Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, junho 03, 2005

Um escândalo que não ousa dizer o seu nome

A entrega ao ministro da Fazenda do comando da operação "Abafa CPI" é a prova mais evidente da falência da coordenação política do governo - dos ministros encarregados dela, dos líderes no Congresso e do próprio Lula.
É também em si um escândalo que a mídia e até mesmo a oposição evitar tratar como tal.
Lula escalou o homem que tem a chave do cofre para convencer deputados a enterrarem uma CPI criada por eles mesmos e destinada a investigar a roubalheira na Empresa de Correios e Telégrafos.
Tudo funciona com muita simplicidade.
O deputado conversa com Palocci, pede a liberação de verbas para obras públicas em sua base eleitoral, talvez um cargo aqui ou acolá, Palocci barganha, o deputado pressiona, e no fim os dois acabam se acertando.
O deputado que apoiou a CPI sai do encontro como adversário dela.
Se não há acerto possível e se o deputado é membro da Comissão de Constituição e Justiça, a solução é mais radical: ele ali é substituído por um aliado do governo.
Caberá à Comissão declarar se a CPI é constitucional ou não. E ao plenário da Câmara, ratificar a decisão da Comissão.
Por favor, não me venham com a desculpa de que todos os governos procedem assim. E que os costumes é que obrigam o governo Lula a proceder assim.
Este não seria um governo diferente?
Que se não pudesse mudar a política econômica como desejava pelo menos não se renderia a tenebrosas transações na esfera da ética e da moralidade pública?
Por que tanto empenho, gente, por que tanta aflição e desespero para abortar uma CPI? Só por que dela se aproveitará a oposição de olho nas eleições do próximo ano?
Desculpa esfarrapada! Que não convence ninguém - salvo deputados dispostos a se convencerem desde que levem alguma vantagem.
A agonia, o velório e o enterro da CPI servirão muito bem, e talvez melhor, aos propósitos da oposição que tem no Senado os votos necessários para criar outra CPI e forçar o governo a continuar sangrando no paço municipal e à vista de todos.
BLOG Ricardo Noblat

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