Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, junho 20, 2005

A farsa que se repete como piada - (e-agora)

A farsa que se repete como piada (1)

Ana Maria Pacheco Lopes de Almeida (20/06/05 06:25)

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Tem matriz goebbeliano/stalinista, mas com o tempero tropical do castrismo/chavismo, a insistência meio desesperada de José Dirceu e do PT de emplacar a "teoria" do golpe contra Lula. Na cabeça perturbada deles, o "golpe" seria midiático – estando quase toda a mídia (menos as Organizações Globo, ora vejam...) – a serviço das elites e da oposição, capitaneada, é claro, pelo PSDB. Bem no modelito Venezuela!

O tempero castrista/chavista também é dado pela inevitável participação encoberta dos agentes do imperialismo de tio Sam, no tal golpe para abreviar a vida útil (?) do governo Lula. Esse elemento da teoria conspiratória que Dirceu e seus companheiros mais insensatos tentam empinar na mídia, até agora, sem sucesso, está contido no extenso dossiê que começou a circular na internet, na semana passada. O dossiê é assinado por três supostos jornalistas – Chico Nader, Morgana White e Alberto Salvador, "com colaboradores" – que seriam ligados a um certo JIBRA (Jornalistas Independentes do Brasil - London, UK). Sim, de Londres, Reino Unido... Tem como título "A mídia e os bastidores da crise política – Arquivo X do Golpe (volume 1) A origem de toda a farsa: o Grupo Rio e a participação de norte-americano vindo em carro da embaixada".

Os autores usam a receita clássica de best sellers do gênero, que é a de misturar algumas informações verdadeiras com uma coleção de "provas" do golpe em andamento. Os fiapos de verdade servem para dar credibilidade às demais "informações" forjadas, que incluem dados "científicos" sobre venenos poderosos que matam gente incômoda sem deixar vestígio. Quem lê regularmente o Gramma, o jornal oficial de Cuba, e seus extensos dossiês sobre conspirações norte-americanas reconhece com facilidade o estilo do "produto".

Na abertura do catatau, as manchetes-isca para estimular os incautos a ler até o fim o extenso texto (aliás, muito mal escrito...), que "desvenda" o putsch: "Como PSDB, Veja & CIA articulam segundo golpe de estado em sete anos. Uma história de assassinatos, corrupção, abuso de menores e roubo." A título de fecho, o dossiê traz uma citação do vasto acervo de frases revolucionárias e acusatórias de los pueblos bolivarianos: "Quando descobrimos as respostas, mudaram as perguntas.(Pixação (sic) no muro de Quito-Equador)

O conjunto da obra que veio a público nos últimos dias – o dossiê, as manifestações, discursos e notas oficiais dos petistas, as entrevistas de um ou outro intelectual engajado e os artigos em publicações dirigidas que o PT começou a divulgar em seu site – lembra um dino renascido do Jurassic Park. Em vez do charme de uma superprodução de Hollywood, o ranço da guerra fria e do mundo bipolar pré-queda do Muro de Berlim.

Essa ofensiva em várias frentes, desencadeada pela direção petista, no afã de emplacar a idéia da conspiração contra Lula, acirrou-se à medida que Roberto Jefferson abria sua caixa de Pandora e de lá tirava uma fieira de acusações e nomes e mais nomes de dirigentes do PT, de parlamentares, de publicitários envolvidos no escândalo do suposto mensalão. Acuado, titubeante em suas respostas tardias, incapaz de articular uma reação vigorosa e indignada às acusações do homem do cheque em branco dado por Lula e acossado pelas primeiras investigações da mídia, o PT agarra-se à única alternativa de defesa que lhe resta: o contra-ataque montado na teoria do golpe. Com ele, pretende mobilizar estudantes, trabalhadores filiados à CUT, MST, ONGs, intelectuais – sua base social, enfim, que andava desgarrada, silenciosa e desencantada com os rumos do governo Lula e do PT.

Essa estratégia irresponsável, temerária, de altíssimo risco para a estabilidade das instituições tem o sinal verde de Lula? Não se sabe. O presidente ainda não se manifestou sobre o suposto golpe que seus companheiros denunciam. Talvez aguarde o momento propício para entrar na farsa e cumprir seu papel de Chávez mambembe. Ou talvez perceba que a teoria do golpe não vai colar, que as massas não irão às ruas, e não entre, publicamente, na esparrela. Tomara que prevaleça o bom senso e Lula não jogue sua biografia no lixo da história. A Venezuela, a Bolívia, o Equador não são aqui.

Na semana em que começam os trabalhos da CPI dos Correios e uma vez definida, oficialmente, a estratégia petista de apelar para a teoria conspiratória e de acusar a mídia, as elites e a oposição, é urgente que as lideranças do PSDB e do PFL cobrem duramente a posição de Lula a respeito. O presidente tem que ser obrigado a se manifestar sobre o tal golpe em andamento. E Palocci, o que andará dizendo às lideranças empresariais e financeiras do país? Que há golpe ou que as instituições estão funcionando normalmente?

A sociedade também quer saber.

A farsa que se repete como piada (2)
Ana Maria Pacheco Lopes de Almeida (20/06/05 11:45)
O cenário propício à difusão da idéia de golpismo, de ameaça ao mandato presidencial, começou a ser armado há meses e com a participação de Lula. Na cerimônia de lançamento do ProUni, no Palácio do Planalto, no dia 13 de janeiro deste ano, Lula retomou seu velho discurso classista que opõe as "elites" aos "pobres".
A farsa que se repete como piada (3)
Ana Maria Pacheco Lopes de Almeida (20/06/05 14:38)
O verdadeiro drama de Lula e do PT não é o avanço do 'golpismo.' É o que foi exposto na pesquisa DataFolha, feita no último dia 16 e publicada ontem pela Folha de S. Paulo. A maioria absoluta dos eleitores petistas – 65% - acredita que há corrupção no governo Lula. Quase metade deles – 48% - acha que o PT pagava 'mensalão' a deputados. 77% dos petistas estão convencidos de que Lula tem muita ou alguma responsabilidade na corrupção.

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