ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/PUBLICIDADE
Empresas do publicitário acusado por Roberto Jefferson receberam mais recursos públicos desde a posse; BB é o maior dos clientes oficiais
CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
MARTA SALOMON
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Suas empresas abocanharam cerca de R$ 150 milhões em contratos com cinco órgãos e estatais do Executivo e a Câmara. Desse total de verba, as agências ficam com um percentual variável como comissão. No caso do contrato com os Correios, essa parcela é de 13%, por exemplo.
O publicitário mineiro foi apontado pelo deputado federal Roberto Jefferson (PTB) como um dos "operadores" do "mensalão", suposta caixinha de R$ 30 mil que, de acordo com Jefferson, era paga pelo PT a deputados do PP e do PL. Os parlamentares negam.
No Banco do Brasil, principal cliente do empresário no governo, os gastos com publicidade cresceram 71% no ano passado em relação a 2003. Naquele ano, o banco estatal destinou R$ 153,6 milhões para despesas com publicidade. Em 2004, foram R$ 262,8 milhões. A DNA Propaganda, empresa de Marcos Valério, administrou um terço do valor (cerca de R$ 86 milhões só em 2004).
A verba supera em 18% os investimentos em mídia feitos pela administração direta do governo federal e estatais que não concorrem no mercado, como a Eletronorte, cuja conta publicitária também é da DNA Propaganda. O contrato com o Banco do Brasil foi assinado em 23 de setembro de 2003. Além da DNA, outras duas agências repartem o dinheiro: a Ogilvy e a D+ Brasil.
Dos R$ 262,8 milhões, R$ 25 milhões referem-se aos gastos com publicidade do Banco Popular, criado pela instituição no ano passado. Outros R$ 500 mil são da Fundação Banco do Brasil.
A DNA mantém contratos com a Eletronorte, assinado em 2001, e o Ministério do Trabalho, desde 1996, com renovação em 2001. A SMPB, outra empresa da qual Valério é sócio, detém as contas dos Correios (iniciada em novembro de 2003), Ministério dos Esportes (2001) e da Câmara dos Deputados (dezembro de 2003, durante a presidência do petista João Paulo Cunha). As cinco contas tiveram verba de R$ 64,6 milhões em 2004.
A assinatura do contrato da DNA com o BB aconteceu no dia 23 de setembro de 2003. Fernanda Karina Ramos Somaggio, ex-secretária de Marcos Valério, relatou em texto publicado pela "IstoÉ Dinheiro" que nesta data o publicitário teria "fechado a suíte presidencial" do hotel Sofitel para uma festa para oito pessoas, "com gente do PT". A ex-secretária está sendo processada por Valério. Em seu depoimento à Comissão de Ética da Câmara, Jefferson disse que o "mensalão" teria começado em setembro de 2003.
No ano passado, o Banco do Brasil envolveu-se em dois episódios polêmicos com o PT. Em julho, comprou 70 mesas, a R$ 1.000 cada, para um show da dupla Zezé di Camargo e Luciano. A apresentação tinha como objetivo levantar fundos para o PT. A aquisição dos ingressos foi intermediada pela DNA e teve autorização do diretor de marketing do banco, Henrique Pizzolato.
O Banco do Brasil também patrocinou, no ano passado, um festival no Mato Grosso do Sul criticado pela oposição. Negociada pessoalmente pelo governador Zeca do PT, a cota do banco estatal foi de R$ 2,5 milhões.
Correios
Em 6 de agosto de 2003, os Correios abriram sua concorrência para publicidade, no valor global de R$ 72 milhões, a ser dividido em três empresas contratadas.
Pela complexidade e número de empresas interessadas (42 retiraram o edital), a licitação se estendeu por toda a segunda metade de 2003. O resultado foi publicado no "Diário Oficial" no dia 2 de outubro -a SMPB Comunicação ficou em terceiro lugar.
Na apresentação das propostas de preço, a empresa mais bem avaliada foi a Duda Mendonça, do publicitário baiano homônimo. Ao final, foi dada a oportunidade para que as três empresas mais bem qualificadas na proposta técnica declarassem poder executar os serviços pelos preços da Duda -o que foi aceito.
Câmara
No final de 2003, a SMPB Comunicação, registrada em nome da mulher de Valério, Renilda Fernandes Souza, venceu a licitação na Câmara pelo critério da melhor técnica. A concorrente Artplan havia oferecido o menor preço, mas, a exemplo da concorrência dos Correios, foi dada à SMPB, que ficara em terceiro no quesito preço, a oportunidade de declarar que poderia executar os serviços pelos mesmos custos da Artplan.
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