Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Chefes mandam matar técnico da Saúde na Bahia

Surrado até a morte

Contador que fiscalizava dinheiro
do SUS é assassinado em Salvador.
Ele sabia demais?


Fábio Portela

Fotos Joa Souza e Arestides Baptista/Ag. A Tarde
Tânia Pedrosa e Aglaé Souza: presas após ter sido denunciadas como mandantes do crime

Um crime bárbaro assombra a gestão do prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro (PDT), e também o PT da Bahia. No dia 6 de janeiro, um contador da Secretaria de Saúde do município, Neylton Souto da Silveira, foi espancado até a morte no gabinete em que trabalhava. Pouco antes das 8 horas da manhã daquele dia, um sábado, o contador disse à sua família que havia sido convocado para trabalhar no fim de semana. Os peritos que analisaram seu cadáver concluíram que Neylton começou a apanhar logo depois de chegar à secretaria. Foi surrado durante vinte minutos até perder os sentidos. As agressões continuaram mesmo depois de o contador desmaiar. A polícia estima que ele tenha resistido aos golpes por quase uma hora. Depois que morreu, seu corpo foi arremessado de uma janela do 3º andar da Secretaria de Saúde, numa tentativa de simular um suicídio – o dado grotesco é que as calças ficaram nas mãos dos assassinos. Foram achadas num tubo de ventilação. O cadáver caiu numa laje interna, de difícil acesso. Depois de muito insistir, um dos filhos do contador conseguiu entrar no edifício e encontrou o corpo do pai. A polícia começou a desvendar o caso na semana passada.

Além de Neylton, apenas três vigias estavam na secretaria naquele sábado. Um deles confessou que fora contratado, juntamente com um dos seus colegas, para dar um "corretivo" em Neylton. A intenção, explicou, era só aplicar uma surra. No meio da pancadaria, eles perderam o controle e acabaram matando a vítima. O vigia revelou que o serviço havia sido encomendado pelas superiores hierárquicas do contador, a subsecretária de Saúde, Aglaé Souza, e Tânia Pedrosa, que prestava serviços à secretaria. Presas, elas disseram ser "vítimas de uma armação". As duas são ligadas ao PT baiano e devem sua indicação a arranjos feitos pelo partido durante a eleição do prefeito João Henrique. No segundo turno, ele cedeu a pasta ao PT em troca de apoio.

Arquivo pessoal
Neylton: tortura durou cinqüenta minutos


O PT indicou o secretário, Luís Eugênio Portela, Aglaé e Tânia, uma consultora do Ministério da Saúde especializada em manejar verbas do Sistema Único de Saúde (SUS). No caso da prefeitura de Salvador, essas verbas somam 20 milhões de reais por mês. Na gestão desse dinheiro, Aglaé e Tânia eram assessoradas por Neylton. A tarefa dele era checar se os repasses estavam sendo feitos corretamente. Por isso, os eventuais desvios desses recursos são a principal pista para esclarecer o motivo do assassinato. A polícia descobriu que, ao mesmo tempo que trabalhava na prefeitura, Tânia assessorava as clínicas que recebiam dinheiro do SUS. A polícia acredita que o caso será esclarecido até março. Vamos ver.

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