Os riscos da cópia
Monica Weinberg
VEJA teve acesso à lista de marcas e produtos pirateados mais vendidos no Brasil em 2006 resultado do cruzamento de informações da Receita e da Polícia Federal, com base nas apreensões efetuadas no ano passado. Foram interceptadas mercadorias que, de acordo com a conta oficial, somam 800 milhões de reais.
A pedido de VEJA, especialistas avaliaram o ranking da pirataria com o objetivo de comparar as cópias aos originais. Uma parte da análise foi conduzida por pesquisadores – vindos de núcleos de tecnologia em universidades ou indicados pelas próprias empresas cujas marcas foram alvo dos falsificadores. Os especialistas fizeram uma apreciação técnica dos produtos. Eles ajudaram a destacar as imperfeições das cópias piratas e alertaram para as deficiências na funcionalidade de cada uma. Numa outra frente, médicos ouvidos por VEJA explicam como alguns desses produtos pirateados podem causar riscos à saúde. Em comum, os cinco modelos escolhidos para a análise são os mais vendidos em suas categorias no mercado informal brasileiro, conforme mostrou o levantamento oficial. Ao lado, a palavra dos especialistas.
ÓCULOS ESCUROS
Marca mais pirateada: Mormaii
Por que as cópias funcionam mal:
• A curvatura da lente pirata freqüentemente desobedece ao padrão recomendado pelos oftalmologistas
• A minúscula peça de aço responsável pela dobra das hastes é de má qualidade. Com o uso contínuo dos óculos falsificados, a armação costuma ficar frouxa ou mesmo entortar
• As lentes desses óculos não vêm com garantia de possuir proteção contra os raios ultravioleta. Depois de submetidos à avaliação técnica, alguns modelos copiados revelaram não dispor de tal proteção
Possíveis danos à saúde: com o uso regular, os óculos pirateados contribuem para o surgimento de cataratas e para a degeneração da mácula ao longo dos anos. A falha na curvatura das lentes pode levar, ainda, a lesões no globo ocular
BOLSAS
Marca mais pirateada: Louis Vuitton
Por que as cópias funcionam mal:
• O modelo da foto ao lado (como ocorre com outros da mesma marca) apresenta pequenas variações no design. Neste caso, a bolsa pirata possui alças longas, enquanto na verdadeira elas são curtas e mais grossas
• A tinta que cobre as bolsas – de baixa qualidade – descasca com facilidade
• O zíper das cópias freqüentemente emperra e sofre oxidação
• Sua costura, malfeita, mescla linhas de cores diferentes e costuma ceder
Possíveis danos à saúde: não oferece risco
TÊNIS
Marca mais pirateada: Nike
Por que as cópias funcionam mal:
• Todos os modelos pirateados apresentam a mesma fôrma, independentemente do esporte para o qual foram desenhados – ao contrário do que ocorre na prateleira dos calçados originais, de onde saem tênis fabricados com tecnologia específica para cada modalidade esportiva. Os tênis verdadeiros ainda oferecem moldes distintos para tipos diferentes de pisada
• As falsificações não possuem os pequenos cortes feitos com laser dos modelos verdadeiros. Tais cortes permitem maior ventilação interna no calçado
• Os "amortecedores de impacto" desses tênis são feitos com plástico pouco flexível, o que os impede de cumprir sua função original – têm apenas efeito estético
• O reforço na parte do calcanhar dos tênis copiados não é firme, o que provoca desconforto no momento da pisada
• Sua costura – malfeita – pode causar atrito desagradável
Possíveis danos à saúde: o tênis pirata costuma causar bolhas mesmo em quem o usa com pouca freqüência. As deficiências do modelo copiado também são potenciais fontes para dores na planta dos pés, nos tornozelos e na região lombar. Com o uso intensivo do calçado pirata, afirmam os médicos ouvidos por VEJA, podem surgir ainda problemas nos ligamentos, nos joelhos e nos tendões
BRINQUEDOS
Marca mais pirateada: boneca Barbie
Por que as cópias funcionam mal:
• O plástico de que é feito a boneca – mais rígido que o da Barbie verdadeira – pode machucar as crianças
• As roupas dos modelos copiados pecam pelo mau acabamento – os sapatos chegam a cair dos pés das bonecas
• A má aplicação do cabelo na cabeça das Barbies falsificadas causa falhas que tornam algumas das bonecas semicalvas
• As articulações do modelo pirateado são mais duras. Por essa razão, as cópias quebram com maior freqüência do que as bonecas verdadeiras
Possíveis danos à saúde: alguns modelos falsificados são cobertos por tintas que contêm chumbo, substância tóxica de efeito cumulativo. Pode provocar náuseas, causar anemia e levar a indesejáveis perdas de peso. Outra lembrança dos especialistas: a caixa das bonecas pirateadas não vem com a usual indicação sobre a faixa etária apropriada para que a brincadeira transcorra em segurança. Por possuir acessórios minúsculos que perigam ser engolidos, a Barbie é recomendada para crianças a partir de 3 anos
RELÓGIOS
Marca mais pirateada: TAG Heuer
Por que as cópias funcionam mal:
• A pulseira dos relógios falsificados é feita de borracha. A original é fabricada com metal
• As cópias não possuem o anel que fica ao redor do visor. No modelo original, ele serve para proteger o relógio contra a umidade e a poeira
• Elas não passam por testes que certificam sua resistência à água e ao impacto de quedas
• Os piratas precisam de bateria para funcionar. Já o relógio verdadeiro possui um sistema suíço que é acionado automaticamente com o movimento do corpo – e dispensa baterias
• O visor da cópia é feito com vidro comum e, por essa razão, arranha com facilidade O modelo original vem com visor de cristal de safira, à prova de riscos mais leves
• O contador de segundos e o calendário não funcionam – eles são meramente decorativos
Possíveis danos à saúde: não oferece risco
Eles copiam mais
Os dez países que mais comercializam produtos piratas
1º China
2º Rússia
3º Índia
4º Brasil
5º Indonésia
6º Vietnã
7º Taiwan
8º Paquistão
9º Turquia
10º Ucrânia
Fonte: Câmara de Comércio Internacional
Fotos Manoel Marques, Fabio Mangabeira e divulgação