Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Arrastão MST-CUT


editorial
O Estado de S. Paulo
22/2/2007

Foi aproveitando os ânimos relaxados do domingo de carnaval, pegando de surpresa tanto os fazendeiros quanto a polícia - embora a falta de surpresa talvez não alterasse grande coisa, dada a inédita dimensão do esbulho sincronizado -, que o Movimento dos Sem-Terra (MST) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) puseram em prática, pela primeira vez, a grande joint venture que haviam pactuado, objetivando a soma complementar de esforços para aniquilar, de vez, o respeito à propriedade e à produção no meio rural. No domingo, cerca de 2 mil pessoas - as 1.050 de 23 acampamentos e os 800 trabalhadores arregimentados pelos sindicatos rurais monitorados pela CUT e o PT - invadiram e ocuparam 12 fazendas, perfazendo um total de 15,6 mil hectares, em 9 municípios das regiões do Pontal do Paranapanema e da Alta Paulista, no oeste do Estado de São Paulo. Na segunda-feira, com cerca de 100 integrantes as duas entidades promoveram a invasão de uma 13ª fazenda, na Alta Paulista, quando então o líder emessetista José Rainha Júnior - condenado pela Justiça e em liberdade provisória, mas comandando a grande operação pelo celular - anunciou que, agora, “quer negociação” com o governo. Na terça-feira, MST-CUT decidiram manter a jornada de invasões, ampliando a ofensiva na região noroeste, onde pretendem invadir mais 8 fazendas, nos próximos dias.

“Deu a impressão de que eles eram os donos e eu estava invadindo.” Esse desabafo de Diogo Perez Geronymo, proprietário da Fazenda São Diogo, em Dracena, que fora ameaçado com um facão pelos sem-terra quando se dirigiu ao local invadido, dá bem a dimensão do tipo de ordem imposta ao meio rural brasileiro: direito algum é respeitado - à propriedade, à produção, à livre locomoção, à incolumidade física e, por via de conseqüência, à própria vida - quando se une uma entidade ilegal, sem personalidade jurídica (como o MST), com outra perfeitamente legalizada, e que, supostamente, se destina a congregar os sindicatos laborais, para operações desenvolvidas em inteiro desrespeito às leis vigentes no País.

Em atitude de acinte à Justiça, ao governo, à sociedade, e pontificando do alto de sua “liberdade provisória”, o delinqüente condenado José Rainha Júnior expede as coordenadas políticas da “negociação” a ser feita com o governo, objetivo confesso da megaoperação de esbulho carnavalesco: que o governo encare a reforma agrária como uma “emergência” - pois “o Incra tem se demonstrado incapaz de imitir posse das fazendas declaradas como improdutivas”; que o governo atente para “os problemas sociais decorrentes da expansão da cana-de-açúcar no Estado”; que o presidente Lula seja “mais rápido” nas mudanças que pretende fazer no Ministério do Desenvolvimento Agrário, a começar pela escolha do ministro. “Quem é hoje o ministro? Eu não sei” - diz o condenado. É verdade que muitos outros aliados também estão impacientes em relação às definições da reforma ministerial. Mas será que “nas mudanças que pretende fazer”, no âmbito do Ministério do Desenvolvimento Agrário e do Incra - cujas superintendências foram praticamente ocupadas por militantes do MST, no primeiro mandato do presidente Lula -, haverá a perspectiva de entregar poder ainda maior à entidade ilegal comandada por elementos do tipo Rainha e Stédile?

A propósito, o fato de a entidade ilegal ter se associado a outra perfeitamente registrada, dentro da lei - como é a CUT -, deveria propiciar, por parte do Ministério Público, uma possibilidade maior de cobrança judicial, em razão do desrespeito à lei. A Central Única dos Trabalhadores é entidade sindical importante, inteiramente capacitada a responder pelos seus atos - o que parece não ser o bando dos sem-terra, que mesmo com todos os seus símbolos, siglas e bandeiras é visto como inimputável pelas autoridades brasileiras, que se acovardam diante dele. De qualquer forma, a expectativa maior, no momento, é sobre a resposta do governo à eventual reação do consórcio MST-CUT, caso o próximo ministro do Desenvolvimento, ou o novo presidente do Incra, não se encaixe à risca no perfil ideológico e na pauta programática traçados por essas entidades, para os que comandarão as distribuições de terra no campo. Quantas fazendas mais serão esbulhadas e o que os responsáveis pela ordem pública, neste país, poderão fazer a respeito?

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