Panorama Político |
O Globo |
24/6/2005 |
A quarta-feira negra de anteontem e as estridências anteriores parecem ter mostrado a gregos e troianos que a crise estava chegando àquele ponto crítico, em que sons e fúrias passam a comandar a situação. O pronunciamento do presidente Lula quebrou o tom sectário que o PT, e ele mesmo, vinham adotando. O governo deu sinais de atividade e reação e no Congresso tivemos uma visita do bom senso e da normalidade. Na terça-feira em Luziânia, onde não estava disposto a falar da crise, Lula sucumbiu às pressões de líderes sindicais e acabou fazendo aquele discurso jactancioso e defensivo que pôs mais fermento na crise. Ela já crescera no fim de semana com a denúncia de um suposto golpismo pelo comando petista. O discurso de volta de Dirceu à Câmara, misturando elementos explosivos como a ocupação das galerias por militantes e a ação provocadora do deputado direitista Bolsonaro produziu cenas deploráveis. Maurício Marinho espalhava brasas na CPI e o STF determinava a instalação da CPI dos Bingos/Waldomiro. Um clima-limite, o de quarta-feira. Na fala de ontem, o presidente adotou o tom exigido pela situação, mesmo não tendo mencionado o suposto mensalão, como dirá a a oposição. Mas não falou em conspiração contra seu governo ou nos que temem sua reeleição. Em vez disso, enalteceu a liberdade de imprensa, valorizou o Congresso, a CPI e a importância da normalidade institucional. Admitiu a existência de irregularidades prometendo punição rigorosa e mencionou uma "mão estendida". Não citou a oposição, mas a intenção manifesta foi a de abertura para que se chegue à verdade. Não deixaria de reivindicar as ações de seu governo no combate à corrupção. De fato muito fez a Polícia Federal, mas não foi suficiente. No Gabinete Civil a ministra Dilma começa a se movimentar, o ministro Palocci falou e ocupou espaços e são fortes os sinais de que a reforma do governo está demorando mas será bastante ampla. No Congresso, além do funcionamento da CPI dos Correios, a normalidade começou a dar sinais de vida mesmo anteontem, com a aprovação da reforma política pela Comissão de Constituição e Justiça e a retomada das votações pelo plenário da Câmara — tendo o governo sofrido séria derrota com a rejeição da MP que enterrava a RFFSA. Mas votou-se, o que não vinha acontecendo. Mais importante, governo e oposição se entenderam ontem sobre a inconveniência da instalação de tantas CPIs ao mesmo tempo, o que dispersaria as investigações e prejudicaria a atividade legislativa. Não há sequer senadores suficientes para tantas CPIs, ponderou o articulador do acordo, o líder Aloizio Mercadante. E assim a CPI dos Bingos teve seus membros indicados, mas não será instalada agora. A dos Correios seguirá seu curso e será instalada na Câmara a do suposto mensalão, já que a denúncia envolve apenas deputados. Goldman, líder do PSDB, acha que nem esta era necessária, que os dois assuntos vão se encontrar na dos Correios. Mas foi sensato o acordo. Como já foi dito aqui, ninguém controla CPI, mesmo que o governo tenha relator e presidente — como quase sempre teve. Ontem vimos que tudo começou com uma disputa comercial. O senhor Waschek encomendou a fita a um ex-araponga, Jairo Martins. Atirou em Maurício Marinho e acertou em Roberto Jefferson e no PTB. Por razões ainda não esclarecidas, a fita foi divulgada. O depoimento de ontem derruba a convicção de Jefferson ao justificar sua vingança (a denúncia do mensalão), de que Dirceu providenciou a gravação para atingi-lo. A semana termina assim melhor do que começou, apesar dos rumores de que uma revista trará uma bomba. O presidente Lula deve ter motivos para retardar o anúncio das mudanças no Ministério, mas a demora está deixando dois ministros em situação muito difícil. Aldo Rebelo é dado como ex-ministro, entregou-lhe o cargo, mas ouviu pedido para que fique até que ele possa montar suas equações. Jaques Wagner, dado como novo coordenador, passou a semana exposto ao sereno e agora começa a receber petardos do PMDB, que se sente a noiva valiosa de um governo em dificuldades. Está exigindo até apelo público para integrar o governo. O cancelamento da viagem à Colômbia e à Venezuela, entretanto, sugere que o parto da reforma será acelerado. LULA queixou-se com um amigo. O governador tucano Marconi Perillo nunca lhe falou em mensalão. Apenas que estavam cooptando seus deputados. Sugeriu que tratasse de segurá-los, não era a favor da predação. Mas não irá desmenti-lo, como fez ao esclarecer o que ouviu de Roberto Jefferson. DO PRESIDENTE da CNBB, Dom Geraldo Majella Agnelo, sobre a escolha de uma mulher, a ministra Dilma Rousseff, para a chefia da Casa Civil: "Por que não? Acho que as mulheres têm dado bastante testemunho de que elas não são inferiores aos homens. Pelo contrário, no mundo inteiro, quando são chamadas a exercer uma função, têm mostrado elevado sentido de responsabilidade e capacidade intelectual". Para uma Igreja que já nos considerou destinadas só à procriação, muito bom. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, junho 24, 2005
Tereza Cruvinel - Uma brisa
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