Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Infiltrados



EDITORIAL
Folha de S. Paulo
13/2/2007

O FENÔMENO DO crescimento das milícias no Rio tem sido muito destacado por escancarar a inaptidão do Estado para se fazer presente nas áreas mais pobres. Parte da sociedade carioca vê o controle dessas organizações em favelas e comunidades como um mal menor em comparação com o tráfico.
O que raramente é considerado, no entanto, é a maior capacidade de infiltração desses grupos no aparato estatal.
As milícias vêm expandindo sua atuação. Formadas por policiais, ex-policiais, bombeiros e agentes penitenciários, elas já expulsaram o tráfico de ao menos 90 localidades.
O custo dessa "proteção" é cobrado dos moradores, obrigados a pagar taxas de segurança ou a só usar serviços e produtos autorizados pelos milicianos.
É verdade que a tolerância com o crime organizado não surgiu com as milícias. A diferença agora é que, como são formadas também por policiais ou soldados da ativa, a corrupção não acontece somente pela cobrança de propinas. Em várias guerras entre o tráfico e esses grupos, há denúncias de apoio de policiais com carros e armas oficiais.
É também preocupante constatar que esse avanço não se restringe aos limites territoriais. Reportagem do jornal carioca "O Globo" de domingo mostrou que em 80% de 35 comunidades analisadas ao menos um policial, bombeiro ou militar esteve entre os mais votados para cargos do Legislativo.
Há ainda fortes suspeitas de que alguns dos vereadores ou deputados eleitos sejam ligados diretamente a milícias ou tenham recebido apoio desses grupos, ponto ao qual o tráfico em favelas parece nunca ter chegado. Fica cada vez mais difícil a diferenciação entre agentes da lei e seus transgressores.

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