que não tem concorrentes.

No PSDB, porque os tucanos consideram Marta Suplicy uma parada duríssima.

Peneira

O governador Jaques Wagner não quis comentar as ocorrências do crime no carnaval na Bahia e, quando o fez, uma vez em meio à folia, foi para acusar os fatos de serem fruto de conspiração de “carlistas” (simpatizantes de Antonio Carlos Magalhães) derrotados por ele na última eleição.

No Rio de Janeiro, esse tipo de atitude era muito comum há alguns anos. Quando a violência ainda era de alguma forma administrável. Não foi um nem foram dois, mas vários os governadores que reagiram como faz agora o baiano, enxergando fantasmas ao meio-dia e fechando os olhos à realidade do horror crescente.

Costumavam dizer que a imprensa carioca era impiedosa, alarmista e derrotista.

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