Entrevista:O Estado inteligente

sábado, junho 25, 2005

Muito barulho por nada

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Não há complô das elites, não há movimentos
sociais que incendeiem o Brasil. Não há também
José Dirceu, o revolucionário, mas um fantasma
de uma idéia que morreu


Mario Sabino

 

Joedson Alves/AE
EFEITO
Promovido a povo, Dirceu chega à Câmara cercado por militantes que mataram o expediente na repartição

O ex-ministro José Dirceu, apeado da Casa Civil cinqüenta horas depois do ultimato do deputado Roberto Jefferson ("Dirceu, se você não sair daí rápido, você vai fazer réu um homem inocente, o presidente Lula"), reassumiu seu cargo de deputado federal. Promoveu-se a povo não dentro daquele espírito de humildade redentora, tão ao gosto da esquerda romântica. Dirceu fez-se povo, mas de acordo com a definição magistral de William Shakespeare, na peça Coriolano – "uma fera de muitas cabeças". De volta à condição de deputado, conclamou seus companheiros de partido e os movimentos sociais a fazer atos nas ruas, nas praças públicas, fábricas, escolas, assentamentos. "Quero, em nome do PT, convocar todas as forças políticas e sociais, não só para defender, mas para discutir os rumos do governo", disse ele. Dirceu parece ter-se livrado das tentações burguesas, do champanhe Cristal (900 reais a garrafa) e do tinto chileno Almaviva (250 reais) que tanto o deslumbravam no poder, e reencontrado, no âmago da sua história pessoal, o fervor incendiário. Chamou até mesmo a ministra Dilma Rousseff, que o substituiu na Casa Civil, de "companheira de armas" – uma licença poética, evidentemente, visto que ele passou o período mais duro da ditadura militar refestelado em Cuba, enquanto ela apanhava nos porões da repressão, na condição de comandante guerrilheira de uma facção esquerdista.

É um novo velho Dirceu este que se reapresenta na Câmara dos Deputados. E com efeitos coreográficos especiais. Na sua estréia, fez-se acompanhar de um contingente de militantes embandeirados, que mataram expediente nas repartições para aplaudir das galerias o discurso do seu Danton. "Dirceu é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo", gritava a turba, com um jeito ameaçador de donos da rua. A sustentar esse coro está o argumento, ao qual se agarram como a uma bóia os caciques petistas com medo de submergir na lama, de que tudo (as denúncias, os esquemas, as entrevistas bombásticas) não passa de um complô contra o "governo operário" – complô das "elites", decerto. As mesmas que mesmerizaram Dirceu com o champanhe Cristal, as canetas Montblanc, as ofertas de mulheres de capa de revista.

 

Sérgio Lima/Folha Imagem
A NOVA MINISTRA
Ele chamou Dilma de "companheira de armas": o que é isso, companheiro?
Quanta falácia, companheiros (de armas, de charutos). Ou, para reevocar o velho Shakespeare, quanto barulho por nada – que é também uma maneira de ficar seletivamente surdo. Não há complô, e prova disso é que muitas das histórias escabrosas brotam do seio do "governo operário". Fazer o quê, se foram escolhidas "más companhias"? (A contribuição é do petista Olívio Dutra). Não há, também, movimentos sociais que possam incendiar o Brasil. O mais rebelde deles, o MST, é um bezerro satisfeito, que mama nas tetas do Estado, arregimenta miseráveis urbanos com a promessa de terras e cujos líderes só tiram o traseiro dos assentamentos para arrancar um dinheirinho em Brasília. E, por fim, não há Dirceu. Pelo menos não aquele que se apresenta como Danton. Esse desceu a rampa. Tornou-se um fantasma de contornos fugidios de uma idéia que morreu há um quarto de século. Felizmente

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