o globo
Circo
O PSDB e o governo estão conversando. Os tucanos dão ao PT o refresco que não receberam dele. De certa maneira, evitam que o circo pegue fogo para prorrogar o espetáculo.
Retardatário
Por determinação do procurador Mário Lúcio Avelar, foi preso em Brasília e posteriormente transferido (algemado) para Cuiabá o engenheiro Antonio Carlos Hummel, diretor de Florestas do Ibama.
Acusado de tenebrosas traficâncias era a maior autoridade a bordo entre os 93 passageiros do camburão da Operação Curupira.
Quando o procurador soube que a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, não queria falar do funcionário por não ter visto o inquérito onde estariam listadas as acusações contra ele, o doutor Avelar respondeu: "Se ela quiser, eu envio para ela. Já mandei uma cópia para a Polícia Federal, é só ela pedir e vai entender tudo".
Um dia depois, o procurador pediu a libertação de Hummel. O engenheiro, com 23 anos de ficha limpa no serviço público, gramou quatro noites na cadeia.
No último dia 7 a Comissão de Processo Disciplinar instaurada no Ibama, solicitou ao procurador uma "cópia integral" do inquérito. (Ofício CPAD n 1/2005.)
Até o fim do expediente de quinta-feira, a Comissão não recebera resposta, nem a ministra qualquer relatório.
Duros, não
Durante o primeiro ano de governo de Lula existiu no Palácio um negócio denominado "núcleo duro". O que era, não se sabe, mas uma coisa é certa: "duro", não era. O carango do doutor Delúbio está aí para mostrar que nunca neste país se fez tanto pelos pobres.
Sem sombra
Um curioso da vida de Brasília esteve numa cerimônia perto do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Prestou atenção na estampa e comprovou o que suspeitava: ele não tem sombra. Quando vai a um lugar ou diz uma coisa, nem a sombra está por perto.
Com o sangue-frio dos grandes criminalistas, Thomaz Bastos consegue ver o que acontece do outro lado da montanha.
Choldra cassada
A ba$e de apoio do governo não parece disposta a cassar a turma do mensalão. Se ninguém se mexer, vão cassar o direito dos eleitores de mandar para a Câmara os candidatos de sua escolha.
Nunca é demais repetir: a tal de "lista fechada" ou "voto de lista" proposto na reforma política destina-se a fazer com que a patuléia vote numa lista organizada pelo partido. E quem faz a lista? Companheiros como José Dirceu no PT e Roberto Jefferson no PTB.
Exagero? Tudo bem, as listas serão conhecidas antes da votação e os partidos haverão de montá-las democraticamente. No PT opinarão, entre outros, o secretário-geral, Sílvio Pereira, e o tesoureiro, Delúbio Soares. No PL o interminável Valdemar Costa Neto.
Nas luzes
Aumentou a visibilidade do professor Marco Aurélio Garcia, assessor internacional de Lula. Tem a virtude da calma e conhece a alma petista como ninguém.
Delúbio tem a idade do Brasil
Delúbio Soares não sabe, mas é um personagem crônico da História brasileira. Muda de nome, de gostos e de alcance, mas vive anexo ao poder enquanto usufrui da graça do rei. D. Pedro I teve o Chalaça. Seu filho foi ajudado pelo mordomo Paulo Barboza (a quem defenestrou para São Petersburgo). Getúlio Vargas, com todas as suas cautelas, confiou em Gregório Fortunato. João Goulart teve Eugênio Caillard. Gregório foi assassinado e Caillard se matou. Muitos outros, discretos, passaram do poder para o esquecimento .
Não há força no universo capaz de manter Delúbio Soares na posição de proeminência que cultivou. Seus charutos Cohiba e sua familiaridade com o Planalto prenunciavam um naufrágio. Ele não era o navio, era o iceberg. Referindo-se ao acesso que tinha na administração, jactou-se: "Com burocrata de ministério? É só ligar e marcar para quatro, cinco dias depois."
Comprou uma propriedade com dinheiro de sacola. É professor da rede pública de Goiás (R$ 1.242 mensais), mas não dá aulas porque foi emprestado ao sindicato de sua categoria, onde não dá expediente. Como tesoureiro do PT, em 2004 recebia R$ 5 mil mensais.
Agora o repórter Rodrigo Rangel achou um Toyota Corolla 2005, registrado em seu nome, guardado na garagem de sua irmã, em Goiânia. Na tabela, custa R$ 79 mil.
São 63 salários de um professor goiano.
Dirceu, o guerrilheiro sem rastro
José Dirceu deu um tiro no pé ao chamar sua sucessora, Dilma Rousseff, de "camarada de armas". Trouxe para o presente uma radicalização vencida que não interessa a ninguém, muito menos ao governo. Lula começou sua carreira de sindicalista nos anos 70 distanciando-se desse tipo de militantes.
Dirceu administra suas camaradagens de armas como se a história do período girasse em torno de sua inesgotável figura. A militância de Vanda/Dilma no Comando de Libertação Nacional, o Colina, e na Vanguarda Armada Revolucionária Palmares, é coisa sabida. A dele, pelos seus depoimentos, é e não é.
Vanda/Dilma participou do planejamento de assaltos e guardou Carlos Lamarca com seu aparelho. No apartamento viveu também Iara Iavelberg, que viria a namorar o ex-capitão. Os militantes da VAR nadavam nos US$ 2,6 milhões de dólares tomados ao espólio do cleptocrata paulista Adhemar de Barros. Um dia Iara levou Vanda/Dilma para uma aventura da vaidade. Cortaram cabelo no salão Jambert da Ataulfo de Paiva, o preferido da grã-finagem carioca, onde servia-se champagne aos clientes. (Essa história está muito bem contada no livro "Iara", da repórter Judith Lieblich Patarra.)
A figura de José Dirceu como o guerrilheiro heróico das montanhas cubanas e da clandestinidade brasileira faz menos nexo. O melhor documento sobre esse período é uma entrevista ele que deu em 1999 ao repórter Euler Belém:
"O senhor participou da luta armada?"
"Não. Eu não participei da luta armada."
Adiante, Dirceu é mais preciso: "Nunca fiz nada de expressivo na área militar, nunca tive apego a armamentos."
Passam-se alguns parágrafos ele diz que "participei da luta armada no Brasil, em 1970 e 1971, com o Molipo".
O comissário já escreveu pelo menos dez capítulos de um provável livro de memórias. Nele, poderá contar como conseguiu participar e não participar de uma mesma coisa.
(O Molipo, Movimento de Libertação Popular, foi um grupo formado em 1970 em Cuba. Tinha cerca de 30 pessoas. Pelo menos 18 regressaram ao Brasil. Dezesseis morreram. Sua história está no livro "O Apoio de Cuba à Luta Armada no Brasil", da professora Denise Rolemberg, a quem infelizmente Dirceu não quis dar um depoimento.)
Entrevista:O Estado inteligente
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