Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Novos problemas no metrô de São Paulo

Remendos subterrâneos

Laudo mostra risco de novo desabamento no
metrô de São Paulo e governo paralisa obras


Rosana Zakabi

Hélvio Romero/AE
A futura Estação Fradique Coutinho: materiais baratos e soldas "bacalhau"

Quando o canteiro de obras da futura Estação Pinheiros do metrô de São Paulo desmoronou, no início de janeiro, matando sete pessoas, a população da cidade ficou atônita. Como pode uma obra tocada pelas cinco maiores empreiteiras do país, reunidas no consórcio Linha Amarela, desmanchar-se como um castelo de cartas? Na semana passada, um laudo de vistoria nas obras de outra estação no mesmo bairro, a Fradique Coutinho, mostrou que as irregularidades na construção da nova linha do metrô paulista são mais graves do que se pensava. Há risco de a tragédia de janeiro se repetir. A vistoria, encomendada pelo próprio consórcio, aponta quinze tipos de procedimentos errados na obra, todos relacionados às soldas do conjunto de vigas metálicas que sustentam as paredes de concreto da estação. As vigas impedem que as paredes se rompam e provoquem o desabamento do terreno. Muitas das soldas são de tamanho menor do que o recomendado. Outras são improvisadas, feitas com material inadequado, como restos de ferro e outros metais, e destinam-se a preencher espaços entre uma viga e outra – no jargão dos operários, é a solda bacalhau. Além disso, algumas das soldas exibem trincas e porosidade irregular. "As trincas apresentam grande risco porque podem crescer com o tempo e comprometer a estrutura", diz Sérgio Brandi, professor da Escola Politécnica da USP, que teve acesso ao laudo.

As soldas malfeitas não são o único problema apontado nas obras. Há duas semanas, relatórios da equipe de fiscalização do metrô revelaram mais de quarenta irregularidades, entre elas a utilização de tubos e conexões de qualidade inferior à que foi especificada ou de fabricantes diferentes e incompatíveis entre si. Os especialistas também questionam o método de construção. Foi aprovada para a execução das obras a construção de túneis menos profundos e, portanto, mais baratos. "Isso também gera economia nas escadas rolantes", explica o engenheiro Roberto Kochen, diretor do Instituto de Engenharia de São Paulo. Túneis mais rasos oferecem mais riscos de acidentes, principalmente em terrenos instáveis como o da margem do Rio Pinheiros, onde é feita parte das obras. Na noite de quarta-feira, o governo paulista decidiu paralisar várias frentes de trabalho da Linha Amarela por pelo menos um mês, até que os problemas apontados sejam corrigidos e novos laudos atestem as condições de segurança da construção. Os paulistas respiraram aliviados.

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O desleixo apontado nas vistorias

Na futura Estação Fradique Coutinho, a solda das estruturas metálicas é mais frágil que o recomendado, ou foi feita com material inadequado. Há vigas sem nenhum tipo de soldagem

Foram utilizados tubos e conexões de baixa qualidade, ou de marcas diferentes e incompatíveis

As obras nas estações provocam rachaduras nos imóveis próximos aos canteiros de obras

O método de escavação utilizado no canteiro de obras da futura Estação Pinheiros, que desabou, é inadequado ao tipo de terreno da região

Clayton de Souza/AE

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