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"No último dia 7, discursando no Fórum Global contra a Corrupção, o presidente Lula declarou ser o principal guardião das instituições brasileiras. Disse também que não protegeria ninguém nem acobertaria nenhum ilícito. E foi só.
De lá para cá, a crise se agravou. Com a demissão de José Dirceu da Casa Civil, Lula afastou do Planalto um dos principais ingredientes da crise política. Mas não é suficiente.
Depois da instalação da CPI dos Correios, as investigações vão tomando vida própria. E a cada dia vão sendo feitas novas descobertas em matéria de apropriação do dinheiro público.
Finalmente, depois de dois dias de suspense, o presidente da Republica falou à Nação. Foi um pouco frustrante, mas pelo menos Lula abandonou aquele ar de extra-terrestre das últimas semanas. Cancelou uma visita ao Rio de Janeiro, cancelou uma viagem ao exterior, dando a impressão de que está preocupado em encontrar saídas para a crise política.
Mas nada disso apareceu no discurso de Sua Excelência.
O pronunciamento foi uma peça impecável de marketing político. Não é à toa que o marqueteiro-mor de Lula se instalou em Brasília desde anteontem.
Nada foi deixado ao improviso. Começando pelo guarda-roupa. Terno cinza, gravata listrada em tons de cinza e branco, broche com a bandeira do Brasil na lapela. Nada de gravata vermelha, nada de estrela do PT. Lula ocupava quase toda a tela da TV, com o fundo desfocado, para que nada desviasse a atenção do telespectador.
O presidente esteve sério o tempo todo e não se afastou uma linha sequer do texto que escreveram para ele, para que não houvesse o menor risco de uma gafe ou um escorregão.
Fez uma prestação de contas e incluiu o combate à corrupção no rol das medidas tomadas por seu governo, onde entrou até a transposição das águas do rio São Francisco.
Sobre o combate à corrupção, especificamente, listou ações do governo, elogiou os ministros Marcio Thomas Bastos, da Justiça, e Waldir Pires, da Controladoria Geral da União.
Mas o presidente não disse uma palavra sequer que confortasse a opinião pública no tocante à crise política. Não anunciou mudanças, não revelou como pretende administrar a crise daqui para frente.
Em suma, a economia vai bem, as exportações continuam exuberantes, os programas de proteção social, segundo o presidente, também vão muito bem.
Mas a crise é política e moral, e sobre isso, o presidente Lula foi muito vago.
Um pronunciamento genérico, que não respondeu às perguntas da sociedade brasileira."
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