Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

DORA KRAMER O motor da emoção

Se o Brasil fosse um país racional, os apelos dos presidentes da República, do Supremo Tribunal e da Câmara para que não se discuta violência e criminalidade em momentos de grande comoção seriam muito adequados. Um debate racional sempre tem mais chances de alcançar melhores resultados que uma discussão emocional.

O problema é que o Brasil é um país quase que só movido a sensações. Na política prova disso são os critérios do eleitorado para a escolha dos governantes executivos e representantes legislativos, muito raramente baseados na competência. Os atributos de 'carisma', identificação pessoal e capacidade de tocar os corações preponderam sobre a racionalidade no exame das características de eficiência, caráter e conduta do candidato.

A suscetibilidade a emoções também domina o cotidiano, notadamente em relação ao tema que mais nos infelicita, a segurança pública. Diante do descalabro, todas as indignações explodem para, quando arrefecidas pelo tempo, repousarem na mais completa indiferença até que o horror desperte de novo a revolta e, com ela, o sentimento da providência urgente.

Não convém, portanto, desperdiçar esse sentido de urgência. Por mais que possa estar misturado ao desespero, nunca será tão maléfico quanto a paralisia, hoje mais próxima da catatonia.

A moderação é boa, e, em autoridades, indispensável. Mas nesta altura dos acontecimentos e ante a repetição do mesmo roteiro de altos de baixos e da falta de uma posição veemente e ativa do aparelho de Estado, soa como uma espécie de rendição à fatalidade.

Aos criminosos nada mais confortável que o lado da legalidade invocar os preceitos da moderação. Eles não são moderados nem tampouco racionais. São tratados com toda a cortesia pelo lado de cá, que não pode quebrar o compromisso com a legalidade, mas também não pode continuar renovando eternamente o contrato legal feito em cenário menos selvagem.

Não se trata de responder com selvageria igual, mas de uma defesa mais contundente da sociedade legal, de fazer prevalecer a lei do mais forte. Não nos termos da selva. Nas condições da civilidade que, para isso, precisa estar na posse de toda sua energia - por que não? - emocional.

É ela que manterá acesa a mobilização popular, único motor eficaz para impulsionar o poder público, cuja tendência, quando não há cobrança e pressão, é de se acomodar em suas questões internas em detrimento do interesse externo.

Discute-se no governo, no Congresso e na imprensa quem será o novo ministro da Justiça, mas não se fala sobre o essencial: qual é mesmo o pensamento da administração pública federal a respeito do que fazer? É a redução da maioridade penal? É a construção de presídios? É a limpeza das polícias? É o endurecimento da lei? É a violência de Estado?

Talvez tudo junto e mais a consciência de que o desrespeito (seja pequeno ou grande) à lei não pode continuar a ser um valor social e culturalmente aceito, e de que os problemas difíceis de resolver ficam cada vez mais graves e insolúveis quando varridos para debaixo do tapete da indiferença.

Indiferença, esta, aliás, atrás da qual a cada dia menos temos oportunidade de nos esconder. Não por vontade, mas pela imposição dos fatos.

Como ponderou o deputado Fernando Gabeira com precisão, a propósito dos chamados à moderação, assim que a hediondez da morte do pequeno João Hélio provocou nova onda de tomada de consciência sobre o perigo que ronda a todos: não há mais momentos de tranqüilidade no tocante à violência, nunca mais haverá períodos de normalidade se algo não for feito para conter a seqüência de barbaridades que dizima as vidas e insensibiliza as almas.

O que fazer exatamente ninguém sabe, mas todo mundo sabe que algo precisa acontecer para tirar o País desse moto perverso de substituição paulatina da atrocidade de ontem pela monstruosidade de hoje que, em perspectiva, sempre será menor que a bestialidade de amanhã.

À boliviana

O presidente da Bolívia, Evo Morales, queria incluir na sua agenda de visita ao Brasil um encontro com imigrantes de seu país em São Paulo. Pretendia fazer, com eles, uma pregação de seu, digamos assim, programa de governo ao modo chavista.

Como na quase totalidade são ilegais, boa parte moradores de rua, o governo de São Paulo pediu ajuda ao Itamaraty e conseguiu contornar a situação, evitando o evento, que tinha tudo para resultar em confusão.

Em domicílio

O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, pensou, e ainda não abandonou a idéia de ir à casa do cidadão expulso por ele na inauguração de um ambulatório há 15 dias pedir desculpas pessoalmente.

Tanto no Palácio dos Bandeirantes quanto na prefeitura vigora a avaliação de que o dano político foi sério. Só teve um efeito por ora considerado positivo: o índice de conhecimento do prefeito na cidade subiu de 46% para 62%.

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