Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, junho 20, 2005

PLÍNIO FRAGA: Ilusões perdidas

folha de s paulo
 RIO DE JANEIRO - Ouviam Lula 378 empresários no dia 23 de julho de 2002. Em ato de campanha, falava o líder das pesquisas, e aquela gente ouvia. Gente dada aos numerários. Gente boa e gente ruim, gente honesta e gente corrupta, seres humanos, enfim.
O então candidato petista afirma que o "império" americano estava em crise, porque George W. Bush havia "cometido falcatruas". Referia-se a acusações de que Bush, quando diretor de empresa texana, teria feito operações no mercado acionário com informações privilegiadas que lhe renderam US$ 16 milhões (no "mensalão" brasileiro dava para comprar o Congresso inteiro e sobrava troco respeitável).
À frente daqueles empresários, Lula desfraldaria a bandeira da ética petista, que lhe parecia tão cara -no sentido de quista, não no sentido monetário, claro. "O novo governo, se gastar melhor o pouco dinheiro que tem e atacar a corrupção, vocês vão perceber que se pode obter um superávit maior do que o governo está prevendo, sem precisar fazer nenhum grande sacrifício", disse Lula. O platéia não reagiu.
Era de um simplismo de dar dó. Pela falta de racionalidade, falta de conhecimento de causa, falta de noção, como dizem os jovens.
Mas não bastou. Lula seguiu adiante: "Só de ter um governo do PT, sobra pelo menos 10% a mais de dinheiro do Orçamento, porque a corrupção se reduz".
Alguém deveria ter interrompido Lula para dizer: "Menos, candidato, menos". Ninguém o fez. Olhando a planície do Planalto, com 77% dos petistas dizendo, segundo o Datafolha, que Lula tem alguma responsabilidade na corrupção à sua volta, o presidente deveria recorrer ao Balzac de "Ilusões Perdidas": "O fato não é nada por si mesmo; consiste inteiramente na idéia que os outros formam a seu respeito".

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